Grande Geração do Rock

Grande Geração do Rock é uma compilação que reúne seis bandas portuguesas de rock. Com produção de Branco de Oliveira, o disco foi lançado em outubro de 1997 pela editora independente Metro-Som, sediada em Lisboa, que foi uma das primeiras a investir no rock cantado em português.

Grande Geração do Rock
Grande Geração do Rock
Coletânea musical de Vários
Lançamento Outubro de 1997
Gravação Estúdio Arnaldo Trindade (AT), Lisboa
Gênero(s) Jazz rock, punk rock, pós punk, hard rock, heavy metal
Duração 46:00
Idioma(s) Português, inglês
Formato(s) CD
Editora(s) Metro-Som
Produção Branco de Oliveira

Participam na compilação algumas das melhores bandas nacionais do período de 1976 a 1984 – Jafumega, Ananga-Ranga, UHF, Ferro & Fogo, Xeque-Mate e Aqui d’el-Rock – de estilos musicais diferenciados dentro da variante do rock e com temas conhecidos que entraram na memória pública. Contém o inédito "A Música Vai Estoirar" dos Xeque-Mate. Dessas bandas apenas os UHF conseguiram manter uma carreira regular e ininterrupta.

A compilação revela bastante interesse para a compreensão da história da música rock em Portugal.

Antecedentes e estilo musical

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Dispondo de um vasto catálogo constituído por algumas bandas que estiveram na origem dos vários estilos do rock cantado em português, a editora Metro-Som resolveu elaborar uma compilação que enaltecesse essas referências musicais.[1] Formados em 1977, os Aqui d’el-Rock, provenientes da classe operária do Bairro do Relógio em Lisboa, importaram a cultura punk que despontava em Inglaterra e Estados Unidos, provocando alguma agitação na apática sociedade portuguesa do pós “25 de Abril”. Temas fortes com letras corrosivas, som agressivo, poderoso, e alguma experiência de palco – a par das novidades que se faziam na música – trouxeram algum furor à banda. Lançaram o primeiro single de punk rock nacional intitulado "Há que Violentar o Sistema" (1978), e conseguiram forçar a Rádio e Televisão de Portugal (RTP) a gravar o primeiro teledisco de rock de uma banda portuguesa. No entanto, para prejuízo da banda, o vídeo foi alvo de inépcia censura que se estendeu também à rádio e imprensa.[2][3] Devido à incómoda postura social, os Aqui d’el-Rock foram vítimas de perseguição aplicada com as mais esfarrapadas justificações. Conseguiram ainda editar o single "Eu não Sei" (1979).[3]

Sob influência do punk rock da época, os UHF formaram-se em Almada em 1978 e encontraram na Metro-Som a oportunidade de gravarem inéditos em português, uma vez que as grandes editoras ainda estavam fechadas ao rock nacional. São os herdeiros dos Aqui d’el-Rock e foram pioneiros em abordar temas reais da vida das pessoas, a falar de nós, os primeiros a saciar uma imensa sede de rock na nova realidade social e política do pós “25 de Abril”.[4] Foram também a primeira banda portuguesa de rock a encetar uma digressão nacional completa, pecorrendo o país de norte a sul, na divulgação do disco Jorge Morreu (1979).[5] É notório nesse disco uma clara evolução para o pós punk, abrindo novos caminhos editoriais ao rock nacional, o que protagonizou o primeiro impulso para a criação do movimento de renovação musical denominado 'rock português', culminando no boom – explosão maciça que iria varrer os primeiros anos da década de oitenta. Depois dos Sheiks e dos primeiros trabalhos do Quarteto 1111, nos anos sessenta, Portugal voltava a abrir os braços ao rock promovendo-o a linguagem favorita dos seus adolescentes e adultos, indiferentemente do estrato social ou tendência política. António Manuel Ribeiro, principal mentor da renovação do rock, é o único membro fundador residente da banda mais antiga em atividade e a mais regular do rock em Portuigal.[6][7]

 
UHF, a banda mais regular do rock português, em concerto em 2012.

A sonoridade jazz rock qualifica as bandas Ananga-Ranga e Jafumega. Os primeiros, formados em 1976 em Lisboa, foram os representantes máximos desse estilo musical em Portugal. Iniciaram a carreira fazendo covers dos Genesis, Pink Floyd e Camel e, em 1979, apostaram nas composições de autor lançando os singles "Disco Sound" e "Fascínio", com letras em português, seguindo-se a edição do álbum instrumental Regresso às Origens (1979), trabalho em que conseguiram consolidar a improvisação do jazz na vertente do rock. Ainda lançaram o álbum Privado (1980) passando a introduzir também a língua inglesa nas canções. Terminaram a carreira em 1981 e estiveram sempre ligados à Metro-Som.[8] Oriundos do Porto, os Jafumega foram constituídos em 1980 pelos irmãos Barreiros e trabalhavam o jazz rock de uma forma mais consistente. O álbum de estreia Estamos Aí (1980) foi totalmente cantado em inglês, mas foi no boom do rock que atingiram sucesso comercial com a edição do single "Dá-me Lume" (1981) que continha o mega êxito "Ribeira" no lado B, cantado em português. Deixaram a Metro-Som e deram o salto para a multinacional Polygram, passando a compor em português. Editaram em 1982 o álbum homónimo que foi muito bem recebido tanto pela crítica como pelo público.[9]

As bandas Ferro & Fogo e Xeque-Mate representavam os estilos hard rock e heavy metal, respetivamente. Os primeiros, formados em Odivelas em 1978, iniciaram a carreira fazendo covers de bandas como os Iron Maiden e Whitesnake, para depois experimentarem as composições de autor com os singles "Super Homem" (1981), "Santa Apolónia" (1982) e "Oxalá" (1984). Lançaram ainda o álbum Vidas (1982). A partir de 1984, no pós boom do rock, os Ferro & Fogo deixaram de editar inéditos e regressaram ao circuito de covers.[10] Os Xeque-Mate foram constituídos na Maia em 1979 e são referenciados como fundadores do heavy metal português. Atingiram grande sucesso no mítico programa de rádio Rock Em Stock, com a canção "Vampiro da Uva" (1981), lado A do single "Xeque-Mate". A banda regressaria ao estúdio para gravar o álbum Em Nome do Pai, do Filho e do Rock'n'Roll produzido por Álvaro Azevedo – baterista dos Arte & Ofício e Trabalhadores do Comércio – que só veria a luz do dia em 1985, com selo da editora Horizonte. Após um longo interregno voltaram a reunir-se e lançaram o terceiro trabalho intitulado Æternum Testamentum (2016), mantendo a sonoridade pesada como identidade.[11][12]

Letras e temas

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O cenário social e político trabalhado com temas de intervenção social são aspetos importantes do conteúdo lírico das composições.

Canção de estreia dos UHF e o primeiro tema do rock português sobre as drogas duras.[13]

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O tema "Jorge Morreu", dos UHF, é a primeira abordagem às drogas duras do rock português, dos negócios envolventes, e da consequente morte prematura. A letra é dedicada a um amigo da banda que faleceu em circunstâncias trágicas e nunca esclarecidas, depois se ter envolvido na toxicodependência. Uma história real, apenas foi alterado o nome da personagem. "A droga dura era uma evidência social para a qual ninguém estava a olhar na altura", refere o vocalista. "Aquela Maria" é a segunda canção recolhida aos UHF. Trata-se de uma balada rock que aborda uma outra realidade escondida em Portugal – o prejulgamento social sobre a prostituição sexual.[13][14] As canções "Há que Violentar o Sistema" e "Eu não Sei", dos Aqui d’el-Rock, importaram para Portugal, em 1978, a recém criada música de rua, direta, espontânea e barata, que utilizava apenas duas guitarras, uma bateria e um microfone. Os temas refletiam a condição social dos membros da banda. Provenientes de baixas classes sociais, e bairros problemáticos, os quatro elementos recorreriam a uma linguagem musical mais contestatária, em especial através das letras, defendendo a violência física declarada. A cultura punk revelou-se uma bofetada política, que procurava arrastar os rebeldes e descontentes na luta contra todos os sistemas sociais que, no final dos anos setenta, asfixiavam a qualidade de vida nas grandes cidades.[6]

"Vai de Roda, Vem de Rock", lado B do single "Super Homem" (1981) dos Ferro & Fogo, tornou-se um tema esquecido devido à notoriedade do lado A. O bom arranjo instrumental permitiu ofuscar a letra pouco elaboradoa. A canção começa com o som de uma harmónica, arranca num blues cheio de andamento para depois seguir ao ritmo do baixo elétrico. Pelo meio, permanece o som da guitarra bem arregaçado.[15] O tema "Vampiro da Uva", dos Xeque-Mate, é uma metáfora sobre o excessivo consumo de álcool na sociedade portuguesa e dos seus lamentáveis efeitos. O som pesado com letras em português foram uma inovação na época, alcançando enorme sucesso na rádio.[16] A faixa "A Música Vai Estoirar" é um inédito dos Xeque-Mate que ficou guardado das sessões nos estúdios Arnaldo Trindade, e libertado para esta compilação.[17] O tema "Rocalhão", do primeiro álbum dos Ananga-Ranga, é um instrumental tocado de uma forma vibrante com realce para o toque folk do violino do convidado Carlos Zíngaro. A nova sonoridade da banda fora revelada no tema "Kiss You in The Highway", promovido num concurso do programa Rock Em Stock da Rádio Comercial, em 1981, e que consistia em adivinhar qual a banda autora de uma canção antes de ser editada em disco. No entanto, poucos concorrentes conseguiram associar o novo álbum, Privado (1980), com a canção em concurso.[18]

Grande Geração do Rock relembra breves episódios ocorridos durante as gravações, como é o caso da pré edição do single "Dá-me Lume", que levou a um desentendimento entre os Jafumega – que apostavam e quiseram que o tema "Dá-me Lume" ficasse no lado A – e o produtor e proprietário da editora, Branco de Oliveira, que preferia "Ribeira" como tema principal do disco. Branco de Oliveira não se conformando com a decisão da banda, alertou os profissionais da rádio, televisão e de toda a imprensa que o lado B do single era um tema de sucesso, tanto na música como na inspirada letra. A confirmação viria pouco depois com as vendas do disco a incidirem no tema "Ribeira" e a consequente permanência nos primeiros lugares do top nacional durante várias semanas.[19]

Lista de faixas

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O disco compacto é composto por doze faixas em versão padrão. O tema "A Música Vai Estoirar", dos Xeque-Mate, é o inédito da compilação.[1]

CD
N.º TítuloCompositor(es)Banda Duração
1. "Dá-me Lume"  Carlos Tê / Mário BarreirosJafumega 4:36
2. "There You Are"  Luís Portugal / Álvaro MarquesJafumega 3:08
3. "Rocalhão"  Manuel BarretoAnanga-Ranga 3:24
4. "Kiss You In The Highway"  Luis Firmino / Manuel BarretoAnanga-Ranga 4:54
5. "Jorge Morreu"  António Manuel RibeiroUHF 4:13
6. "Aquela Maria"  António Manuel RibeiroUHF 5:03
7. "Vai de Roda, Vem de Rock"  Alfredo AzinheiraFerro & Fogo 3:29
8. "Santa Apolónia"  João Carlos / J. A. PiresFerro & Fogo 3:40
9. "Vampiro da Uva"  Francisco Soares / António SoaresXeque-Mate 3:06
10. "A Música Vai Estoirar" (inédito)Francisco Soares / António SoaresXeque-Mate 4:13
11. "Há que Violentar o Sistema"  Zé Serra / Alfredo Pereira / FernandoAqui d’el-Rock 4:18
12. "Eu não Sei"  Óscar MartinsAqui d’el-Rock 3:56
Duração total:
46:00

Créditos

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Lista-se abaixo os músicos envolvidos na elaboração da Grande Geração do Rock, de acordo com os encartes dos discos.[1]

Jafumega
Ananga-Ranga
  • Luís Firmino – vocal, guitarra
  • Vasco Alves – baixo elétrico
  • Manuel Barreto – teclas
  • Manuel Garcia – saxofone
  • Pantera – percussão
  • Necas – bateria
UHF
  • António Manuel Ribeiro – vocal, guitarra
  • Renato Gomes – guitarra elétrica
  • Carlos Peres – baixo elétrico, vocal de apoio
  • Américo Manuel – bateria
Ferro & Fogo
  • João Carlos – vocal
  • Necas – guitarra elétrica
  • Franjas – guitarra elétrica
  • Alfredo Azinheira – baixo elétrico
  • Carlos – bateria
Xeque-Mate
  • Xico Soares – vocal
  • António Soares – guitarra elétrica
  • Aurélio Santos – baixo elétrico
  • Joaquim Fernandes – bateria
Aqui d’el-Rock
  • Óscar Martins – voz, guitarra
  • Alfredo Pereira – guitarra elétrica
  • Fernando Gonçalves – baixo elétrico
  • Zé Serra – bateria

Referências

  1. a b c «Grande Geração do Rock (CD)». Metro-Som. Consultado em 20 de novembro de 2015 
  2. Paula Guerra (15 de janeiro de 2014). «Génese do punk em Portugal». Faculdade Letras Universidade do Porto. Consultado em 1 de junho de 2017 
  3. a b «Aqui del-Rock». Blitz. Consultado em 1 de junho de 2017. Arquivado do original em 24 de outubro de 2014 
  4. «UHF 1978-1981–Os verdes anos de uma banda histórica do rock português». Blitz. Consultado em 5 de fevereiro de 2022. Arquivado do original em 14 de novembro de 2018 
  5. «As telenovelas tornaram-se o veículo de promoção mais importante para a música portuguesa». Palco Principal–Sapo Música. Consultado em 5 de fevereiro de 2022. Arquivado do original em 7 de novembro de 2010 
  6. a b «O rock em Portugal: 1970-1979». ANM–A Nossa Música. Consultado em 5 de junho de 2017. Arquivado do original em 5 de fevereiro de 2016 
  7. «António Manuel Ribeiro apresenta "Por Detrás Do Pano" em Silves». A Voz do Algarve. 12 de junho de 2015. Consultado em 20 de novembro de 2015 
  8. Aristides Duarte (17 de novembro de 2008). «Concertos míticos: Ananga-Ranga no Sabugal». Capeia Arraiana. Consultado em 20 de novembro de 2015 
  9. «Jafumega–Biografia». Sinfonias de Aço–Anos 80. Consultado em 2 de junho de 2017 
  10. «Ferro & Fogo–Biografia». Sinfonias de Aço–Anos 80. Consultado em 2 de junho de 2017 
  11. «Morreu António Soares dos Xeque-Mate». Blitz. 22 de novembro de 2013. Consultado em 5 de fevereiro de 2022 
  12. «Æternum Testamentum–Xeque-Mate». Apple Music. Consultado em 5 de fevereiro de 2022 
  13. a b Ribeiro, António (2005). Cavalos de Corrida–A Poética dos UHF. Quinta da Graça, Bela Vista, 1950-219 Lisboa: Setecaminhos. p. 17. ISBN 989-602-073-6 
  14. Mário Lopes (11 de abril de 2009). «UHF». Jornal Público. Consultado em 5 de junho de 2017 
  15. João Santareno (23 de outubro de 2010). «Vinil: Ferro & Fogo-Vai de roda vem de rock». UALMedia Rádio. Consultado em 20 de novembro de 2015 
  16. João Santareno (8 de outubro de 2015). «Vinil: Xeque Mate-Vampiro da Uva». UALMedia Rádio. Consultado em 20 de novembro de 2015 
  17. Nuno Costa (10 de janeiro de 2011). «Breve História do Metal Português». SounD ZonE. Consultado em 20 de novembro de 2015 
  18. Aristides Duarte. «Ananga-Ranga». ANM–A Nossa Música. Consultado em 6 de junho de 2017. Arquivado do original em 9 de fevereiro de 2000 
  19. «Jafumega Ribeira–CD 225». Metro-Som. Consultado em 20 de novembro de 2015 [ligação inativa]

Ligações externas

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