Soneto 29
Soneto 29 |
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When in disgrace with Fortune and men's eyes, |
–William Shakespeare |
Soneto 29 foi escrito por William Shakespeare e faz parte dos seus 154 sonetos.
Análise
editarO Soneto 29 segue a mesma estrutura básica dos outros sonetos de Shakespeare, em pentâmetro iâmbico. Ele inclui duas seções distintas com o Orador explicando seu atual estado de espírito deprimido na primeira oitava e então evocando o que parece ser uma imagem mais feliz no último sexteto.[1]
Sinopse
editarO poeta, abatido por seu baixo status, lembra-se do amor de seu amigo e, assim, é levado à alegria.[2]
Traduções
editarTradução de Thereza Christina Rocque da Motta
editarQuando em desgraça, sem sorte e afastado
Dos homens, sozinho, em meu exílio,
Perturbo os Céus surdos, a gritar sem sossego,
E olho para mim, e amaldiçoo meu destino,
Sonhando ser mais afortunado,
Como homem de muitos amigos,
Cobiçando seus talentos e visão,
E aquilo que mais aprecio sinto menos satisfeito;
Mesmo, nesses pensamentos, quase me desprezando,
Feliz, penso em ti – depois em meus bens
(Como a cotovia elevando-se ao romper do dia
Das entranhas da terra), em hinos a louvar o céu;
Pois, lembrar de teu doce amor traz tanta riqueza,
Que desdenho trocar meu dote com reis.[3]
Tradução de Jorge de Sena
editarQuando em desgraça aos olhos dos humanos,
sozinho choro o meu maldito estado,
e ao surdo céu gritando vou meus danos,
e a mim me vejo e amaldiçoo o Fado,
sonhando-me outro, rico de esperanças,
co’a imagem del’ , como el’ tão respeitado,
invejo as artes de um, d’outro as usanças,
do que mais gosto menos sou tentado.
Mas se ao pensar assim, quase me odiando,
acaso penso em ti, logo meu estado,
como ave, às portas celestiais cantando,
se ergue da terra, quando o sol é nado.
Pois que lembrar-te, amor, tem tal valia,
que nem com grandes Reis me trocaria.[4]
Tradução de Vasco Graça Moura
editarDe mal com os humanos e a Fortuna,
choro sozinho o meu banido estado.
Meu vão clamor o céu surdo importuna
e olhando para mim maldigo o fado.
A querer ser mais rico em esperança,
como outros em amigos e talento,
invejando arte de um, doutro a pujança,
do que mais gosto menos me contento.
Se assim medito e quase me abomino,
penso feliz em ti e meus pesares
(qual cotovia em voo matutino
deixando a terra) então cantam nos ares.
Tão rico me é teu doce amor lembrado,
que nem com reis trocava o meu estado.[5]
Tradução de Ivo Barroso
editar- Em decassílabos[nota 1]
Se, órfão do olhar humano e da fortuna,
Choro na solidão meu pobre estado
E o céu meu pranto inútil importuna,
Eu entro em mim a maldizer meu fado;
Sonho-me alguém mais rico de esperança,
Quero feições e amigos mais amenos,
Deste o pendor, a meta que outro alcança,
Do que mais amo contentado o menos.
Mas, se nesse pensar, que me magoa,
De ti me lembro acaso o meu destino,
Qual cotovia na alvorada entoa
Da negra terra aos longes céus um hino.
E na riqueza desse amor que evoco,
Já minha sorte com a dos reis não troco.[6]
Tradução de Milton Lins
editarQuando, sem sorte, encaro o olhar humano,
Comigo só, lamento um falso tino,
E agrido o surdo Céu com meu engano,
Voltado para mim, vem meu destino.
Desejo ter assim mais esperança
Com seu perfil sem par de muito amigo,
Sua arte possuir, perseverança
Em tudo que desfruto em seu abrigo;
Quase desgraça, a minha mente aflora.
Feliz eu penso em ti e minha sina
(Tal como a cotovia à luz da aurora,
no chao sombrio) ao Céu seu canto trina;
Lembrando o teu amor, meus bens banquei.
Não troco o meu sonhar nem com o rei.[7]
Notas e referências
Notas
Referências
- ↑ Bernhard Frank, "'SONETO 29' de Shakespeare", The Explicator Volume 64 No. 3 (2006): p. 136-137 - in: Sonnet 29
- ↑ «Shakespeare's Sonnets - Sonnet 99» (em inglês). Consultado em 28 de dezembro de 2024
- ↑ Thereza Christina Rocque da Motta (tradutora), SHAKESPEARE, William. 154 Sonetos. Em Comemoração Aos 400 Anos Da 1ª Edição 1609-2009. Editora Ibis Libris, 1ª edição, 2009. ISBN 8578230264
- ↑ SENA, Jorge de - Poesia de 26 Séculos, Antologia, tradução, prefácio e notas- Coimbra:Fora do Texto,1993 - in: Vício da Poesia
- ↑ «Soneto 29 de Shakespeare em português por Jorge de Sena e Vasco Graça Moura». Vício da Poesia. Consultado em 28 de dezembro de 2024
- ↑ a b Ivo Barroso. «Sobre duas versões de um soneto de Shakespeare». Scielo. Consultado em 28 de dezembro de 2024
- ↑ SHAKESPEARE, William - Sonetos de William Shakespeare / tradutor: Milton Lins. Recife: FacForm, 2005. ISBN 978-85-98896-04-5
Bibliografia
editar- Alden, Raymond. The Sonnets of Shakespeare, with Variorum Reading and Commentary. Boston: Houghton-Mifflin, 1916.
- Baldwin, T. W. On the Literary Genetics of Shakspeare's Sonnets. Urbana: University of Illinois Press, 1950.
- Booth, Stephen. Shakespeare's Sonnets. New Haven: Yale University Press, 1977.
- Dowden, Edward. Shakespeare's Sonnets. London, 1881.
- Hubler, Edwin. The Sense of Shakespeare's Sonnets. Princeton: Princeton University Press, 1952.
- Schoenfeldt, Michael (2007). The Sonnets: The Cambridge Companion to Shakespeare’s Poetry. Patrick Cheney, Cambridge University Press, Cambridge.
- Tyler, Thomas (1989). Shakespeare’s Sonnets. London D. Nutt.
- Vendler, Helen (1997). The Art of Shakespeare's Sonnets. Cambridge: Harvard University Press.
Ligações externas
editar- (em inglês) Análise do soneto