Dordio Gomes

pintor português

Simão César Dórdio Gomes (ou Dordio Gomes[1][2]) (Arraiolos, 26 de julho de 1890Porto, 12 de julho de 1976) foi um pintor modernista português.

Dordio Gomes

Fotografia de Dórdio Gomes, publicada no Album Alentejano, de 1931.
Nascimento 26 de julho de 1890
Arraiolos
Morte 12 de julho de 1976 (85 anos)
Porto
Nacionalidade português
Ocupação pintor

Biografia

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Estudou na Academia Real de Belas Artes, onde foi aluno de Luciano Freire e Veloso Salgado, tendo-se formado em Pintura Histórica em 1910. Nesse ano parte para Paris, como bolseiro, frequentando a Academia Julian e as aulas de Jean-Paul Laurens, mas a bolsa é anulada em 1911 por razões a que foi totalmente alheio e Dordio Gomes volta a residir em Arraiolos.

Regressa a Paris em 1921 para uma permanência de 5 anos; frequenta a Escola Nacional de Belas Artes de Paris e o ateliê de Ferdinand Cormon. Participa no Salon d’Automne de 1922 em Paris. Viaja pela Bélgica, Suíça, Holanda e faz uma estadia de 8 meses em Itália, onde o conhecimento da obra dos grandes mestres lhe desperta o interesse pela pintura a fresco (importante para o entendimento da sua obra final). A pintura de Dordio altera-se através do contacto com as novas correntes internacionais.

Em conjunto com Henrique Franco, Alfredo Miguéis, Francisco Franco e Diogo de Macedo, organiza e participa na exposição Cinco Independentes, 1923, (SNBA) – em que também participam, como convidados Mily Possoz, Eduardo Viana e Almada Negreiros, que se tornará num marco importante na afirmação do modernismo na década de 1920.

Em 1933 fixa-se no Porto. A partir de 1934 e até à data da sua reforma, em 1960, leciona na Escola de Belas-Artes do Porto. De "ardente e comovedora simpatia"[3], afável e apaixonado pela arte e pelo ensino, irá realizar "uma notável obra docente, promovendo uma geração de pintores que se distinguiu nos anos 40 e 50"[4].

Tem colaboração artística em diversas publicações periódicas entre as quais a II série da revista Alma nova [5] (1915-1918) e a Contemporânea[6].

A 18 de novembro de 1960, foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[7]

 
Éguas de manada (1929), óleo sobre tela, 106 x 126 cm, no Museu Nacional de Arte Contemporânea

Embora tenha sido aluno de Luciano Freire e Veloso Salgado, o seu trabalho inicial está marcado pela influência do naturalismo de Malhoa mas, mais ainda, pela obra exemplar de Columbano, "o que levou os primeiros críticos a considerá-lo aluno deste grande mestre"[8].

Ao longo da segunda permanência em Paris a sua pintura sofre um redirecionamento. Não são muitas as obras realizadas nestes 5 anos, "cerca de três dezenas de quadros, dos quais apenas uma escassa dúzia são nossos conhecidos", mas a mudança é profunda: "são obras laboriosas, por vezes massacradas"[9], intensas, onde se aproxima de valores cubistas e expressionistas, como acontece em Casas de Malakoff, 1923 (coleção do Museu Nacional Soares dos Reis). Mas o efeito de longo prazo dessa estadia prende-se acima de tudo com a assimilação das descobertas de Cézanne. Em Paris, "o tímido pintor naturalista […] entendeu um novo sistema de formas através da lição de Cézanne"; as suas composições da época, "de grande solidez, com a exigência geométrica dos seus volumes, a cor sombria dos corpos, são inteiramente novas na pintura nacional"[10].

Após o regresso a Arraiolos, em 1926, Dordio começa "uma nova fase da sua pintura"[11]; pinta paisagens do Alentejo, sobreiros e cavalos – como em Éguas de manada, 1929 (coleção do Museu do Chiado), onde se sente talvez "a memória da originalíssima pintura de Franz Marc e do seu misticismo animalista" [12] –, e "imagens da vida provincial, com seus labores de campo e seus trabalhadores, numa «urdidura alacre e dissonante»"[13]. Durante quatro anos irá alternar entre obras de pequeno formato – realizadas certamente em contacto direto com o motivo, onde se sente a herança expressionista e "onde vibra a impressão direta, o domínio imediato e poderoso da natureza" –, e grandes painéis decorativos para o salão nobre dos Paços do Conselho, mais convencionais, cuja "narrativa quase afoga e suplanta o vigor da expressão plástica"[14].

 
O rio Douro, 1935, óleo sobre madeira, 50 x 60 cm

A mudança para o Porto em 1933 traduz-se numa alteração das suas opções cromáticas, e a luminosidade viva e quente das terras alentejanas cede o lugar a uma paleta de valores mais ténues e envolventes, como acontece em O rio Douro, 1935. Pintará inúmeras vezes essa cidade, o Douro e as suas pontes, em obras de poderoso efeito plástico em que por vezes se sente a reaproximação "a uma poética de cariz oitocentista"[15].

Nas décadas finais trabalha uma enorme diversidade de temas – dos retratos de família às paisagens e gentes do norte ou do Alentejo, que continua a visitar periodicamente –, com resultados irregulares, alternando pinturas de grande solidez e obras de cariz mais convencional, quase sempre encomendas realizadas com a técnica do fresco. "As composições mitológicas, religiosas ou históricas que realizou [nos últimos anos], tradicionais ou com esforço de modernização formal […], não ajudam mais a definir a sua obra", refletindo talvez "a influência de artistas mais novos do Porto, seus discípulos"[16] (mas mesmo aqui, nos melhores momentos, Dordio parece aproximar-se da força de muralistas como Orozco ou Siqueiros, como acontece com a imagem dos Apóstolos no fresco da igreja dos Redentoristas, Porto[17]).

Exposições / Prémios

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Foram raras a suas exposições individuais: em 1932, na SNBA, Lisboa; em 1946, no Salão da Livraria Portugália, Porto; em 1956, na cidade de Évora, onde apresentou a sua obra de modo extensivo; e em 1965, com Abel Manta, na Sociedade Nacional de Belas Artes[18].

Participa nas exposições coletivas da SNBA entre 1913 e 1920, sendo galardoado com Medalhas de 3ª e 2ª classe em 1913 e 1915.

Participa no Salon d’Automne, Paris, em 1922.

Participa na exposição Cinco Independentes, 1923, e no I Salão dos Independentes, 1930, SNBA, Lisboa.

Participa nas Exposições de Arte Moderna do S.P.N./S.N.I. desde que estes certames foram organizados em Lisboa e no Porto, vencendo o Prémio Columbano em 1938 e o Prémio António Carneiro em 1944.

Participa na Bienal de Veneza em 1950, e na I, II e III Bienal de S. Paulo (1951, 1953 e 1955 respetivamente).

Vence o 1º Prémio na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian em 1957, o Prémio Nacional de Arte em 1962 e o do Diário de Notícias em 1972.

Referências

  1. Na monografia de Manuel Mendes, 1958, o nome não tem acento. Entre amigos o seu nome era pronunciado Dordio e não Dórdio. In: Mendes, Manuel – Dordio Gomes. Lisboa: Editorial Sul Limitada, 1958.
  2. Nota sobre o pintor na página web do MNAC, [1]
  3. Mendes, ManuelDordio Gomes. Lisboa: Editorial Sul Limitada, 1958, p. 15.
  4. França, José Augusto - A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961 [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 167.
  5. Rita Correia (19 de julho de 2011). «Ficha histórica:Alma nova: revista ilustrada (II Série) (1915-1918)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 13 de março de 2015 
  6. Contemporânea (1922-1926) [cópia digital, Hemeroteca Digital]
  7. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Simão Dordio Gomes". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 19 de julho de 2019 
  8. Gomes, Dordio – Autobiografia do pintor (1956). In: Mendes, Manuel – Dordio Gomes. Lisboa: Editorial Sul Limitada, 1958, p. 104, 59.
  9. Mendes, Manuel – Dordio Gomes. Lisboa: Editorial Sul Limitada, 1958, p. 57, 59.
  10. França, José Augusto - A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961 [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 169.
  11. Gomes, Dordio – Autobiografia do pintor (1956). In: Mendes, Manuel – Dordio Gomes. Lisboa: Editorial Sul Limitada, 1958, p. 105.
  12. Lapa, Pedro. In: A.A.V.V. – Museu do Chiado: Arte Portuguesa 1850-1950. Lisboa: Instituto Português de Museus, 1994, p. 212. ISBN 972-8137-02-8
  13. França, José Augusto - A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961 [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 170.
  14. Mendes, Manuel – Dordio Gomes. Lisboa: Editorial Sul Limitada, 1958, p. 65.
  15. Lapa, Pedro. In: A.A.V.V. – Museu do Chiado: Arte Portuguesa 1850-1950. Lisboa: Instituto Português de Museus, 1994, p. 212.
  16. França, José Augusto - A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961 [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 171.
  17. "Nesse trecho decorativo, [Dordio] dá-nos a medida dos seus recursos, da integração perfeita com os métodos e a prática da pintura mural"; trata-se de "um belo e forte pedaço de pintura, expressivo, movimentado, de traçado largo e colorido justo". In: Mendes, Manuel – Dordio Gomes. Lisboa: Editorial Sul Limitada, 1958, p. 75.
  18. Gomes, Dordio; Manta, Abel – Exposição de Janeiro: Abel Manta – Dordio Gomes. Lisboa: Sociedade Nacional de Belas Artes, 1965.

Ligações externas

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