Monumento ao Dois de Julho
Tipo | |
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Fundação | |
Comemora | |
Estilo | |
Criador |
Carlo Nicoli (d) |
Material |
ferro fundido, pedestal em Mármore de Carrara, coluna em bronze |
Restauração | |
Altura |
25,86 m |
Proprietário |
Prefeitura Municipal de Salvador (d) |
Estatuto patrimonial |
bem de interesse histórico e ou cultural (d) |
Localização |
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Coordenadas |
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O Monumento ao Dois de Julho (também referido como Monumento ao Caboclo e Monumento aos Heróis da Independência)[1] é um monumento localizado no Largo do Campo Grande, em Salvador, município capital do estado brasileiro da Bahia. Representa e comemora a participação dos nativos brasileiros na Independência da Bahia.[2][3] Está entre os monumentos de interesse público soteropolitanos inventariados pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), organização da Prefeitura Municipal de Salvador para política cultural na cidade.[4][5]
A praça onde está situado, o Campo Grande, é uma área histórica e cultural da cidade (e consequente atração turística), o topo do Outeiro Grande e onde está o Teatro Castro Alves.[1][6] Pelo conjunto, ao qual se somam gradis, jardins, escadaria e o monumento, fazem do largo uma praça monumental.[1][6] Além disso, o Caboclo no alto é a referência do monumento e também da expressão "chorar no pé do caboclo" (e suas variações) que remetem ao costume de fazer preces ou lamentações, rogar àquela entidade por um pedido.[7]
Foi criado na Itália pelo artista Carlo Nicoliy Manfredini (também vice-cônsul do Brasil em Carrara) em colaboração com outros artistas italianos, montado em Salvador pelo engenheiro Antonio Augusto Machado e inaugurado em 2 de julho de 1895.[8][9][10] Trata-se de um monumento em estilo neoclássico de 25,86 metros de altura composto por um pedestal de mármore de Carrara, com objetos em ferro fundido e, sobre o pedestal, uma coluna de bronze em estilo coríntio.[9][8] À época da inauguração era o monumento sul-americano mais alto[8] e, em 2019, foi descrito como o mais alto das regiões Norte e Nordeste do Brasil.[7] As últimas restaurações foram empreendidas pela Prefeitura de Salvador em 2003 e 2019.[9][7]
Características
editarEsculpido em três tipos de material (mármore de Carrara, ferro fundido e bronze), o monumento de 25,86 metros tem como estilo dominante o neoclassicismo.[9]
O bronze foi empregado na coluna coríntia (ou mastro), a qual possui, em seu topo, a figura do Caboclo com 4,1 metros de altura. Essa figura, comum nas festas da Independência da Bahia, alude à participação popular na guerra de independência.[8] Por isso, está munido de arco, flechas e lança e prende um dragão (ou serpente com asas e garras) a seus pés performando um ataque mortal à tirania de Portugal (simbolizada pelo dragão/serpente).[9][7] O caboclo também simboliza o Brasil em um ato contra o governo da metrópole colonial portuguesa e de afirmação da identidade, nacionalidade e liberdade do Brasil.[5] Tal representação já estava presente no monumento ao Dois de Julho inaugurado na Praça da Piedade décadas antes.[8]
O rosto do Caboclo (descrito como indígena ou caboclo) apresenta dentes falhados, cabelo crespo grande, sobrancelhas grossas, "olhos calmos e um pouco esbugalhados" e o faz ser apontado como representativo de um "rosto brasileiro". Sua expressão entre o sorriso e a "cara feia" condiz com o golpe mortal ao domínio colonial português. Adornado com cocar grande, a cabeça em direção ao chão indica é visto como olhar de quem "tudo vê", que olha pela/para a cidade e para o mal (representado pelo dragão).
O mármore de Carrara é o material do pedestal sobre o qual está a coluna, enquanto que o ferro fundido está em detalhes, mosaicos, inscrições e objetos situados em algum dos patamares do pedestal ou no pavimento ao seu redor.[8] O pedestal é composto por dois corpos, além da escadaria.[5] Logo abaixo da coluna, duas estátuas figuram no patamar mais alto do pedestal.[8] Uma tem características do estereótipo feminino e representa a personificação da Bahia, já a outra é uma estátua de Catarina Paraguaçu, a indígena tupinambá que se casou com o náufrago português Diogo Caramuru[8] e apresentada por alguns como "uma das mães do povo brasileiro".[11] A estátua de Paraguaçu está armada com um escudo, no qual lê-se a inscrição do lema do Grito do Ipiranga, "Independência ou Morte".[8]
Num patamar mais abaixo, há duas esculturas alegóricas que personificam dois rios do território baiano: São Francisco e Paraguaçu.[8] Ainda nesse nível médio, há esculturas de águias e leões também como alegorias, porém, para a liberdade e república e com inscrições de locais e datas de batalhas campais da campanha na Bahia da Guerra de Independência Brasileira: batalhas do Cabrito, de Cachoeira, do Funil, de Itaparica e de Pirajá.[9] As esculturas das águias, particularmente, foram fundidas em Roma.[8]
Nas laterais do pedestal há inscrições, ornamentos, mosaicos, quadros em relevo. As inscrições somam 600 letras e parte delas formam nomes de heróis independentistas (incluindo Maria Quitéria e Pedro Labatut, por exemplo).[10][7] Os mosaicos retratam eventos da história do Brasil e foram fundidos na comuna italiana de Pietrasanta.[8] Para além das águias e leões, há outros animais representados: tartarugas, cobras e jacarés.[10] As tartarugas em tamanho pequeno sustentam os candelabros, os jacarés cospem água em recipientes e a estes estão abraçadas as cobras de pedras vermelhas da Turquia.[7] Também consta representação da Cachoeira de Paulo Afonso.[10]
Cercando o pedestal, no nível do pavimento está o gradil fabricado em ferro fundido pelo italiano Giuseppe Michelucci em Pistoia com oito postes de luz a gás.[7][9][10] Cada poste têm sete metros de altura e seu topo em formato de candelabro.[9][10] Enquanto os candelabros são de ferro fundido, seus pedestais individuais são as únicas peças de fabricação brasileira a partir do granito oriundo de Itiúba.[7]
História
editarUm monumento ao Dois de Julho foi instalado em 1856 na Praça da Piedade (transferido posteriormente para o Largo dos Aflitos).[8] Tendo-o como referência,[8] políticos e artistas brasileiros idealizaram outro monumento em comemoração à entrada do Exército Pacificador no centro de Salvador em 2 de julho de 1823, mas em dimensões maiores.[12][5] Assim, em 31 de outubro de 1872, o Presidente da Província da Bahia nomeou uma comissão para erigir o novo monumento.[8] Essa comissão foi inicialmente presidida por João Maurício Wanderley (o Barão de Cotegipe) e depois por Manuel Victorino (posteriormente vice-presidente da República).[8] A obra envolveu o Governo da Província, a Assembleia Legislativa e a Câmara Municipal de Salvador.[8]
Na Itália, Carlo Nicoliy Manfredini junto a colaboradores esculpiram o monumento.[8] Os candelabros foram fabricados em 1891 na comuna italiana de Pistoia, assim como o gradil. Os mosaicos, fabricados na comuna italiana de Pietrasanta e as águias, o Caboclo e a coluna em Roma.[8][7] As partes em separado foram levadas ao Brasil e, uma vez em Salvador, a montagem coube a Antonio Augusto Machado no Largo do Campo Grande.[8][12] A inauguração em 1895 do monumento ocorreu 23 anos depois de estabelecida a comissão, exatamente na data das comemorações da Independência da Bahia e 72 anos após a vitória do Exército Pacificador.[8][7] Em virtude de sua altura, foi o monumento mais alto da América do Sul nessa época.[8]
Em 2003, a reforma do monumento durou quase um ano, centrou-se na recuperação das partes em mármore danificado e foi realizada por equipe sob o comando de José Dirson Argolo, professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia.[7] Já durante 2019, o monumento foi restaurado pela Fundação Gregório de Mattos ao contratar o serviço de restauração da empresa Studio Argolo Antiguidades e Restaurações, novamente sob comando de Argolo.[9][10] Dessa vez com mais danos aos materiais metálicos,[7] a empresa realizou a limpeza, pintura e reposição de peças (estragadas ou roubadas) e instalação de código QR para acesso a informações históricas sobre o monumento, como também foi acompanhada da instalação de base da Guarda Civil Municipal e de câmaras de videomonitoramento.[9] Foram entre cinco e seis meses de restauro, sob um orçamento de 829 mil reais e a entrega à população ocorreu em 6 de setembro de 2024.[9]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b c Santana, Douglas (2 de junho de 2023). «DESAL REALIZA INTERVENÇÕES NO LARGO DO CAMPO GRANDE». Bahia Economica. Consultado em 13 de outubro de 2024
- ↑ Hendrik Kraay (2002), " Frio como a pedra de que se há de compor": caboclos e monumentos na comemoração da Independência da Bahia, 1870-1900 (14), pp. 51–81, Wikidata Q107477724
- ↑ Fábio Peixoto Bastos Baldaia (10 de maio de 2018), A festa, o drama e a trama: Cultura e poder nas comemorações da Independência da Bahia (1959-2017), Wikidata Q107477727
- ↑ G1 BA (17 de agosto de 2017). «Monumentos públicos de Salvador terão código lido por celulares para contar história da obra». G1. Consultado em 1 de setembro de 2021
- ↑ a b c d Fundação Gregório de Mattos. «MONUMENTOS: DOIS DE JULHO» (PDF). fgm.salvador.ba.gov.br. Consultado em 13 de outubro de 2024
- ↑ a b Franco, Tasso (27 de março de 2022). «SALVADOR 473 ANOS: CAMPO GRANDE É A PRAÇA MONUMENTAL DA CIDADE». Bahia Já. Consultado em 13 de outubro de 2024
- ↑ a b c d e f g h i j k l Lyrio, Alexandre (9 de junho de 2019). «Aos olhos do Caboclo: chegamos ao topo do Monumento ao 2 de Julho». Correio. Consultado em 13 de outubro de 2024
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v Guia Geográfico - Salvador Turismo. «Monumento ao Dois de Julho». www.salvador-turismo.com. Consultado em 13 de outubro de 2024
- ↑ a b c d e f g h i j k «Monumento ao Dois de Julho é entregue à população de Salvador após ser restaurado». G1. 6 de setembro de 2019. Consultado em 13 de outubro de 2024
- ↑ a b c d e f g «Monumento ao Dois de Julho no Campo Grande passa por restauração». A TARDE. 5 de setembro de 2019. Consultado em 13 de outubro de 2024
- ↑ Schumaher, Schuma (org.). Dicionário Mulheres do Brasil de 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. Verbete Catarina Paraguaçu.
- ↑ a b Antunes, José Paulo; Costa, Gabriela (1 de setembro de 2022). «Monumento ao Dois de Julho». CHC. Consultado em 13 de outubro de 2024