Marie Josephine Mathilde Durocher
Marie Josephine Mathilde Durocher (Paris, 6 de janeiro de 1809 - Rio de Janeiro, 25 de dezembro de 1893), popularmente conhecida como Madame Durocher, foi a mais célebre parteira do Rio de Janeiro, no século XIX. Foi a primeira mulher a ser recebida, como membro titular, na Academia Imperial de Medicina, em 1871.[1][2][3]
Marie Josephine Mathilde Durocher | |
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Conhecido(a) por | Primeira mulher a ser recebida, como membro titular, na Academia Imperial de Medicina em 1871. Primeira mulher no Brasil a assinar textos científicos na área da medicina |
Nascimento | 6 de janeiro de 1809 Paris, França |
Morte | 25 de dezembro de 1893 (84 anos) Rio de Janeiro, Brasil |
Residência | Brasil |
Nacionalidade | francesa |
Alma mater | Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro |
Campo(s) | medicina, obstetrícia |
Vida pessoal
editarChegou ao Brasil em agosto de 1816, aos sete anos de idade, pelo navio "Dois Amigos", com a mãe, Anne [Nicholle?] Durocher, no contexto do retorno absolutista que se seguiu à derrota de Napoleão Bonaparte e ao Congresso de Viena.[1]
Anne Durocher (florista segundo algumas fontes, costureira, segundo outras) estabeleceu-se com uma loja de fazendas, armarinho e artigos femininos na antiga rua do Ourives, entre as ruas do Ouvidor e do Rosário, tendo levado uma existência modesta até vir a falecer, ao final de prolongada doença, em novembro de 1829. A sua filha, que auxiliava a mãe na qualidade de Caixeira, viu-se, desse modo, à frente do estabelecimento comercial, quando um novo golpe a abalou: o seu marido, Pedro David, um comerciante francês, foi assassinado por equívoco, uma vez que o criminoso confundiu a identidade de sua vítima (julho de 1832)[1].
Carreira
editarÀ época, no Brasil, a Lei de 3 de outubro de 1832 determinou a separação de áreas no ensino superior de saúde, propondo a implantação de cursos específicos de Medicina, Farmácia e Partos. A partir de então, ninguém poderia curar, ter botica ou partejar, sem ter concluído uma das duas faculdades médicas então existentes no país.[1]
Em decorrência da Lei, a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, instituiu, no ano seguinte, o Curso de Parteiras, sendo Madame Durocher, naturalizada brasileira, viúva, mãe de dois filhos (o mais velho de nome Vicente João Francisco), a primeira e única matriculada, diplomando-se em 1834. Paralelamente, complementou a sua formação com aulas particulares com o médico da Corte, Joaquim Cândido Soares de Meireles.[1]
Divulgando os seus serviços nos jornais ao final do mesmo ano, trajando-se com saia longa, gravata borboleta, sobrecasaca e meia-cartola de seda pretas (pois, segundo explicava, exercia uma profissão masculina), com competência e profissionalismo, adquiriu enorme reputação na cidade: em sessenta anos de atividade profissional acompanhou cerca de 5.000 parturientes.[1]
Madame Durocher atendia nos vários bairros da cidade, sem distinção social, a mulheres livres e escravas, até mesmo de membros da nobreza. Em 1866 foi nomeada Parteira da Casa Imperial, e atendeu o nascimento da Princesa Leopoldina, filha de D. Pedro II (1840-1889). Dominava as técnicas obstétricas mais usadas em sua época, como a aplicação do fórceps, a versão, a embriotomia, a "encerebração", além de cuidar de eclampsia e hemorragias, complicações normalmente letais à parturiente ou ao feto. Praticava ainda a reanimação do recém-nascido, restabelecendo-lhe a respiração.
Complementarmente, fazia atendimentos clínicos na área ginecológica, cuidava da saúde de recém-nascidos e fazia perícias médico-legais (casos de atentado violento ao pudor, defloramento, estupro e outros). Embora a prática ginecológica fosse vedada a quem não portasse o diploma de Medicina, Madame Durocher justificava os seus atendimentos explicando que muitas mulheres preferiam morrer a serem examinadas por homens.
Em 1849 publicou um opúsculo explicando como escolher amas-de-leite e os cuidados sobre o aleitamento, e encaminhou um projeto de inspeção de amas-de-leite para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Eventualmente prestou serviços durante as epidemias de Febre amarela (1850) e de Cólera (1855) que assolaram a cidade.
Em 1871 foi admitida na Academia Imperial de Medicina, onde apresentou várias observações sobre a sua clínica, sugestões sobre políticas públicas de saúde, condenou e/ou aprovou o uso de determinados medicamentos, participou de comissões e publicou mais de vinte textos na revista da instituição. Entre esses textos, destaca-se o artigo "Considerações sobre a clínica obstétrica", considerado o mais completo estudo sobre a prática obstétrica no Brasil no século XIX.[1]
No plano político foi favorável ao abolicionismo.
Foi a primeira mulher no Brasil a assinar textos científicos na área da medicina. Morreu em 1893.[1][2]
Bibliografia
editar- DUROCHER, M.J.M.. Considerações sobre a clínica obstétrica. Rio de Janeiro: Revista da Academia Imperial de Medicina, 1887.
- DUROCHER, M.J.M.. Deve ou não haver parteiras? Rio de Janeiro, s.d.
- DUROCHER, M.J.M.. Considerações práticas sobre o centeio e a ergotina. Rio de Janeiro, s.d.
- MELO, Hildete P. de; PEREIRA, M. C. C.. "A Ciência no Feminino: uma análise da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciência". inː Revista do Rio de Janeiro, FIOCRUZ/UERJ, n.º 11, set-dez 2003.
- MOTOYAMA, Shozo. Prelúdio para uma História: Ciência e Tecnologia no Brasil. São Paulo: EDUSP, 2004.
- MOTT, Maria Lúcia de Barros Madame Durocher, modista e parteira. Estudos Feministas, Rio de Janeiro, vol. 2, n° 3, 1° semestre 1994, pp. 101–116.
Referências
- ↑ a b c d e f g h CNPq (ed.). «Pioneiras da Ciência no Brasil». CNPq. Consultado em 27 de novembro de 2016
- ↑ a b Conheça mulheres que se tornaram grandes cientistas - Marie Josephine Mathilde Durocher (1809-1893) Portal BOL - acessado em 8 de março de 2015
- ↑ Biografia na página oficial da Academia Nacional de Medicina
Ligações externas
editar- Biografia do projeto Pioneiras da ciência, divulgado pelo CNPq.