Abel Manta

pintor e professor português (1888-1982)

Abel Abrantes Manta (Gouveia, 12 de outubro de 1888 — Lisboa, 9 de agosto de 1982) foi um pintor e professor português. É uma figura maior da primeira geração de pintores modernistas portugueses.[1]

Abel Manta
Abel Manta
Nome completo Abel Abrantes Manta
Nascimento 12 de outubro de 1888
Gouveia
Morte 9 de agosto de 1982 (93 anos)
Lisboa
Nacionalidade Portugal portuguesa
Prémios Prémio Silva Porto, 1942; 1º Prémio de Pintura, F. C. Gulbenkian, 1957

Com formação em Lisboa (1908-15) e Paris (1919-25) e autor de uma obra centrada em categorias diversas (retrato, paisagem, natureza-morta), Abel Manta destaca-se em particular, no panorama português, como "o maior retratista do seu tempo".[1]

Biografia

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Jogo de Damas, 1927, óleo s/ tela, 106 x 116 cm (Col. Museu do Chiado)

Abel Manta nasceu em Gouveia em 1888. Fixou residência em Lisboa em 1904[2]. Em 1908 matriculou-se na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde foi aluno de Carlos Reis e Ernesto Condeixa, terminando o curso em 1915.[3]

Em 1919 parte para Paris, onde irá contactar com Francisco Franco, Dordio Gomes, Cristino da Silva e João da Silva, com quem partilhou o ateliê. Frequentou o curso de gravura na casa Schulemberger; participou no Salon La Nationale, Paris, em 1921, 1922 e 1923. Regressou a Lisboa em 1925 e nesse mesmo ano expõe individualmente no Salão Bobone, Lisboa.[3]

Em 1926 foi docente da cadeira de Artes Decorativas no Ensino Técnico, no Funchal; no ano seguinte casou-se com Clementina Carneiro de Moura e em 1928 nasceu o seu único filho, João Abel Manta. Em 1934 foi "injustamente vencido"[1] no concurso para professor da Escola de Belas Artes, ensinando a partir desse ano e até à aposentação, em 1958, na Escola de Artes Decorativas António Arroio.[4]

Em 1920 recebe o 3º Prémio de Pintura na SNBA. Dez anos mais tarde participa no I Salão dos Independentes, Lisboa; a partir dessa data marca presença em inúmeras exposições coletivas, recebendo diversos prémios, nomeadamente os seguintes: Prémio Silva Porto, S.N.I., 1942; 1º Prémio de Pintura, I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1957.

Em 1965 realizou uma exposição retrospetiva na SNBA, Lisboa, em paralelo com Dordio Gomes.[5]

Embora discreto na forma como projetou no exterior a sua obra, Manta pertenceu por inteiro à intelectualidade do seu tempo. Privou com figuras de grande relevo, participou regularmente em tertúlias como a do café A Brasileira, Chiado. Em 1979, foi condecorado com a Comenda da Ordem de Santiago e Espada pelo Presidente da República Portuguesa, António Ramalho Eanes.

Na sua terra natal, Gouveia, foi inaugurado em Fevereiro de 1985 o Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta, num edifício setecentista, o antigo Solar dos Condes de Vinhó e Almedina, patrocinadores dos estudos artísticos de Abel Manta. O acervo inclui um núcleo de obras de Abel Manta e de outros artistas de relevo, entre os quais Vieira da Silva, Joaquim Rodrigo, Júlio Resende, Júlio Pomar, Menez e Paula Rego.[6]

Existe colaboração da sua autoria no semanário Mundo Literário [7] (1946-1948).

A Rua Abel Manta, em Benfica, Lisboa, recebeu o seu nome.

 
Autorretrato, c. 1939, óleo sobre tela, 65 x 50 cm. Pertencente à Colecção de J. Abel Manta, Museu de Gouveia

Para Abel Manta, como para a maioria dos pintores modernistas portugueses, a estadia em Paris foi determinante. Nas palavras de Adriano de Gusmão, "Um exigente sopro de renovação agita e encrespa a pintura de Abel Manta após a sua frutuosa experiência de Paris".[8] A "descoberta do impressionismo e de Cézanne"[1] forneceu-lhe os instrumentos para a definição do quadro de referências da sua produção futura. "Abel Manta passou a ser um pintor que assume uma dupla formação: a do naturalismo dos seus mestres na Escola de Belas Artes de Lisboa, com especial relevo para Carlos Reis, na procura da luz e de um registo mais imediato, bem como o rigor, a necessidade de construção que o «cilindro, a esfera e o cone» cézanneanos lhe incutiram".[9] "À margem de qualquer vanguardismo, detestando o academismo, sincero para consigo próprio e para com a sua visão das coisas"[1] , conseguiu compatibilizar essas referências de modo pessoal.

Embora a fase inicial se caracterize por uma estruturação das formas e do espaço pictórico mais cézanneana, mais geometrizada, não parece possível isolar no interior da sua obra períodos estanques, claramente demarcados. Centrando-se sobretudo na observação direta do real ("Abel Manta está vinculado – pois claro! – ao real. O «motivo» é o seu terreno"[10]), o seu projeto artístico caracteriza-se por uma grande coerência e continuidade.

Abel Manta elegeu três domínios temáticos principais: natureza-morta, paisagem e retrato. "Entre a natureza-morta cezanniana e a paisagem urbana impressionista se define a sua obra que, na maturidade sobretudo, se enriqueceu com notáveis retratos".[1]

Ao logo dos anos pintou retratos de gente notável, como Bento de Jesus Caraça e Manuel Mendes, familiares, amigos, vizinhos, afirmando-se "como o maior retratista do seu tempo, capaz de integrar a expressão psicológica num sistema pictural coerente, com simultâneo entendimento plástico do retratado e compreensão do seu significado humano e social"[1]. Para compreender a dimensão dessa faceta da sua obra vale a pena demorarmo-nos nos autorretratos, "onde nos surge maciço, franco e reservado […], algo interrogativo no olhar"; ou confrontar uma pintura "com aura" como o retrato do violinista René Bohet, 1930, com a sua cara na sombra e o seu "corpo quase desconjuntado, num espaço triangular, […] que tanto figura a música e o seu ritmo, como o músico"[9]

Na sua obra pode destacar-se Jogo de Damas, 1927, pertencente à coleção do Museu do Chiado, onde evoca Clementina Carneiro de Moura a jogar com o irmão. De herança cézanneana ("Uma vez mais é em Cézanne e na memória dos jogadores de cartas que esta pintura encontra a sua ascendência"[11]), esta será, segundo José Augusto França, "a obra mais significativa das suas possibilidades «modernas»", garantindo-lhe "uma posição importante entre os pintores da sua geração"[1].

"Atento à atmosfera da cidade tanto quanto à sua estrutura", as suas paisagens urbanas oferecem-nos "imagens fiéis mas inesperadas pela escolha do motivo ou do ângulo da sua tomada"[1] Manta pintou a cidade do Funchal, Gouveia ou Lisboa; "sobretudo Lisboa, onde sabia renovar e reinventar, repetindo e inovando um espaço, sempre o mesmo e sempre diferente, como o largo de Camões, lugar comum maior na sua pintura"[9]. Através do exemplo desta série é possível confirmar a regularidade da sua obra, ver como o mesmo tema lhe serviu para gerar, ao longo dos anos, pinturas tão similarmente líricas e preocupadas com "o espaço total da composição"[1] (pinturas a que, segundo José Luís Porfírio, a palavra "impressionismo, embora imprópria", foi recorrentemente associada [9]).

Coleções / Exposições

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Largo Camões, 1954, óleo sobre tela, 65,5 x 55 cm (Col. Centro de Arte Moderna Gulbenkian)

Abel Manta está representado em inúmeras coleções e museus, entre os quais: Museu do Chiado, Lisboa; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta, Gouveia.

Exposições individuais[12]

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Algumas exposições coletivas / Prémios

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Jazigo de Abel Manta, Cemitério dos Prazeres
  • 1914 – Menção Honrosa em Pintura, Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA), Lisboa.
  • 1920 – 3º Prémio de Pintura, SNBA, Lisboa .
  • 1921, 1922, 1923 – Salão La Nationale, Paris.
  • 1923 – Galeria Legripe, Ruão.
  • 1930 – I Salão dos Independentes, Lisboa.
  • 1933 – Exposição coletiva, SNBA, Lisboa; Exposição coletiva, Galeria UP, Lisboa.
  • 1934 – 2ª Medalha, SNBA, Lisboa.
  • 1935, 36, 38, 41, 42 – I, II, III e VI Exposições de Arte Moderna do S.P.N./S.N.I., Lisboa; vence o Prémio Silva Porto (1942).
  • 1946-1951 e 1954 – Exposições Gerais de Artes Plásticas, SNBA, Lisboa.
  • 1949 – 1ª Medalha em Pintura, SNBA, Lisboa.
  • 1955 – Bienal de Veneza, Veneza.
  • 1957 – I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa – Prémio de Pintura.
  • 1958 - Bienal de S. Paulo, Brasil; Exposição Internacional de Bruxelas.
  • 1961 – Salão da Primavera, SNBA, Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian: II Exposição de Artes Plásticas, Lisboa.
  • 1965 – Exposição Arte Portuguesa 1550-1950, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil.
  • 1967 – Exposição de Arte Portuguesa, Bruxelas, Paris e Madrid.
  • 1972 – Exposição de Arte Portuguesa nos Séculos XIX e XX em Coleções Particulares, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
  • 1985 – O Imaginário da Cidade de Lisboa, Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
  • 2009 – Retrato de Família: Abel Manta, Clementina Carneiro de Moura, João Abel Manta, Isabel Manta, Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta, Gouveia.
  • 2010 – Um percurso, dois sentidos: a Coleção do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, da atualidade a 1850, Museu do Chiado, Lisboa.
  • 2012 – O modernismo feliz: Art Déco em Portugal: pintura; desenho; escultura, 1912-1960, Museu do Chiado, Lisboa.
  • 2013 – Retrato(s) de Família, Centro Cultural de Cascais, Cascais.

Referências

  1. a b c d e f g h i j França, José AugustoA Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961 [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 171-174. ISBN 972-25-0045-7
  2. Oriundo de uma família com poucos recursos, a sua ida para Lisboa teve o apoio da "Condessa de Vinhó e Almedina, pintora e admiradora de «coisas da arte»". Mendes, Clara – "Abel Manta". In: A.A.V.V. – Centro de Arte Moderna Gulbenkian: Roteiro da Coleção. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, p. 38. ISBN 972-635-155-3
  3. a b Manta, Abel – Abel Manta, 1888-1982. Lisboa: Casa Museu Medeiros de Almeida, 2010
  4. A.A.V.V. – Retrato de Família. Gouveia: Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta, 2009
  5. Manta, Abel; Gomes, Dordio – Exposição de Janeiro: Abel Manta – Dordio Gomes. Lisboa: Sociedade Nacional de Belas Artes, 1965
  6. «Museu Municipal Abel Manta». Município de Gouveia. Consultado em 5 de setembro de 2014 
  7. Helena Roldão (27 de janeiro de 2014). «Ficha histórica: Mundo literário : semanário de crítica e informação literária, científica e artística (1946-1948).» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 3 de Novembro de 2014 
  8. Gusmão, Adriano de; Vasconcelos, Flórido de – Exposição de janeiro: Abel Manta; Dordio Gomes. Arte, Boletim da Sociedade Nacional de Belas Artes, jan. - fev. 1965, p. 16
  9. a b c d Porfírio, José Luís – "Ver Abel Manta: uma pintura de proximidade". In: Manta, Abel – Abel Manta (1888-1982): um modernista esquecido. Lisboa: Casa-Museu Medeiros de Almeida, 2010, p. 9-12
  10. Gusmão, Adriano de. In: Manta, Abel; Gomes, Dordio – Exposição de Janeiro: Abel Manta – Dordio Gomes. Lisboa: Sociedade Nacional de Belas Artes, 1965
  11. Lapa, Pedro. In: A.A.V.V. – Museu do Chiado: Arte Portuguesa 1850-1950. Lisboa: Instituto Português de Museus, 1994, p. 224
  12. Continuam por realizar uma investigação e uma exposição capazes de dar a conhecer a sua obra de forma abrangente e estruturada.

Ligações externas

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