Toussaint Gurgel (Le Havre, França, 1576 - Rio de Janeiro, 1631) foi um corsário francês capturado em Cabo Frio em 1595. É mais conhecido por ser o ancestral da antiga família carioca dos Amaral Gurgel, que se ramificou em dois ramos principais: o do sudeste e o do nordeste. A família também se ramificou no exterior: Portugal, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau (antiga Guiné Portuguesa).

Toussaint Gurgel
Outros nomes Toussaint Grugel, Tacem Gurgel, Tourem Gorgel, Tucem Grugel, Toussen Gurgel
Nascimento 1576
Le Havre, Normandie, France
Morte 1631
Rio de Janeiro
Residência Rua Desvio do Mar, Rio de Janeiro - RJ, Brasil
Nacionalidade Francês
Cônjuge Domingas de Arão Amaral
Ocupação corsário, senhor de engenho,
Religião calvinista

Biografia

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Primeiros anos

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São muito escassas as informações sobre a vida de Toussaint na França, por esse motivo pouco se sabe dele na Europa.[1] Ele nasceu em Le Havre, França, era filho de pai alemão (Baviera) e de mãe francesa (Alsácia). Teve como professor de primeiras letras um pastor calvinista que lhes transmitiu as ideias e princípios de tal religião. Terminou os estudos no Liceu de Estrasburgo, e foi um dos alunos da primitiva Escola de Construção Naval e Hidrografia de Saint-Malo. Toussaint abraçou a vida no mar, e enquanto ainda vivia na Europa, navegou por todo o Mar Mediterrâneo (estas informações foram obtidas quando Toussaint foi interrogado, após ter sido preso no Brasil).[2][3][4][5]

Toussaint embarcou no navio Grand Roberge (quando tinha apenas 13 anos), sob o comando do Capitão Santa Maria. Enquanto, que o Vice-Almirante Bois Le Comte, manobrava o navio Petit Roberge. Nessa viagem com destino ao Brasil, Toussaint observou costumes dos índios tamoios, maracajás e tupinambás.[4][6][7][8]

Vida no Brasil

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Toussaint partiu de Saint-Malo comandando duas naus com destino ao Brasil, para contrabandear o pau-brasil, árvore muito apreciada na Europa.[9] Ao pisar novamente em solo brasileiro em 1595, encontrou a Vila de Cabo Frio em pé de guerra, já que os portugueses estavam batalhando contra os franceses remanescentes que ainda viviam no país, após o fracasso da França Antártica.[2][3][10] Toussaint ajudou seus conterrâneos, mas os lusos saíram vitoriosos, e o jovem corsário que contava com 27 anos foi feito prisioneiro pelo Coronel João Pereira de Sousa Botafogo.[5][11][12][13][14][15][16][17] O Coronel João Botafogo recebeu uma sesmaria de recompensa do Governador da Capitania do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá por ter vencido, a propriedade passou a ser conhecida como Botafogo, a região possui tal nome até os dias de hoje.[1]

Apesar de ter sido um inimigo de nação portuguesa, Toussaint foi autorizado pelo Governador da Capitania do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá a fixar residência no Brasil. O francês havia despertado a admiração de seu captor, por ter lutado até o fim (ainda que estivesse em menor número).[3] O provável motivo de Toussaint ter conseguido menagem na Vila de São Sebastião do Rio de Janeiro, foi devido aos seus conhecidos náuticos que foram empregados na pesca baleeira.[1] Enriqueceu com o comércio da pesca da baleia,[5] que era muito abundante nos meses frios na Baía de Guanabara. O cetáceo era capturado com facilidade e sua carne vendida no comércio local. O azeite, as barbatanas e a gordura exportados para o Reino de Portugal, rendendo um bom dinheiro nas terras d’além-mar. [3][10][18]

Toussaint se casou com Domingas em 1606,[19] e no mesmo ano, o francês comprou um engenho da Rua de Aleixo Manuel (originalmente denominada como Desvio do Mar, conhecida nos dias de hoje como Rua do Ouvidor), foi nessa propriedade que nasceram os filhos do casal. Domingas era afilhada do Coronel João Botafogo.[1][2][16][20][21] Embora já fosse rico, Toussaint só conseguiu ascender na sociedade colonial devido ao seu casamento com uma brasileira (filha de portugueses), e, isso ocasionou o seu enraizamento definitivo (aceitação) na elite carioca daqueles tempos. Os pais de Domingas são considerados um dos primeiros povoadores do Rio de Janeiro.[1]

Toussaint eventualmente ia para o interior da Capitania do Rio de Janeiro para caçar e pescar na companhia de amigos, escravos e índios mansos; e por lá ficava por dias e até mesmo semanas seguidas, deixando preocupados seus familiares. Tais estadias foram melhor explicadas quando faleceu, pois além de sua mulher e seus sete filhos, por ele choravam 41 filhos ilegítimos, concebidos com índias da tribo dos tamoios, em suas muitas aventuras nos ínvios e pestilentos sertões de além da Vila de São Sebastião do Rio de Janeiro.[2]

Genealogia

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Filhos

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De Domingas de Arão Amaral (1586 - 1654),[19][22] filha dos portugueses Antônio Diogo do Amaral (1550 - ?) e Michaela de Jesus Arão, teve:[2][3][23]

  1. Maria do Amaral Gurgel (1607 - 1671),[24] casada em 1621 em primeiras núpcias com Antônio Ramalho (1591 - ?), filho de Francisco Ramalho e Maria Mendes. Casada em 1634 em segundas núpcias com o Capitão Diogo da Fonseca (1604 - 1686), filho de Francisco Álvares da Fonseca (1572 - 1641) e Paula Rodrigues (1582 - 1642);[2][3][5][25][26]
  2. Padre Francisco do Amaral Gurgel (1610 - 1692), pertencia a ordem dos clérigos do hábito de São Pedro. Ele batizou e casou vários parentes;[1][2][3][5][25][26]
  3. Isabel do Amaral Gurgel (1613 - 1654), casada em 1634 com o francês Claude Antoine Besançon (1604 - 1677), filho dos franceses Antoine Besançon e Jeanne de Sollier. Claude se casou em segundas núpcias em 1660 com Maria Carvalha;[2][3][5][25][26]
  4. Ângela do Amaral Gurgel (1616 - 1695), casada em 1635 com o português Capitão João Batista Jordão (1605 - 1689), filho dos portugueses Antônio Nunes da Silva (1578 - ?) e Maria Jordão (1588 - ?). Pais de 7 filhos, dentre os quais se destaca: o Dr. Cláudio Gurgel do Amaral;[1][2][3][5][25][26][27]
  5. Méssia do Amaral Gurgel (1617 - 1687), casada em 1640 com o brasileiro Coronel José Nunes da Silva (1611 - 1689), irmão do Capitão João Batista Jordão (acima citado). Pais de 10 filhos, dentre os quais se destacam: o Capitão Bento do Amaral da Silva e o Coronel Francisco do Amaral Gurgel. [2][3][5][25][26][28]
  6. Bárbara Gurgel do Amaral (1619 - ?), casada com João Amaral Nogueira;[2][3][5]
  7. Antônia do Amaral Gurgel (1622 - ?), casada em 1646 com o português Dr. João de Azevedo Roxas (1616 - 1675), filho dos portugueses Afonso João e Antônia de Azevedo.[2][3][5][25][26]

Descendência

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Do casal Toussaint-Domingas descendem várias personalidades brasileiras:

Ver também

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Referências

  1. a b c d e f g SANTOS, Douglas Corrêa de Paulo (2017). Os Amaral Gurgel: Família, poder, e violência na América portuguesa (c.1600 - c.1725). Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, Instituto de História. pp. 270 páginas 
  2. a b c d e f g h i j k l m AMARAL, Heitor Luís Gurgel do (1964). Uma Família Carioca do Século XVI. Rio de Janeiro: São José. pp. 119 páginas 
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w AMARAL, Aldysio Gurgel do (1986). Na Trilha do passado - Genealogia da Família Gurgel. Fortaleza: Minerva. pp. 283 páginas 
  4. a b CORREA, José Guilherme (2007). Efabulações de um jovem aprendiz. Joinville: Clube dos Autores. pp. Páginas 8–16 
  5. a b c d e f g h i j k AMARAL, Miguel Santiago Gurgel do (1969). Porteiras e Currais. Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno. pp. 74 páginas 
  6. CORREA, José Guilherme (2006). The Passage of Time. Joinville: Clube dos Editores. pp. Páginas 8–13 
  7. CORREA, José Guilherme (2011). Unflashy, Matter Of Fact Flash Fiction. Joinville: Clube dos Editores. pp. Páginas 7–9 
  8. CORREA, José Guilherme (2016). Aurora Valeriana. Joinville: Clube dos Autores. pp. Página 45 
  9. LEME, Pedro Taques de Almeida Pais (1953). Volume II de Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica. São Paulo: Livraria Martins Editora. pp. Página 23 
  10. a b SIMONETTE, Ormuz Barbalho. «Origem da família Gurgel do Amaral e Amaral Gurgel». União Brasileira de Escritores RN. Consultado em 14 de dezembro de 2017. Cópia arquivada em 10 de dezembro de 2017 
  11. DORIA, Pedro (10 de maio de 2015). «O corsário francês encontra Botafogo». O Globo. Consultado em 14 de dezembro de 2017 
  12. MOYA, Salvador de; FOUQUET, Carlos (1967). Revista Genealógica Latina (Edição Especial) - Volume V de Famílias Brasileiras de Origem Germânica: Subsídios Genealógicos. São Paulo: Instituto Genealógico Brasileiro e Instituto Hans Staden. pp. Página 794 
  13. «Diligência de habilitação de António Félix de Mendonça Arrais de Almada». Portal Português de Arquivos. Consultado em 15 de dezembro de 2017 
  14. BOGACIOVAS, Marcelo Meira Amaral (2009). Franceses em São Paulo: Séculos XVI-XVIII. São Paulo: Revista da ASBRAP (Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia). pp. Página 231–288 
  15. LEME, Pedro Taques de Almeida Pais (1953). Volume I de Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica. São Paulo: Livraria Martins Editora. pp. Páginas 121 e 122 
  16. a b SOARES, Antônio Joaquim de Macedo (1878). Volume II de Nobiliarquia Fluminense - Genealogia das Principais e mais antigas famílias da Corte e da Província do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: [s.n.] pp. Página 19 
  17. BERTRAN, Paulo (1992). Revista Humanidades: América 500 anos - As primeiras descobertas dos cerrados centrais. Brasília: Edunb. pp. Página 234 
  18. LEAL, Adriano Barros (26 de março de 2011). «A Família Gurgel do Amaral no Ceará». Genealogia Cearense. Consultado em 14 de dezembro de 2017 
  19. a b BARATA, Carlos Eduardo de Almeida; BUENO, Antônio Henrique Cunha (2001). Tomo II de Dicionário das Famílias Brasileiras. São Paulo: Ibero-América. pp. Página 1162 
  20. ROSADO, Laíre. «Viagem a Santa Cruz II». Jornal O Mossoroense (Portal UOL). Consultado em 15 de dezembro de 2017 
  21. FRAGOSO, João (2000). A nobreza da República: notas sobre a formação da primeira elite senhorial do Rio de Janeiro (séculos XVI e XVII). Rio de Janeiro: Revista Topoi da Universiade Federal do Rio de Janeiro. pp. Página 61 
  22. SANTOS, Fábio Lobão Marques dos (2012). Entre honras, heróis e covardes: Invasões francesas e disputas político-militares (Rio de Janeiro, Século XVIII). Niterói: Universidade Federal Fluminense. pp. Página 44 
  23. BARATA, Carlos Eduardo de Almeida; BUENO, Antônio Henrique Cunha (1999). Tomo I de Dicionário das Famílias Brasileiras. São Paulo: Ibero-América. pp. Página 236 
  24. LEME, Luiz Gonzaga da Silva (1903). Volume VI de Genealogia Paulistana. São Paulo: Duprat & Cia. pp. Página 122 
  25. a b c d e f RHEINGANTZ, Carlos Grandmasson (1965). Tomo I de Primeiras Famílias do Rio de Janeiro - Séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Livraria Brasiliana. pp. Páginas 65, 117, 179 e 253 
  26. a b c d e f RHEINGANTZ, Carlos Grandmasson (1967). Tomo II de Primeiras Famílias do Rio de Janeiro - Séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Livraria Brasiliana. pp. Páginas 324–340, 367–368 
  27. TOPA, Francisco (2011). Nas origens da Literatura Brasileira. Um poeta luso-brasileiro desconhecido. Porto Alegre: Revista de Cultura e Literaturas de Língua Portuguesa Navegações. pp. Página 167 
  28. LEME, Pedro Taques de Almeida Paes (1869). Nobiliarquia Paulistana. São Paulo: Revista do Instituto Histórico Geográphico e Etnográphico do Brasil. pp. Página 257