Mardepetes
Mardepetes (em armênio: Մարդպետ; romaniz.: Mardpet) era um título gentilício do Reino da Armênia utilizado pela linhagem nobre (nacarar) amarda do principado de Mardepetacânia, na província da Vaspuracânia.
História
editarO título de mardepetes era o título utilizado pela linhagem nobre (nacarar) amarda do principado de Mardepetacânia, na província da Vaspuracânia.[1] Na versão grega da Vida de São Gregório, o título foi referido como "toparca dos merdos [amardos]" (τῶν Μέρδων τοπάρχης, tȭn Mérdōn topárkhēs), enquanto nas versões armênia e grega de Agatângelo, respectivamente, como "príncipe do principado da Mardepetacânia" (իշխան Մարդպետութեան իշխանութեան, išχan Mardepetut'ean išχanut'ean) e "arconte no poder, chamado patrício" (άρχων επί της εξουσίας πατρίκιος [hair] λεγόμενος, árkhōn epi tēs exousías patríkios legómenos).[2] A Lista Militar (Զորնամակ, Zōrnamak), o documento que indica a quantidade de cavaleiros que cada uma das famílias nobres devia ceder ao exército real em caso de convocação, não menciona o mardepetes, mas Cyril Toumanoff propôs que o principado podia arregimentar quatro mil cavaleiros.[3]
Com a eventual extinção da linhagem principesca, Mardepetacânia foi tomado pela dinastia arsácida como uma de suas propriedades régias e seria concedido, como apanágio, aos detentores eunucos do ofício de grão-camareiro (հայր ou հայր-Թագաւորի, hayr ou hayr t'agawori; lit. "pai do rei"[4]).[5] Os grão-camareiros receberam ex officio o título de mardepetes, que com o tempo tornar-se-ia sinônimo do termo armênio que definia seu oficio (Fausto, o Bizantino, por exemplo, utiliza o termo composto հայր-Մար(ա)դպետ, hayr-mardpet[6]).[7] A partir do relato de Fausto são conhecidos alguns de seus titulares: Cílaces (1.ª vez), durante algum tempo no reinado de Ársaces II (r. 350–368) ou de seu pai Tigranes II (r. 339–350); Drastamate, sob Tigranes VII e Ársaces II até a eventual deposição do último; um detentor anônimo, executado por Papa (r. 370–374); e Cílaces (2.ª vez), que foi executado por Papa.[8] O ofício de grão-camareiro não sobreviveu ao fim da dinastia arsácida em 428 e no século V o domínio do mardepetes, agora dissociado do ofício, passou à família Arzerúnio.[9] Mardepetacânia estava em mãos da linha sênior dos Arzerúnios, o que justifica Mirsapor e Nersapor Arzerúnio serem chamados mardepetes e "grão-príncipes dos Arzerúnios".[10]
O grão-camareiro equivalia ao ofício de ambaragades do Irã (eran-ambaragad) do Império Sassânida e ao prepósito do Império Romano e Bizantino. Como o prepósito, mas diferente do ambaragades, o grão-camareiro era um eunuco. Nas fontes gregas, hair equivalia à dignidade de patrício.[11] Estava a cargo dos tesouros, fortalezas (Babila, em Sofanena;[12] Angle, em Ingilena[13]) e guarda-roupa real (onde a regalia era mantida), bem como talvez de seus aposentos[4] e haréns.[14] Como o prepósito, tinha sob seu comando camareiros ordinários, chamados senecapetes.[15] Em especial em Ingilena, o grão-camareiro, investido como governador (osticano), tinha a incumbência adicional de administrar as porções do território armênio retidos nessa região, o que o deixou numa posição análoga a do vitaxa da Marca Síria.[16][a] Desde 298, com a Paz de Nísibis, a família nobre local tornou-se vassala do imperador Diocleciano (r. 284–305) e seus sucessores e apenas uma fração do território original permaneceu dependente da Armênia.[17]
Notas
editar- [a] ^ Cyril Toumanoff sugeriu que os detentores do título de mardepetes no século IV cumpriam a função de vitaxas da Marca Síria (Sofena). Na Vida de São Gregório (de 314), o mardepetes é mencionado em terceiro na lista A de precedência da nobreza armênia, indicando sua alta posição. A lista B, no entanto, preenche as primeiras posições com os quatro vitaxas do Reino da Armênia (Média, Síria, Arábia e Ibéria, respectivamente) por sua ordem de precedência. Considerando a função do hair-mardepetes como administrador de fortalezas situadas em Sofena, Toumanoff correlacionou o mardepetes com o vitaxa sírio.[18]
Referências
- ↑ Toumanoff 1963, p. 131, 169.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 169, nota 80.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 240.
- ↑ a b Toumanoff 1963, p. 168, 314.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 131, 170, 314.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 169, nota 79.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 131.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 178, nota 118.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 170, 200, 248.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 231, nota 285.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 169.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 177.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 167-168.
- ↑ Payaslian 2007, p. 30.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 168-169.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 176.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 176-179; 179, nota 121.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 244-245.
Bibliografia
editar- Payaslian, Simon (2007). The history of Armenia: from the origins to the present. Basingstoke: Palgrave Macmillan
- Toumanoff, Cyril (1963). Studies in Christian Caucasian History. Washington: Georgetown University Press