Documento Especial

Documento Especial (com subtítulo: "Televisão Verdade") foi um programa jornalístico brasileiro exibido entre os anos de 1989 e 1998 em diversas emissoras de televisão. Foi apresentado como um formato inovador por apresentar de maneira nua e crua os acontecimento em formato documentário.

Documento Especial: Televisão Verdade
Informações gerais
Formato programa jornalístico
Gênero Jornalismo
Criado por Rede Manchete Nelson Hoineff
Dirigido por Nelson Hoineff
Apresentado por Roberto Maya
Narrado por Roberto Maia
Tema de abertura Instrumental
Tema de encerramento Instrumental
País de origem Brasil
Idioma original (em português)
Temporadas 7
Episódios vários
Produção
Produtor Elaine Mattos
Duração 30 minutos (1989-1990) 60 minutos (1990-1998)
Exibição original
Emissora Brasil Rede Manchete (1989 - 1992)
SBT (1992 - 1995)
Transmissão 02 de agosto de 1989 - 19 de outubro de 1998
Programas relacionados
Câmera Manchete

Antecedentes

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O formato do programa jornalístico surgiu a partir de uma discussão entre Nelson Hoinnef, então editor-chefe do “Segunda Edição“, e seu chefe imediato, que era o diretor executivo de jornalismo da Manchete, Mauro Costa. A partir disso, Hoinnef pediu demissão da emissora, mas Pedro Jack Kapeller não aceitou, e encomendou ao jornalista um projeto novo. [1]

A ideia do programa de reportagens surgiu a partir da observância de que, mesmo com a abertura política e o fim da censura, as reportagens se encontravam em lugar comum (sem aprofundar e sair do básico imposto pela ditadura), além de estar extremamente irritado com o elitismo imposto na Rede Manchete que não mostrava as mazelas da população brasileira. Eu quis criar um projeto que era a antítese da Manchete. Peguei uma folha de papel e, do lado direito, coloquei tudo que me incomodava na Manchete e, do lado esquerdo, o contrário disso. Exemplo: me incomodava não poder falar sobre gente feia, e do lado esquerdo escrevia: farei um programa que vai falar sobre gente feia. Entreguei o projeto, o Jaquito me deu um mês e foi feito um piloto [2]

Formato

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Com um formato similar ao consagrado Globo Repórter e ao 60 Minutes, o Documento abordava semanalmente um assunto pertinente à vida da sociedade, mas tinha uma notável diferença na linguagem: se despia dos limites estéticos da atração global, e de outras atrações do gênero da própria Manchete, como o Programa de Domingo.

O jornalístico se propunha a ir muito além do que normalmente os programas jornalísticos mostravam na TV, dando prioridade para assuntos polêmicos, guetos, submundos, e cenas ultrarrealistas. A proposta era mostrar a verdade nua e crua. Para marcar esse posicionamento, adotou desde a estreia a assinatura “Televisão Verdade”.

Exibição

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Rede Manchete (1989-1992)

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O programa estreou numa quarta-feira ás 23h30, com a carga da reportagem nua e crua, numa linguagem de documentário estilo cinema verité, Documento Especial abordou a prostituição, os travestis, o suicídio, as drogas, a marginalidade das ruas e a criminalidade em várias manifestações.Problemas, situações e personagens em geral apagados do belo país imaginário construído pela Rede Globo - em que os pobres são classe média, e a classe média mora como classe alta - tiveram direito à imagem e a palavra.[3] A repercussão do programa, além das reportagens contriubuiu através da mudanças para as sextas-feiras após Kananga do Japão primeiramente e do sucesso Pantanal as 22h30 da noite, chegando a liderar com picos de 47 pontos.

Reportagens marcantes deste período foram "Os Pobres vão à Praia", no qual mostrava cidadãos preconceituosos, "Muito Feminina", que trazia questões ligadas ao lesbianismo (um assunto tabu na época), "O Suicídio dos Kaiowá", "Igreja Universal" (uma das primeiras denúncias sobre exploração e de más práticas da entidade religiosa), Ufologia (trazia dois ufólogos discutindo sobre o tema), "Os pobres vão a praia" [4] e "Vida de Gordo" (o que teve a maior audiência nesta fase), entre outros. Saiu do ar em 1992, quando o contrato com a emissora expirou e não foi renovado pois a emissora passou por uma das maiores crises financeiras da Manchete e que cul minaria no mês seguinte na sua fracassada venda para o Grupo IBF, Nelson Hoineff aceitou o convite de Silvio Santos para transferir o programa para o SBT.

Foi substituído por uma versão genérica chamada Manchete Especial: Documento Verdade, que durou menos de 1 ano, pois não obteve o mesmo sucesso.

SBT (1992 -1995)

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O programa migrou para emissora criada por Silvio Santos e liderada à época por Luciano Callegari com a promessa de ampliar o sucesso do programa. A abordagem continua similar, porém um pouco mais leve do que na emissora anterior, por ser uma emissora popular, mas mesmo assim não deixou de a causar controvérsia. O primeiro episódio desta nova fase seria "O País da Impunidade", onde abordaria o Caso Collor, repercutindo as denúncias e o impeachment que estava próximo, porém, o episódio foi censurado por medo da repercussão com o ainda presidente Fernando Collor de Mello, que já havia feito censura contra a novela O Marajá. [5] Com isso, o primeiro episódio foi sobre "Saudade". Ainda neste período, um dos programas mais polêmicos foi "A Cultura do Ódio", que rendeu processos contra a sua equipe alegando apologia ao nazismo, além da acusação que as entrevistas com neonazistas eram forjadas com pessoas famosas e políticos. Após isso o programa decidiu investir em reportagens conceituais, como ""Orgulho Gay"", ""Condomínios"" "Vidas Secas", que inclusive venceu alguns prêmios internacionais. [6] [7].Em 1995, Hoineff se desentendeu com o SBT, alegando censura por parte da emissora em alguns temas e assim com propostas da CNT, BAND e até da Rede Globo (mas não para o programa), seguiu para Rede Bandeirantes. O SBT aproveitou e lançou no mesmo ano, o SBT Repórter.

Band (1997-1998)

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Depois de quase dois anos fora do ar, o Documento Especial retorna, desta vez na Band, onde ficou no ar por cerca de dez meses. Não houve o mesmo impacto de suas fases anteriores e nem reportagens marcantes (mesmo com a segunda parte de Os Pobres Vão a Praia II), o que culminou em seu cancelamento em 19 de outubro de 1998.

Repercussão

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O programa quebrou paradigmas por ser fora do comum do jornalismo, sendo tachado com Sensacionalista por apresentar o chamado mundo-cão, mas criou filhotes como SBT Repórter, Na Rota do Crime, mudanças no Globo Repórter e até no Fantástico.

Em 2007, após quase 10 anos da interrupção do programa, o Canal Brasil passou a veicular as reportagens históricas do programa, inclusive o inédito "O País da Impunidade" realizado em 1992, no SBT e nunca exibido.

Em 2015, foi criado um canal do Youtube, onde foi publicado todas as reportagens do programa, causando reações e repercutindo de maneira incrível o jornalístico, apontando a coragem e a força do programa [8]

O jornalista Nelson Hoineff, em entrevista para o site "TV História", refletiu sobre o programa e sua repercussão de um trabalho árduo e desafiador e se ele se enquadraria no dias atuais: "Eu não sei se teria [Documento especial hoje em dia] por dois motivos. O primeiro seria o custo do programa e o segundo seria a inteligência do programa. ‘Documento’ era um programa muito inteligente e a televisão está cada dia mais burra. O nível de certos programas é assustador. Gosto de procurar e assistir coisas novas e fica espantado com o nível de tudo que vejo. E eu exijo muita liberdade e hoje essa liberdade não é mais dada a ninguém. Mas até hoje batalho para o programa voltar ao ar. [9]

""Hoje o programa é praticamente inexistente devido problemas judiciais, alegações de censuras e perseguições como um todo. A ousadia que a cúpula da Manchete teve, com um olhar aguçado, em um país recém saído da ditadura militar, foi responsável pelo estilo jornalístico mais informal que só começou a ser mais explorado no Brasil em meados de 2004."

Referências