Maria Odília Teixeira
Maria Odília Teixeira Lavigne (São Félix , 5 de março de 1884 – Salvador, 1970), mais conhecida simplesmente como Maria Odília Teixeira, foi uma médica e professora universitária brasileira, pioneira na sua área e conhecida por ser a primeira médica negra do Brasil.[1][2][3][4]
Maria Odília Teixeira | |
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Nascimento | 5 de março de 1884 São Félix, Bahia, Império do Brasil |
Morte | 1970 (86 anos) Salvador, Bahia, Brasil |
Conhecido por | primeira médica negra do Brasil |
Alma mater | Faculdade de Medicina da Bahia |
Carreira médica | |
Ocupação | Médica |
Especialidade | Clínica geral e obstetrícia |
Maria também foi a primeira professora negra da Faculdade de Medicina da Bahia,[5][6] conquistando o feito 32 anos depois de Alfredo Casemiro da Rocha ter se tornado o primeiro médico negro da história do Brasil em 1877.
Biografia
editarNasceu em 1884, em São Félix, 110km de Salvador. Era filha do médico branco José Pereira Teixeira e de Josephina Luiza Palma, mulher negra cuja mãe havia sido escravizada e depois alforriada. Aos 13 anos, deixou a cidade onde morava para estudar no Ginásio da Bahia, em Salvador, espaço das elites de homens brancos da capital. Lá, ela se graduou em Ciências e Letras, formação na época para seguir no magistério, e aprendeu francês, grego e latim. Em 1904, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, tendo como tutor o irmão Joaquim Pereira Teixeira, que havia ingressado no curso dois anos antes.[1][2]
Ela se formou em 15 de dezembro de 1909, ano em que no Brasil as mulheres ainda não podiam sequer votar. Nesse ano, a Lei Áurea, que marcou o fim da escravidão na lei, tinha apenas 21 anos desde sua promulgação. Esse contexto tornava a presença de Maria Odília Teixeira, uma mulher e negra, na faculdade de medicina um fato extraordinário.[7] Ela foi a única mulher em uma turma com mais 47 homens. Foi a sétima mulher graduada em medicina pela Faculdade da Bahia, e a primeira diplomada no século XX. Em sua tese, “Algumas considerações acerca da curabilidade e do tratamento das Cirrhoses Alcoólicas”, Maria Odília Teixeira abordou a cirrose alcoólica, fugindo dos estereótipos relacionados aos estudos do alcoolismo, que o vinculavam à raça e a primeira entre as mulheres que fugia de temas ligados à ginecologia e à pediatria.[3][8]
Após formar-se, voltou para Cachoeira, onde começou a atuar. No início, muitos dos atendimentos eram tutelados pelo pai, irmão ou outro médico. Depois, passou a atuar sozinha, tendo uma clientela majoritariamente feminina. Cinco anos após a formatura, em 1914, foi convidada a voltar a Salvador para dar aulas de Clínica Obstétrica, tornando-se a primeira professora negra da Faculdade de Medicina da Bahia.[1][2][9]
Ela deixou a docência, porém, em 1917, para cuidar do pai que estava com a saúde deteriorada. Primeiro voltou a Cachoeira e depois seguiu com a família para Irará, no sertão baiano, em busca de uma melhora na saúde do pai. Foi ali que conheceu seu futuro marido, Eusínio Gaston Lavigne (1873-1973), advogado de família tradicional de cacauicultores de Ilhéus, no sul da Bahia. Casaram-se na casa de seu irmão, Tertuliano Teixeira, em Irará, aos 37 anos - idade considerada avançada para o casamento de uma mulher na época. Quando Eusínio, um branco, avisou a família que casaria com uma mulher negra seus familiares acharam que era mentira. Os parentes de Eusínio não compareceram ao casamento. Teixeira não demorou a sentir o preconceito da família do marido e da sociedade ilheense quando chegou à cidade.[1][9]
Depois do casamento, Teixeira decidiu deixar a medicina para se dedicar à família e teve dois filhos. Seu marido, inspirado em ideias comunistas, entrou para a política, tornando-se intendente de Ilhéus até 1937, quando foi deposto e preso por criticar o golpe de Getúlio Vargas que instaurou a ditadura do Estado Novo (Eunísio seria preso novamente durante a Ditadura Militar. A família mudou-se, então, para Salvador. Na década de 1950, Teixeira escreveu uma carta defendendo o legado do pai, desmerecido no livro Teixeira Moleque, do deputado e médico Rui Santos.
Morte
editarTeixeira morreu aos 86 anos, em 1970. Seus descendentes, filhos, netos e bisnetos, também se tornaram médicos.[10]
Referências
- ↑ a b c d Pitombo, João Pedro (17 de novembro de 2021). «Conheça a história de Maria Odília Teixeira, médica negra pioneira no Brasil». Folha de S. Paulo. Consultado em 17 de novembro de 2021. Cópia arquivada em 17 de novembro de 2021
- ↑ a b c «Dia da Mulher: conheça Maria Odília Teixeira, a primeira médica negra do Brasil». Cremeb. 8 de março de 2019. Consultado em 17 de novembro de 2021
- ↑ a b «MARIA ODILIA TEIXEIRA». Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Fameb/UFBA). Arquivos Fameb/UFBA
- ↑ «Maria Odília Teixeira Lavigne»
- ↑ «Nefrologista carioca descobre a primeira médica negra do Brasil e fala de representatividade: 'número ainda é baixo'». G1. Consultado em 17 de novembro de 2021
- ↑ «Dia Internacional da Mulher na Bibliotheca Gonçalo Moniz | Faculdade de Medicina da Bahia». www.fameb.ufba.br. Consultado em 17 de novembro de 2021
- ↑ «Conheça a história de Maria Odília Teixeira, médica negra pioneira no Brasil». Folha de S.Paulo. 17 de novembro de 2021. Consultado em 17 de novembro de 2021
- ↑ «Maria Odília Teixeira: a história da primeira médica negra do Brasil». Hypeness. 11 de julho de 2022. Consultado em 9 de novembro de 2023
- ↑ a b de Jesus dos Santos, Mayara Priscilla (2019). Maria Odília Teixeira: a Primeira Médica Negra da Faculdade de Medicina da Bahia (1884- 1937) (PDF) (Dissertação de mestrado). Salvador: Universidade Federal da Bahia. Consultado em 9 de novembro de 2023
- ↑ Negra, Geledés Instituto da Mulher (18 de novembro de 2021). «Conheça a história de Maria Odília Teixeira, médica negra pioneira no Brasil». Geledés. Consultado em 28 de janeiro de 2025