Luiz Carlos Molion
Luiz Carlos Baldicero Molion (São Paulo, 1947) é um meteorologista brasileiro. professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e pesquisador.[1]
Luiz Carlos Molion | |
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Nome completo | Luiz Carlos Baldicero Molion |
Conhecido(a) por | Negacionismo climático no Brasil |
Nascimento | 1947 (78 anos) São Paulo, SP, Brasil |
Nacionalidade | brasileiro |
Alma mater | Universidade de São Paulo |
Ocupação | professor, pesquisador e meteorologista |
É um dos principais representantes do negacionismo climático no Brasil[2][3], alegando que o homem e suas emissões de gases estufa na atmosfera são incapazes de causar um aquecimento global.[4][5][6] É considerado um grande aliado do agronegócio brasileiro, sendo remunerado por palestras em que nega o aquecimento global.[7]
Carreira
editarPossui graduação em Física pela Universidade de São Paulo (1969), PhD em Meteorologia, University of Wisconsin, Madison (1975), pós-doutorado em Hidrologia de Florestas, Institute of Hydrology, Wallingford, UK (1982) e foi fellow do Wissenschaftskolleg zu Berlin, Alemanha (1989-1990).[8] Foi por muitos anos pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais[9][10] diretor da área de ciências espaciais e atmosféricas em 1985[11] e diretor associado em 1986,[12] ano em que co-coordenou um projeto de pesquisa sobre a Amazônia em parceria com cientistas da NASA.[13] Foi diretor da Fundação para Estudos Avançados no Trópico Úmido em Manaus,[14] professor palestrante convidado da Western Michigan University de 15 a 30 de janeiro de 2001,[15] e delegado do Brasil na 15ª reunião da Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial em 2010.[16] É Professor Associado da Universidade Federal de Alagoas.
Críticas
editarAs principais críticas que o pesquisador recebe são derivadas de suas opiniões negacionistas a respeito da realidade e gravidade do aquecimento global, das quais é um dos principais defensores no Brasil.[17][18][19] Tem contestado a exatidão das medições, a fidelidade dos modelos climáticos, a gravidade das projeções para o futuro, que a temperatura média da Terra tenha se elevado em quase um grau Celsius desde o fim do século XIX, e que o homem tenha alguma participação importante neste processo, entre outros aspectos.[18][19][17] Como porta-voz de um grupo de outros negacionistas, disse que "a conservação ambiental não tem nada a ver com o aquecimento global, esta é a nossa principal mensagem".[20]
Contudo, para o esmagador consenso da comunidade científica internacional e nacional, o aquecimento global é real, a causa é humana, está intimamente ligado ao desequilíbrio ecológico, já provoca múltiplos efeitos negativos, e deve piorar dramaticamente se não for combatido com vigor e rapidez. As opiniões negacionistas carecem de fundamento científico, pois não correspondem à realidade observacional consolidada em múltiplas medições e tampouco concordam com a base teórica do aquecimento.[21][22][23]
Um dos cientistas mais respeitados mundialmente na área do aquecimento global, Philip Fearnside, considera que é necessário expor os erros de Molion e mas afirmou que "vários dos principais cientistas da área climática no Brasil se recusam a debater com céticos como Molion. Este autor [Fearnside] acredita que isto seja um erro crítico".[19] Essa chamada aos cientistas nacionais para que se posicionem claramente contra o pequeno mas barulhento e influente grupo de céticos brasileiros se explica porque nos últimos anos o negacionismo climático vem se organizando muito forte e livremente no Brasil, criando confusão na mente do público leigo, provocando retrocessos nas políticas e programas ambientais, dificultando o avanço do país em direção à sustentabilidade e ameaçando o cumprimento dos compromissos assumidos pelo país de redução de emissões de gases estufa.[24][25][19]
Molion tem sido visto como um importante aliado do agronegócio e dos ruralistas em suas tentativas de isentar o setor rural de culpas na origem do aquecimento global, é um convidado frequente em encontros de ruralistas,[17][26] e foi chamado de "um dos nomes mais importantes do cenário agro brasileiro".[27][28] Em entrevista dada em 2021 Molion disse dar 50 palestras por ano, a grande maioria promovida por empresas ou entidades ligadas ao agronegócio. "Procuro usar minhas palestras para o agronegócio, que não são poucas, para no terceiro bloco falar sobre as mudanças climáticas e a farsa do CO2 como controlador do clima global". Nesses encontros ele alega, contrariando o consenso científico, que o aquecimento global é uma fraude e que a tendência do clima para os próximos anos é esfriar.[29]
O conhecimento de ponta sobre o assunto, por outro lado, mostra este setor como um dos principais responsáveis pelo aumento na emissão de gases estufa, como o dióxido de carbono e o metano.[22] No Brasil, que em 2011 era o 6º maior emissor mundial de gases,[30] a questão rural tem uma importância superlativa, já que o agronegócio tem sido um importante motor da economia nacional, mas segundo estudos realizados pelo próprio Governo, o país tem no desmatamento para expansão da agricultura e da pecuária a principal fonte dos gases estufa que emite.[31][32] Em 2010 o setor rural respondia por quase 80% das emissões nacionais.[32] Para Alexandre Costa, pesquisador do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, "afinal, se a pecuária não contribui com emissões de metano e se as emissões de dióxido de carbono (e também de metano) associadas ao desmatamento não são um problema, o discurso de Molion representa um tipo de armadura e escudo pseudocientíficos que o agronegócio precisa".[17] Para o professor da Unifesp Jean Miguel, que estuda o fenômeno do negacionismo climático, palestras negacionistas como as de Molion e de Ricardo Felício estimulam as pessoas a duvidar da ciência, além de fazerem uma "massagem no ego do produtor rural", criando a mentalidade de que o agronegócio está sendo injustiçado enquanto contribui para o PIB nacional.[29]
Em um artigo intitulado "Perspectivas Climáticas Para Os Próximos 20 Anos", de 2008, Molion previu o início de uma fase de resfriamento global que duraria entre 2008-2028.[33] As medições dizem o contrário. Desde 1976 a temperatura média da Terra está acima da média esperada,[34] oito dos nove anos mais quentes já registrados ocorreram após 2000,[35] e segundo a Organização Meteorológica Mundial, em 2020 o mundo completou a década mais quente desde o início dos registros.[36]
Em 2023, na CPI das ONGS, afirmou que a mídia exagerava ao alertar para um El Niño poderoso no próximo ano, e que o estado do RS poderia ficar tranquilo que não haveriam grandes chuvas no próximo ano. [37]
Algumas publicações
editar- j.j. Burgos, h. Fuenzalida Ponce, l.c. Molion. 1991. "Climate Change, Vol. 18, pp. 223- 239, 1991
- eneas Salati, jose Marques, luiz carlos Molion. 1978. "Origem e distribuição das chuvas na Amazónia," Interciencia 3:200-206
- Santos, e. b. ; l. c. b. Molion . "Um Índice Climático Obtido da TSM do Oceano Pacífico e a Variabilidade da Precipitação em Alagoas". Ambientale, v. 2, p. 47-66, 2010.
- Cardoso, c. s. ; l. c. b. Molion ; Siqueira, a. h. b. ; Cardoso, m. s. ; Gomes Neto, i.l. . "Precipitação no Sahel e a Oscilação Decadal do Pacífico". Ambientale, v. 2, p. 67-80, 2010.
- Siqueira, a. h. b. ; Santos, n. a. ; Cardoso, c. s. ; Santos, w. r. t. ; l. c. b. Molion . "Eventos Extremos de Precipitação de Maio de 2006 sobre Alagoas: Uma Análise se suas Causas e seus Impactos". Ambientale, v. 2, p. 59-66, 2010.
- l. c. b. Molion . "Aquecimento Global: Uma Visão Crítica". Revista Brasileira de Climatologia, v. 3/4, p. 7-24, 2008.
- l. c. b. Molion . "Perspectivas Climáticas Para Os Próximos 20 Anos". Revista Brasileira de Climatologia, v. 3/4, p. 117-128, 2008.
Ver também
editarReferências
- ↑ «Na CPI das ONGs, professor nega que desmatamento da Amazônia afete o clima global». Senado Federal. Consultado em 4 de fevereiro de 2024
- ↑ «Em vídeo viral, meteorologista confunde conceitos e distorce informações sobre aquecimento global – ABC». Consultado em 4 de fevereiro de 2024
- ↑ «O negacionismo climático envernizado de Luiz Molion – DW – 30/06/2023». dw.com. Consultado em 4 de fevereiro de 2024
- ↑ Carlos Madeiro (11 de Dezembro de 2009). «"Não existe aquecimento global", diz representante da OMM na América do Sul». Consultado em 7 de Junho de 2012
- ↑ Carolina Oms (8 de Dezembro de 2009). «Reduzir CO2 não impede aquecimento, diz meteorologista». Consultado em 7 de Junho de 2012
- ↑ Perfil.com (8 de julho de 2007). «Científico brasileño prevé una nueva Era Glacial». Consultado em 21 de novembro de 2011
- ↑ «Cerrado - Crise do Clima». Folha de S.Paulo. Consultado em 1 de outubro de 2020
- ↑ «"Wissenschaftskolleg zu Berlin: Former Fellows alphabetically"». Consultado em 4 de Novembro de 2012
- ↑ "Professor nega que pulmão do mundo seja a Amazônia e alerta sobre desmatamento". Jornal do Brasil, 12/09/1977
- ↑ "Inpa diz que Amazônia não limpa atmosfera". Jornal do Brasil, 20/10/1990
- ↑ "Técnicos crêem que El Niño provocou seca no sul do pais". Jornal do Brasil, 01/12/1985
- ↑ Centro de Memória do CBPq. Dirigentes de 1986.
- ↑ "INPE resolve guardar segredo sobre estudo na Amazônia coim NASA". Jornal do Brasil, 08/02/1986
- ↑ Projeto é polêmica entre cientistas". Jornal do Brasil, 17/07/1991
- ↑ «"Brazilian scholar explores meteorological topics"». 12 de Janeiro de 2001. Consultado em 4 de novembro de 2012
- ↑ World Meteorological Organization. Commission for Climatology, Fifteenth session. Antalya, 19–24/02/2010
- ↑ a b c d Costa, Alexandre Araújo. "A Negação das Mudanças Climáticas e a Direita Organizada – Parte 3 – E o Professor Molion?" Uma Incerta Antropologia, 2012
- ↑ a b Santos, Felipe Almeida dos & Silva, Clara Ribeiro. "O aquecimento global como novo fundamentalismo econômico". In: Lumen, /2016 (2)
- ↑ a b c d Fearnside, Philip M. (2015). «Os céticos de clima no Brasil 1: colaboração da mídia». Amazônia Real. Cópia arquivada em 18 de outubro de 2019
- ↑ "Grupo contraria teorias sobre o aquecimento global e critica IPCC". Assessoria de Imprensa da Universidade Federal de Campina Grande, 15/02/2008
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- ↑ a b IPCC. "Summary for Policymakers" Arquivado em 22 de outubro de 2018, no Wayback Machine.. In: Climate Change 2013: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press, 2013
- ↑ IPCC. "Summary for policymakers" Arquivado em 22 de outubro de 2018, no Wayback Machine.. In: Climate Change 2014: Impacts, Adaptation, and Vulnerability. Part A: Global and Sectoral Aspects. Contribution of Working Group II to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change, 2014
- ↑ Sirkis, Alfredo. "A farsa do negacionismo climático". Congresso em Foco, 10/07/2012
- ↑ Bailão, Andre Sicchieri. "Ciências e Mundos Aquecidos: Controvérsias e Redes de Mudanças Climáticas em São Paulo". In: Anais da ReACT - Reunião de Antropologia da Ciência e Tecnologia, 2014; 1 (1)
- ↑ «Agronegócio banca palestras que espalham mito de que aquecimento global pelo homem é fraude». BBC News Brasil. Consultado em 4 de fevereiro de 2024
- ↑ "Luiz Carlos Molion responde AO VIVO as dúvidas do internautas hoje às 12h30 no Notícias Agrícolas". Notícias Agrícolas, 02/08/2016
- ↑ "Encontro Ruralista reúne presidentes de Sindicatos, coordenadores de Núcleos Regionais e lideranças políticas do setor". Assessoria de Comunicação do Sistema FAEPA — Federação da Agricultura e Pecuária do Pará, 2016
- ↑ a b Gragnani, Juliana. "Agronegócio banca palestras que espalham mito de que aquecimento global pelo homem é fraude". BBC Brasil, 18/11/2021
- ↑ Brown, Frederic J. "Metade dos gases estufa é gerada por 5 países; Brasil é o 6º emissor, diz relatório". Veja, 01/12/2011
- ↑ Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima. Plano Nacional sobre Mudança do Clima, 2008
- ↑ a b "Emissão de gases de efeito estufa no país aumentou 62% em 15 anos". Notícias UOL, 01/09/2010
- ↑ Molion, Luiz (1 de agosto de 2008). «PERSPECTIVAS CLIMÁTICAS PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS». R e v is t a B ra s i le i ra de C l ima to log ia. Consultado em 1 de outubro de 2020
- ↑ "Estudos indicam que 2012 foi um dos dez anos mais quentes já registrados". Painel Brasileira de Mudanças Climáticas
- ↑ "Oito dos nove anos mais quentes já registrados ocorreram após 2000". Veja, 6/05/2016
- ↑ "Mundo teve a década mais quente da história entre 2011 e 2020, diz OMM BR". Nações Unidas, 28/12/2020
- ↑ Senado, T. V. (5 de setembro de 2023). «Ao vivo: CPI das ONGs ouve meteorologista e professor, Luiz Carlos Molion». TV Senado. Consultado em 15 de maio de 2024