Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo
O Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (LAOSP) é uma instituição, fundada em 1873, cujas principais atividades se dão no âmbito da educação profissional, atuando também na produção industrial e cultural[1].
Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo | |
---|---|
Tipo | Instituição de ensino |
Página oficial (Website) | |
Geografia | |
Coordenadas | |
Localização | São Paulo - Brasil |
Atualmente, o Liceu de Artes e Ofícios, uma sociedade civil de direito privado, se desdobra em três organismos diferentes: a LAO-Indústria (resultado do desmembramento da atividade produtiva da escola, especializada na fabricação de hidrômetros, medidores de gás e materiais para a construção civil, atua também como mantenedora das atividades educacionais do Liceu); a Escola Técnica do LAOSP (responsável pela atividade-fim do LAOSP, oferecendo ensino médio, cursos técnicos e cursos livres relacionados à área de tecnologia) e o Centro Cultural (responsável pela promoção das artes em geral e da preservação da memória da própria instituição)[2].
História
editarFundação
editarA instituição foi criada em 1873 por um grupo de aristocratas pertencentes à elite cafeeira nacional que pretendia formar mão de obra especializada para uma futura possível industrialização do país, de acordo com os ideais positivistas que pregavam a "dignificação do homem através do trabalho". Seu fundador, Carlos Leôncio da Silva Carvalho, era um advogado e Deputado Geral(atualmente corresponde ao posto de Deputado Federal) e com o apoio financeiro da maçonaria paulista e dos cafeicultores, conseguiu tornar real a instituição para divulgação das artes e ofícios focando na formação de mão-de-obra especializada para a lavoura, a indústria e o comércio[3].
Inicialmente adotou-se o nome "Sociedade Propagadora da Instrução Popular". Não se pretendia nos primeiros anos promover educação profissional: lecionavam-se cursos noturnos de Primeiras Letras e Aritmética, entre outros, para adultos e crianças. Desde essa época, porém, já existia um Conselho Superior (presidido pelo Conselheiro Leôncio de Carvalho) que representava a elite paulista do período[4].
Passados sete anos, o Conselho Superior decidiu pela total reformulação da instituição e sua efetiva transformação em uma escola. Esta ainda não possuía sede nem diretrizes curriculares e o modelo adotados para a nova instituição seriam as experiências europeias dos Liceus de Artes e Ofícios (as Arts & Crafts Schools idealizadas por William Morris). O movimento das Arts & Crafts (artes e ofícios) já ocorria na Europa há algum tempo e pregava a valorização do trabalho manual do artesão na indústria capitalista.
Com a adoção do nome Lyceu de Artes e Officios, o novo modelo passa a ser exercido e são ministrados cursos de marcenaria, serralheria, gesso, desenho, entre outros, dentro do espírito positivista-burguês das Artes e Ofícios.
Consolidação
editarA partir de 1890, assume a direção do Liceu o arquiteto Francisco Paula Ramos de Azevedo, responsável por uma nova reforma curricular e administrativa da escola que a faria prosperar de modo inédito. Ramos de Azevedo também foi um dos fundadores da Escola Politécnica da futura Universidade de São Paulo e trouxe da Bélgica um espírito empreendedor que ia de encontro aos interesses do Conselho Superior. A partir de sua reforma, os alunos do Liceu (aprendizes) passariam a receber financeiramente pela obra que produziam. Esta obra levaria a marca de qualidade do Liceu estampada e seria vendida por todo o País. Com este modelo, o LAOSP tornou-se autossuficiente e independente[5].
A prosperidade financeira do Liceu possibilitou a criação de uma sede definitiva. Em 1897 o Escritório Técnico Ramos de Azevedo iniciou o projeto do edifício da Praça da Luz, nunca concluído mas entregue em 1900. Este edifício, através de um acordo com o Estado de São Paulo, seria dividido entre o LAOSP e a recém criada Pinacoteca do Estado.
A produção industrial do Liceu prosperou nitidamente nos períodos de Guerras Mundiais, com o aumento do consumo de itens produzidos no país (devido à redução de importações). Neste período, passaram pelo Liceu nomes como Victor Brecheret; Alberto Santos Dumont; Adoniran Barbosa. O Liceu se torna o principal divulgador e realizador de obras em estilo Art nouveau da cidade (e do país).
Século XX
editarA partir dos anos 1950, com a adoção pelo país de um novo modelo de desenvolvimento industrial, os artesãos do Liceu passaram a ser inadequados para as novas atividades de produção. Ocorreu a separação entre a atividade industrial da instituição e sua seção educacional: todo o ideal original de indissociabilidade entre arte e indústria se perdeu a partir daí. São frutos dessa nova fase industrial: execução das esquadrias do MASP; execução de parte do mobiliário do Aeroporto Internacional de Cumbica; produção dos caixas-automáticos 24 Horas; entre outros[6].
Nos anos 1970 ocorre uma nova reforma curricular e institui-se a Escola Técnica. Seus primeiros cursos envolvem Edificações (EDI), Máquinas e Motores (transformado em Mecânica - MEC - posteriormente), Decoração, Eletrônica (ELO) e mais tarde Desenho de Construção Civil (DCC) e Eletrotécnica. Quatro destes cursos (EDI, ELO, MEC e DCC) compuseram o núcleo pedagógico da escola e sobreviveram até 2002 (data da formatura de suas últimas turmas). Na década de 1980 foi fundado o Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, estreando o espetáculo multimídia Multivisão.
Século XXI
editarEm 2007, iniciou-se o ensino médio integrado a curso técnico de Multimídia, Gestão de Negócios Culturais e Produção de Eventos Culturais e Promocionais. Os dois últimos duraram apenas dois anos.
Em 2009, as três novas turmas eram compostas pelo ensino médio integrado a curso técnico de Edificações, Eletrônica e Multimídia. Em 2011, a instituição abriu 20 novas vagas para bolsas de ensino médio regular.
Em 2018, o ensino médio integrado a curso técnico de Edificações foi finalizado, restando, apenas, o curso técnico regular de Edificações.
O ensino médio integrado a curso técnico de Eletrônica foi o próximo encerrado na instituição, em 2019, porém foi criado o curso técnico regular de Automação Industrial.
Em 2020, a instituição apresenta o ensino médio integrado a curso técnico de Automação Industrial com Ênfase em Tecnologias de Construção e Multimídia[7][8].
Em 2023, o ensino médio integrado a curso técnico de Multimídia foi o próximo encerrado na instituição, porém foi criado o ensino médio integrado a curso técnico de Edificações novamente para substituí-lo.
Em 2024, a instituição apresenta o ensino médio integrado a curso técnico de Automação Industrial com Ênfase em Tecnologias de Construção e a volta do ensino médio integrado a curso técnico de Edificações, sendo sua entrada por meio de um vestibulinho, de 40 questões sobre conhecimentos gerais.
Ao longo da história, o Liceu pautou-se por um grupo de princípios de atuação de uma forma geral ligados ao ensino gratuito, à formação profissional e humanística. Recentemente, porém, através de reformas na Escola levadas a cabo pela LAO-Indústria, instituiu-se um modelo de ensino pago e a total separação entre a formação profissional e o ensino básico[9].
Incêndio
editarEm 4 de fevereiro de 2014, um incêndio danificou quase todo o acervo. Quadros, esculturas, móveis antigos e históricos do local, réplicas em gesso de obras-primas como Davi e Pietá, de Michelangelo, ficaram destruídas. Dois vigias avisaram o Corpo de Bombeiros quando o incêndio começou, por volta da 1h. Ao todo, 48 homens, em 14 viaturas, contiveram as chamas em 20 minutos.[10][11]
Apesar de ninguém ter ficado ferido, parte do forro do teto caiu, vidros se despedaçaram e o piso de madeira do local também foi danificado pelo fogo. De acordo com o capitão Miguel Jodas, do Corpo de Bombeiros, 100% da área interna do prédio do central cultural foi danificada.[11] Em virtude disso, foi totalmente reformulado, criando um centro cultural moderno [12].
Recuperação
editarEm agosto de 2018, a instituição foi reaberta após uma grande reforma. Os custos desta reforma foi com o auxílio do seguro e com recursos próprios em parte da construção do novo prédio e do restauro de obras queimadas. Das 28 réplicas em gesso, oito já foram restauradas e já estão em exibição no espaço. Mais de 10 obras ficaram irrecuperáveis por causa do incêndio.[13]
Com 1.200 m², o novo Centro Cultural conta com dois espaços expositivos e é decorado com a mesma estrutura metálica do prédio que pegou fogo. Apesar de ter perdido a sua capacidade estrutural no incêndio, as peças metálicas foram restauradas e agora servem para ornamentação. A entrada principal na Rua da Cantareira foi refeita, com um design mais moderno, mas o pórtico localizado na Rua João Teodoro foi mantido.[13]
Para recuperar a história da instituição, o espaço inferior do novo Centro Cultural foi reservado para exposições sobre o próprio Liceu e inclui pequenas salas, onde foram colocadas as réplicas em gesso, como uma homenagem ao antigo centro. Numa parede lateral, fotos e objetos mostram a relação do Liceu com a cidade de São Paulo, ao relembrar construções que utilizam peças feitas pela instituição, como as portas da Catedral da Sé ou o Monumento a Duque de Caxias. Por fim, outra parede relembra as oficinas mantidas pelo Liceu, como de serraria, desenho e artes decorativas. Atualmente, o Liceu conta com ensino médio privado e quatro cursos técnicos gratuitos.[13][14]
Obras com a marca Liceu
editarA lista seguinte reúne edifícios e monumentos em que existem registros da atuação do Liceu, seja em sua construção, seja em seus materiais.
- Pinacoteca do Estado - ornamentos moldados pelos aprendizes do Liceu.
- Teatro Municipal de São Paulo - lustre monumental no saguão produzido nas oficinas do Liceu.
- Palácio das Indústrias de São Paulo - para-raios feito pelo Liceu.
- Estação Júlio Prestes - esquadrias executadas pelo Liceu.
- Monumento a Duque de Caxias - moldado no Liceu.
- Monumento a Ramos de Azevedo - moldado no Liceu, sob orientação de Galileo Emendabili.
- Monumento às Bandeiras - moldado no Liceu, sob orientação de Victor Brecheret.
- Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (FDUSP) - ornamentos do Salão Nobre e da Sala da Congregação moldados pelos aprendizes do Liceu.
- Monumento ao Ex-governador do RN Dix-Sept Rosado Maia - executado pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, sob a direção do professor Otoni Zorline e sob a supervisão do professor Pedro Suzana.[15]
- Palacete Horácio Sabino - Avenida Paulista: os móveis eram encomendados ao Liceu de Artes e Ofícios ou importados da França[16]
- Escultura Diana Caçadora: está localizada na Praça Pedro Lessa[17]
- Escultura Mercúrio em Repouso: está localizada na Praça da República [18]
Ver também
editar- Pinacoteca do Estado de São Paulo
- Wikipédia:Há uma data final - Ensaio que aborda a importância de realizarmos cópias de segurança de nossas informações.
Referências
- ↑ Cultural, Instituto Itaú. «Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp)». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ «Centro Cultural do Liceu de Artes». Governo do Estado de São Paulo. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ http://www.ef5.com.br, F5-Web Design e Tecnologia Atualizada-. «Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo». www.museuafrobrasil.org.br. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ «19&20 - A Modernidade Acadêmica: Os primeiros tempos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, por Julio Lucchesi Moraes». www.dezenovevinte.net. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ «Pinacoteca de São Paulo: conheça sua história + arquitetura!». Viva Decora Pro. 9 de setembro de 2019. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ «Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo | São Paulo Bairros». Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ «ENSINO TÉCNICO – LICEU – SÃO PAULO». Consultado em 23 de abril de 2021
- ↑ Profitec (20 de agosto de 2019). «Conheça os cursos do Liceu de Artes e Ofícios». Blog Profitec. Consultado em 23 de abril de 2021
- ↑ leitura, Última atualização:20/10/2020 4 minutos de (8 de agosto de 2018). «Liceu de Artes e Ofícios lança Centro Cultural». revistaSIM. Consultado em 22 de abril de 2021
- ↑ «Incêndio atinge o Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo». R7.com. 4 de fevereiro de 2014. Consultado em 23 de abril de 2021
- ↑ a b Folhapress/Gazeta do Povo, ed. (4 de fevereiro de 2014). «Incêndio destrói Liceu de Artes de Ofícios de São Paulo». Consultado em 4 de setembro de 2018
- ↑ garoa, Rafael Gushiken / São Paulo da (11 de agosto de 2018). «Liceu de Artes e Ofícios comemora 145 anos e reinaugura como novo Centro Cultural». São Paulo da garoa. Consultado em 23 de abril de 2021
- ↑ a b c Pedro Rocha (10 de agosto de 2018). O Estado de S. Paulo, ed. «Liceu de Artes e Ofícios reinaugura espaço cultural destruído em incêndio». Consultado em 4 de setembro de 2018
- ↑ leitura, Última atualização:20/10/2020 4 minutos de (8 de agosto de 2018). «Liceu de Artes e Ofícios lança Centro Cultural». revistaSIM. Consultado em 23 de abril de 2021
- ↑ Informação, Cactus Tecnologia da. «.:Blog do Gemaia:.». www.blogdogemaia.com. Consultado em 15 de abril de 2018
- ↑ Cotrim, Luciana. «Liceu de Artes e Ofício de São Paulo». Série Avenida Paulista. Consultado em 23 de abril de 2021
- ↑ «Diana Caçadora » São Paulo Antiga». São Paulo Antiga. 7 de novembro de 2017. Consultado em 23 de abril de 2021
- ↑ «Escultura Mercúrio em repouso». Descubra Sampa - Cidade de São Paulo. Consultado em 23 de abril de 2021
Leitura adicional
editar- GORDINHO, Margarida Cintra (org.). Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo - Missão excelência. São Paulo: Editora Marca d'Água, 2000. 119p. il. ISBN 85-85118-30-X.