Correndo o Risco
Correndo o Risco é o terceiro álbum de estúdio da banda brasileira Camisa de Vênus, gravado em agosto e setembro de 1986, no Estúdio RAC, em São Paulo, e lançado pela gravadora WEA, em 7 de novembro de 1986, com distribuição pela RCA Victor.
Correndo o Risco | |||||||
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Álbum de estúdio de Camisa de Vênus | |||||||
Lançamento | 7 de novembro de 1986 | ||||||
Gravação | Em agosto e setembro de 1986 | ||||||
Estúdio(s) | Estúdio RAC, em São Paulo | ||||||
Gênero(s) | |||||||
Duração | 37:10 | ||||||
Idioma(s) | Português | ||||||
Formato(s) | |||||||
Gravadora(s) | WEA | ||||||
Produção | Pena Schmidt | ||||||
Cronologia de álbuns de estúdio por Camisa de Vênus | |||||||
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Singles de Correndo o Risco | |||||||
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Antecedentes
editarO lançamento do primeiro álbum ao vivo da banda - Viva - havia sido resultado de um acordo entre a banda, a gravadora deles na época - a RGE, e a nova gravadora deles - a WEA. Como a banda devia mais um álbum à RGE por força de contrato, ficou acordado o lançamento de um álbum ao vivo, considerado o meio mais rápido de cumprir tal acordo. O álbum foi um sucesso, vendendo 180 mil cópias no ano do seu lançamento e ajudando a estabelecer a imagem da banda entre público e crítica.[1][2][3]
Gravação e produção
editarA produção transcorreu nos meses de agosto e outubro de 1986, sendo o álbum gravado e mixado no Estúdio RAC, em São Paulo, com o comando de Pena Schmidt: a banda inaugurou a nova aparelhagem de 24 canais do estúdio.[4] As gravações contaram com diversas participações de músicos, como: Armando Ferrante Júnior, nos Teclados; Sérgio Kaffa e Constant Papineanu, no piano; Manito, no Saxofone e no órgão Hammond; Mica, na harmônica; Papete, na Tumbadora; Ricardo Henrique, na guitarra elétrica; e Álvaro Gonçalves, na guitarra e, também, no violão. Além desses músicos, a banda resolveu arranjar para orquestra uma de suas músicas: "A Ferro e Fogo" contou com arranjos e regência de Armando Ferrante Junior, e com uma pequena orquestra de mais de 30 músicos.[5][6]
Resenha musical
editarO álbum abre com "Simca Chambord", um dos grandes sucessos desse disco, que é um "rock autêntico", tendo como tema a deterioração da classe média durante os anos de ditadura militar no Brasil.[4][7] Em seguida, "Mão Católica" fala sobre a culpa cristã, ecoando a experiência de Marcelo Nova em semi-internato, quando novo. Então, temos a bem-humorada "Deus me Dê Grana", que foi outra dos grandes sucessos do disco.[8] O primeiro lado fecha com uma versão punk rock de "Ouro de Tolo", de Raul Seixas, que foi considerada absolutamente atual na época do seu lançamento, do que é demonstração a atualização mínima feita pela banda na letra: "Corcel 73", por "Monza 86"; "tobogã", por "videogame"; "cidade maravilhosa", por "cidade marabichosa"; etc.[4][8]
O lado B inicia com "Só o Fim" - mais um dos sucessos do álbum - que tem a letra elogiada, falando do apocalipse,[4] e cujo refrão faz menção à canção dos The Rolling Stones, "Gimme Shelter".[3] Em seguida, temos a direta "O que É que Eu Tenho de Fazer?", na qual a banda brinca com Reagan, os punks e os críticos musicais. Por fim, o disco termina com o canto épico "A Ferro e Fogo", que conta com uma orquestra tocando o arranjo do maestro Armando Ferrante Júnior.[4]
Recepção
editarLançamento
editarO álbum foi lançado pela gravadora WEA em 07 de novembro de 1986, com distribuição pela RCA Victor.[6] Antes do seu lançamento, o disco já tinha 200 mil cópias encomendadas e, com a forte divulgação da gravadora, o álbum acabaria vendendo mais de 300 mil cópias, rendendo um disco de platina para a banda.[9] Para a promoção do disco, foi feita uma festa de lançamento em um prostíbulo, que continuou funcionando enquanto a festa ocorria, com a banda tocando entre as garotas de programa que subiam para fazer performances - como "pole dance", por exemplo - no palco.[10] Além disso, foram lançados 3 singles do disco: Simca Chambord e Só o Fim, em novembro de 1986; e Deus me Dê Grana, em 1987.[11] Essas 3 canções também geraram videoclipes para veiculação nas estações de TV.[12][13][14] Apesar disso, o álbum sofreu com a proibição da execução radiofônica de "Mâo Católica", pelo Departamento de Censura.[4]
Fortuna crítica
editarCríticas profissionais | |
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Avaliações da crítica | |
Fonte | Avaliação |
Estado de S. Paulo (1986) | Favorável[4] |
O Globo (1986) | Favorável[8] |
Veja (1986) | Favorável[7] |
Alberto Villas, escrevendo para O Estado de S. Paulo, vaticina que este é o álbum mais bem produzido do Camisa até o momento do seu lançamento. Elogia muito o disco, escrevendo que a banda lança "um disco para balançar o coreto", indo contra "um mar de água com açúcar" e "contra a maré dos modismos". Assim, é um disco coerente, que mostra que a banda é capaz de tudo, mostrando um rock and roll nervoso e que incomoda muita gente.[4] Mauro Dias, em texto assinado para o diário carioca O Globo, analisa disco e banda, elogiando as qualidades técnicas e as letras instigantes do primeiro, e a performance explosiva no palco da segunda. Em compensação, o jornalista chama a sonoridade de "morna": conclui que "o Camisa de Vênus está sempre no palco, nunca no vinil". Ainda assim, elogia o uso de metáforas para simbolizar o momento em que vivia-se, com a euforia da classe média com o Plano Cruzado.[8] Okky de Souza, escrevendo para a Revista Veja, elogia o álbum dizendo tratar-se do "mais comercial e inteligente" trabalho do grupo até então, no qual tocam um rock básico, em que "a urgência e a espontaneidade compensam a ausência de técnica". Elogia, especialmente, as letras de Marcelo Nova, chamando-as de "mais elaboradas".[7]
Relançamentos
editarEsta secção necessita de expansão. |
Faixas
editarLado A | ||||||||||
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N.º | Título | Compositor(es) | Duração | |||||||
1. | "Simca Chambord" | Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova / Miguel Cordeiro | 4:05 | |||||||
2. | "Mão Católica" | Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova | 3:27 | |||||||
3. | "Morte Ao Anoitecer" | Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova | 3:15 | |||||||
4. | "Deus me Dê Grana" | Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova | 4:10 | |||||||
5. | "Ouro de Tolo" | Raul Seixas | 3:20 |
Lado B | ||||||||||
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N.º | Título | Compositor(es) | Duração | |||||||
6. | "Só o Fim" | Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova | 4:27 | |||||||
7. | "O que É que Eu Tenho de Fazer?" | Marcelo Nova / Robério Santana | 4:00 | |||||||
8. | "Tudo ou Nada" | Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova | 2:36 | |||||||
9. | "A Ferro e Fogo" | Karl Hummel / Gustavo Mullem / Marcelo Nova | 7:50 | |||||||
Duração total: |
37:10 |
Certificações
editarPaís | Provedor | Certificação | Vendas |
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Brasil | ABPD | Platina[9][3] | : mais de 300 mil[9][3] |
Créditos
editarCréditos dados pelo Discogs[11] e pelo IMMUB.[15]
Músicos
editarCamisa de Vênus
editar- Marcelo Nova: Vocal
- Karl Hummel: Guitarra base
- Gustavo Mullem: Guitarra solo
- Robério Santana: Baixo elétrico
- Aldo Machado: Bateria
Músicos adicionais
editar- Teclado: Armando Ferrante Júnior
- Piano: Sérgio Kaffa (faixa 1), Constant Papineanu (faixa 6)
- Saxofone: Manito (faixa 1)
- Órgão Hammond: Manito (faixa 4)
- Harmônica (faixa 2): Mica
- Tumbadora: Papete (faixa 6)
- Guitarra elétrica: Ricardo Henrique (faixa 3) e Álvaro Gonçalves (faixa 9)
- Violão: Álvaro Gonçalves (faixa 9)
Orquestra
editar- Violino: Elias Slon (Spalla), Jorge Izquerda, Audina Nunez, Germano, John Spindler, Tânia Camargo, Caetano Domingos, Alberta Jaffé
- Viola: Newton Servulo, Michel Verebes, Alwin Delsner e Marcelo Jaffé
- Violoncelo: Robert Svetholz e Julio Ortiz
- Contrabaixo: Jorge Oscar
- Flauta: Toninho Carrasqueira e Rogério Zerlotti
- Clarinete: Nailor Azevedo (Proveta)
- Oboé: Kátia
- Trompete: Francês, Donizeti, Azevedo
- Coral masculino: Clóvis, Paulinho, Rubens, Caio Flávio
- Coral feminino: Cláudia, Tânia, Cidinha, Vera
Ficha Técnica
editar- Direção artística: Liminha
- Produção: Pena Schmidt
- Arranjos e regência: Armando Ferrante Junior
- Cópias e arregimentação: Sérgio Porto
- Engenheiro de gravação e mixagem: Ricardo Carvalheira (Franjinha)
- Assistentes de gravação e mixagem: Mica, Cacá e Walter
- Direção de arte gráfica: CVS
- Concepção da capa: Marcelo Nova
- Fotos: Bob Wolfenson
- Produção de figurino: Teca Costa Neto
- Vestuário: Universo em Desfile
- Maquiagem: Affonsso de Gouveia
- Cabeleireiro: Murilo Souza (Della Lastra)
Referências
- ↑ Alexandre, 2017.
- ↑ Dapieve, 1995, pp. 160-164.
- ↑ a b c d Barcinski e Nova, 2017.
- ↑ a b c d e f g h Villas, 1986.
- ↑ Bahiana, 1986.
- ↑ a b CAMISA corre o risco e lança um novo disco. Folha de S. Paulo, São Paulo, 11 nov. 1986. Ilustrada, p. 54.
- ↑ a b c Souza, 1986.
- ↑ a b c d Dias, 1986.
- ↑ a b c Thales de Menezes (14 de julho de 2015). «Fora de catálogo, discos do Camisa de Vênus chegam a R$ 950». Folha de S.Paulo. Consultado em 15 de abril de 2019
- ↑ Leonardo Rodrigues (23 de outubro de 2017). «Em livro, Marcelo Nova lembra dia em que "salvou" corpo de Raul Seixas». Uol. Consultado em 15 de abril de 2019
- ↑ a b «Camisa de Vênus - Correndo o Risco». Discogs. N.d. Consultado em 15 de abril de 2019
- ↑ «O Camisa de Vênus está de volta aos palcos hoje em São Carlos». Fala Porto. 26 de maio de 2017. Consultado em 15 de abril de 2019
- ↑ «Camisa de Vênus canta "Simca Chambord"». Memória Sindical. 2 de março de 2017. Consultado em 15 de abril de 2019
- ↑ Paulo Guilherme (17 de maio de 2008). «'O Simca Chambord simbolizava a esperança', diz Marcelo Nova». G1
- ↑ «LP/CD Correndo o Risco». IMMUB. N.d. Consultado em 15 de abril de 2019
Bibliografia
editar- ALEXANDRE, Ricardo. Dias de Luta: O rock e o Brasil dos anos 80. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2017.
- BAHIANA, Ana Maria. Do front e adjacências. Publicado em O Globo, em 28 de agosto de 1986, p. 3.
- BARCINSKI, André e NOVA, Marcelo. O galope do tempo: conversas com André Barcinski. São Paulo: Benvirá, 2017.
- DAPIEVE, Arthur. BRock: o rock brasileiro dos anos 80. São Paulo: Editora 34, 1995.
- DIAS, Mauro. Nada escapa ao Camisa de Vênus. Publicado em O Globo, em 17 de novembro de 1986, p.
- DUMAR, Deborah. O estouro do camisa de vênus. Publicado em O Globo, em 08 de abril de 1987, p. 4. 1.
- SOUZA, Okky de. Postura radical. Publicado em Revista Veja, edição 951, de 26 de novembro de 1986, p. 146.
- VILLAS, Alberto. Os filhos de Raul Seixas. Publicado em O Estado de S. Paulo, em 11 de novembro de 1986, p. 1.
CAMISA corre o risco e lança um novo disco. Folha de S. Paulo, São Paulo, 11 nov. 1986. Ilustrada, p. 54.