João Varela Gomes

revolucionário português

João Maria Paulo Varela Gomes (Lisboa, 24 de Maio de 1924 — Lisboa, 26 de Fevereiro de 2018), foi um militar português e um revolucionário português contra o Estado Novo.

João Varela Gomes
Dados pessoais
Nome completo João Maria Paulo Varela Gomes
Nascimento 24 de maio de 1925
Lisboa
Morte 26 de fevereiro de 2018 (92 anos)
Lisboa
Vida militar
País PortugalPortugal
Força Exército
Hierarquia Coronel
Comandos Grupo de cerca de 50 revolucionários, tomando o quartel do Regimento de Infantaria N.º 3; Centro de Sociologia Militar da 5ª Divisão do EMGFA.
Batalhas Revolta de Beja

Biografia

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Vida Pessoal

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Filho de Romano Vital Gomes [nota 1] e de Beatriz Varela Gomes.[2] Casou com Maria Eugénia Varela Gomes, que também se destacou pelos seus esforços contra o governo ditatorial português. O casal teve dois filhos, e duas filhas, Maria Eugénia, conhecida por "Geninha",[3][4] e Maria da Luz. Em 1998 o casal perdeu um dos filhos, João António, e em abril de 2016 faleceu o outro filho, o escritor Paulo Varela Gomes. No mesmo ano falecerá a mulher de Varela Gomes.[5]

Carreira Militar em Ditadura

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Entrou para a Escola do Exército em 1943, cursando em Artilharia, arma na qual viria a ser Capitão.[6]

Oposição ao Estado Novo

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Depois de se ter envolvido activamente na candidatura de Humberto Delgado (1958), João Varela Gomes esteve ligado à Conspiração da Sé (1959). Em 1961, juntou-se a outros prestigiados democratas na apresentação de uma candidatura à Assembleia Nacional. Inédito para a um oficial activo, pela "forma hábil" como fez o pedido aos seus superiores da hierarquia militar, Varela Gomes foi autorizado a integrar as listas.

Nos comícios da campanha eleitoral realizados no distrito de Lisboa, ficou célebre o empolgante discurso de Varela Gomes no Teatro da Trindade: com a coragem e a frontalidade que sempre o caracterizaram, Varela Gomes incentivou os presentes à revolta contra o regime, criando um clima de grande emoção na sala. Segundo o relatório de uma agenda da PIDE, "[Varela Gomes] foi muito ovacionado, com a assistência em pé. Foi de todos os oradores, aquele que mais atacou Sua Excelência o presidente do Conselho e todo o Governo."[7]

O ano de 1961 tinha sido o de todas as calamidades para a ditadura e de muita esperança para a democracia. Em janeiro o capitão Henrique Galvão sequestrara o navio Santa Maria. O Governo estava isolado; caíram Goa, Damão e Diu; foram lançados panfletos sobre Lisboa, de um avião desviado por Palma Inácio; Daomé ocupou o Forte de S. João Baptista de Ajudá, fortaleza que representava uma nossa presença histórica. Havia, pois, razões para crer no fim da ditadura Salazarista. Por razões conjunturais, o Quartel de Beja estava na rota da conquista da Liberdade, do fim do Estado Novo.

A Revolta de Beja

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Na noite de passagem de ano de 1961 para 1962, João Varela Gomes avança para Beja para, juntamente com outros companheiros, tomar de assalto o quartel. O assalto que Varela Gomes e Manuel Serra dirigiram tinha na preparação Humberto Delgado, que entrou em Portugal, clandestinamente, para o comandar e que esteve em Beja mas afastado da acção.

Por volta das 2h15m da madrugada o grupo comandado por Varela Gomes entrou no Quartel de Beja, contando com a conivência de três oficiais no interior do quartel, que lhes abriram as portas, anulou primeiro os sentinelas e trancou todos os militares nas casernas após o que se dirigiu ao quarto onde se encontrava o Segundo Comandante Henrique Calapez da Silva Martins. Assim que Henrique Calapez Martins abriu a porta do quarto foi alvejado no tórax, um disparo acidental, na versão dos revoltosos. Ferido, Henrique Calapez ripostou quase em simultâneo, usando uma pistola ‘savage’, atingindo Varela Gomes no baço. Segue-se uma troca de tiros entre os revoltosos e o Major Henrique Calapez em que Henrique Calapez, sozinho, conseguiu dominar a revolta e colocar os golpistas em fuga.[8]

Varela Gomes resistiu a várias cirurgias, sob prisão. A PIDE prendeu o capitão Eugénio de Oliveira e os outros implicados, civis e militares, enquanto era vexada pela fuga bem sucedida do general Humberto Delgado.[9]

No seguimento, o New York Times vai-se referir a ele como "Um líder político emergente na esquerda, (...) tinha sido considerado uma das futuras esperanças políticas daqueles que se opunham ao governo do Dr. Salazar." (2 de Janeiro de 1962).[7]

Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975[10]

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Reintegrado como Coronel no pós Revolução dos Cravos, ficou responsável pela comissão para o desmantelamento da PIDE e da Legião Portuguesa. O seu comportamento demasiado diligente, levou o general Silvino Silvério Marques da Junta de Salvação Nacional a detê-lo, reflexo das diferentes visões sobre o futuro. A reação de alguns capitães de Abril, levariam à sua libertação, mas seria saneado do cargo.

Passando a dirigir o Centro de Sociologia Militar da 5ª Divisão, constrói “uma rede de contactos com comissões de trabalhadores ou com unidades colectivas de produção na zona de intervenção da reforma agrária (…) actividade orientada para os sectores mais dinâmicos da revolução”.

O 25 de Abril de 1975 apanha-o em Cuba, onde lidera uma missão de intercâmbio, convivendo com Fidel e Raul Castro. Tal motiva Carlucci a escrever a Kissinger, numa nova etapa de polarização que irá culminar no 25 de Novembro de 1975.[7]

É ainda discutida quem tomou a iniciativa nesse dia. O centro e a direita acusam a esquerda da iniciativa. Varela Gomes (esquerda) salienta a admissão de Pires Veloso, “vice-Rei do Norte”, que distribuiu armamento, concluindo que a "A direita preparava a guerra civil".[11] Um mandato pela sua captura força-o a entrar na clandestinidade, em direção a Angola. Sai de Angola em 1977, na sequência da repressão desencadeada pelo Governo de Agostinho Neto, rumando com a mulher a Moçambique. Voltará em 1979 no seguimento de uma amnistia aprovada pela Assembleia da República.[5]

Últimos anos e Legado

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Foram muitos os que acreditaram que a Revolução poderia ter começado aí. Mais tarde, em 1987, por ocasião da Presidência Aberta ‘Alentejo Verde’, Mário Soares, à chegada a Beja, diria: «se não fosse um tal de major Calapez, o 25 de Abril teria sido 15 anos antes».

Mais tarde, Varela Gomes denuncia o "capitalismo selvagem", "deriva" originada no 25 de Novembro,[11] em resposta às políticas "neo-liberais" e à incapacidade de resposta à crise que causou desemprego e austeridade.[carece de fontes?]

Falece em 2018, em Lisboa. O facto é relembrado por jornais como o Público,[12] o Diário de Notícias[13], e na RTP.[14]

Bibliografia

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Leituras

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Louçã, António (2022) Varela Gomes e a escala de Brecht. Setenta e quatro. https://setentaequatro.pt/ensaio/varela-gomes-e-escala-de-brecht

Louçã, António (2016) Varela Gomes "Que outros triunfem onde nós fomos vencidos" Biografia. Parsifal.

Obras de Varela Gomes

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J. Varela Gomes (1999) Esta Democracia Filofascista. O que resta do 25 de Abril. Cultura e Política de Esquerda no limiar do século XXI. Edição de autor.

J. Varela Gomes (2011) Memória Ideológica no Centenário da República. Letra Livre.

Notas

  1. Não confundir com Romano Vital Gomes, almirante nascido em 1872, casado com Maria Isabel James de Oliveira Torres.[1]

Referências

  1. Arquivo Histórico da Madeira, vol. III (1931-1932)
  2. . [S.l.: s.n.]  line feed character character in |título= at position 58 (ajuda)«Portal Português de Arquivos - Processo de informação de João Maria Paulo Varela Gomes». portal.arquivos.pt. Consultado em 27 de novembro de 2024 
  3. «João Gil 30 anos de carreira "Álvaro Cunhal era o meu herói, o meu Corto Maltese"». PÚBLICO. 21 de junho de 2005. Consultado em 27 de novembro de 2024 
  4. «Geninha Varela Gomes – Centenário de João Varela Gomes». Consultado em 27 de novembro de 2024 
  5. a b «Lisboa: Morreu Maria Eugénia Varela Gomes. Esposa do Capitão Varela Gomes.». Lidador Notícias. 22 de Novembro de 2016. Consultado em 26 de Junho de 2020 
  6. «O assalto ao quartel de Beja» (PDF). Cacia. Ecos de Cacia. 6 de janeiro de 1962 
  7. a b c Louçã, António (2016) Varela Gomes "Que outros triunfem onde nós fomos vencidos" Biografia. Parsifal.
  8. Ramires 2010.
  9. https://www.rtp.pt/noticias/politica/morreu-varela-gomes-figura-historica-da-resistencia-a-ditadura_n880941
  10. RTP (4 de março de 2018). «Morreu Varela Gomes, figura histórica da resistência à ditadura». Morreu Varela Gomes, figura histórica da resistência à ditadura. Consultado em 17 de agosto de 2024 
  11. a b RTP (25 de setembro de 2023). «Varela Gomes sobre o 25 de Novembro: "A direita preparava a guerra civil"». Varela Gomes sobre o 25 de Novembro: "A direita preparava a guerra civil". Consultado em 17 de agosto de 2024 
  12. Público. «Morreu João Varela Gomes. Foi o dirigente operacional do golpe de Beja de 1962.» 
  13. DN/Lusa (2018). «Morreu o Coronel Varela Gomes. Militar, antifascista e revolucionário até ao fim». Diário de Notícias 
  14. RTP (2018). «Morreu Varela Gomes, figura histórica da resistência à ditadura» 

Fontes

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