Frente Nacional de Libertação de Angola

partido político angolano
(Redirecionado de União dos Povos de Angola)

A Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) é um partido político angolano orientado no espectro de centro-direita à direita.

Frente Nacional de Libertação de Angola
(FNLA)
Frente Nacional de Libertação de Angola
Presidente Nimi A Simbi
Vice-presidente Benjamim Manuel da Silva
Secretário-geral Aguiar António Laurindo
Fundação 10 de outubro de 1954 (70 anos)
Sede Luanda,  Angola
Ideologia Atualmente:
Democracia cristã[1]
Nacionalismo[1]
Regionalismo[2]
Anteriormente:
Tribalismo[3]
Pan-africanismo[4]
Anticomunismo[5]
Assembleia Nacional de Angola
2 / 220
Espectro político Centro-direita a direita[6]
Cores Branco, vermelho e amarelo
Página oficial
https://web.archive.org/web/2011*/fnla.net/

Foi fundado em 1954,[7] com o nome de "União das Populações do Norte de Angola" (UPNA), assumindo em 1958 o nome de "União das Populações de Angola" (UPA). Em 1962, a UPA, ao absorver outro grupo anticolonial — o Partido Democrático de Angola (PDA) —, constituiu a FNLA.[8][9]

A FNLA foi um dos movimentos nacionalistas angolanos durante a guerra anticolonial de 1961 a 1974, juntamente com a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). No processo de negociação da descolonização de Angola, em 1974/1975, bem como na Guerra Civil Angolana de 1975 a 2002, combateu o MPLA ao lado da UNITA. Desde 1991 é um partido político cuja importância tem vindo a diminuir drasticamente, em função dos seus fracos resultados nas eleições legislativas desde 1992.

História

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A FNLA, enraizada principalmente entre os congos, mas com aderentes também entre os ambundos e os ovimbundos, foi o primeiro movimento anticolonial a desenvolver actividades relevantes em Angola. Sua orientação era mais tribalista em vez de nacionalista (como era o caso do MPLA), além de ser mais conservadora que o MPLA e a UNITA, dado os compromissos imediatos com seus aliados externos: o Congo-Léopoldville de Joseph Kasa-Vubu e depois o Zaire de Mobutu Sese Seko, além dos Estados Unidos.[10]

Fundação

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Emblema da UPA

A FNLA foi criada em 7 de julho de 1954 como União dos das Populações do Norte de Angola (UPNA), em uma reunião realizada na cidade de Matadi,[11] no actual Congo-Quinxassa, por Manuel Barros Sidney Necaca, João Eduardo Pinnock (pai de Johnny Eduardo Pinnock) e Francisco Borralho Lulendo, tendo como finalidade inicial a disputa pela sucessão no Reino do Congo após a morte, no ano seguinte, do rei Pedro VIII.[12] Os objetivos iniciais da UPNA, portanto, era mais autonomia e independência de sua base tribal das autoridades portuguesas, apresentando como candidatos ao trono congolês Manuel Quidito,[13] João Eduardo Pinnock[14] e Álvaro Holden Roberto,[12] bem como uma linha ideológica mais religiosa próxima ao protestantismo.[15] Outra reunião da UPNA foi realizada clandestinamente no mesmo ano no Lobito por Roberto e,[12] por fim, em Quinxassa ocorre a fundação oficial a 10 de outubro de 1954,[12] quando, aconselhados pelo Comitê Americano para os Assuntos Africanos,[15] passa a incluir ativistas de várias origens do norte de Angola.[12] Roberto e Necaca eram os líderes da organização, com o primeiro tomando a condução dos negócios externos e contactos políticos[12] e o segundo as tarefas administrativas.[15] Nos primeiros dois anos de existência, por iniciativa de Barros Necaca, a UPNA operava em estreita colaboração com o partido quinxassa-congolês Associação dos Bacongos para a Unificação, a Conservação e o Desenvolvimento da Língua Congo (Abako) e estava fortemente influenciada por Joseph Kasa-Vubu.[13][16]

Durante a I Conferência dos Povos Africanos, em 7 de dezembro de 1958, a UPNA é convertida em União das Populações de Angola (UPA) por influência do Comitê Americano para os Assuntos Africanos[16] e de Julius Nyerere, Houari Boumédiène, Omar Oussedik, Frantz Fanon e Kwame Nkrumah.[12] Os líderes africanos convenceram a liderança da organização a adotar o nacionalismo e uma luta global pan-africanista[4] que incluísse todas as etnias pela descolonização angolana,[12] muito embora o tribalismo continuasse a dominar a ideologia partidária até o início da década de 1970.[15] Roberto já participa da reunião como agente duplo da Agência Central de Inteligência (CIA).[10]

O forte contacto político com a Frente de Libertação Nacional da Argélia e com os chineses permitiu o envio de cerca de 20 guerrilheiros angolanos para serem formados na Base Militar de Ghardimaou (Tunísia), que constituiu a primeira célula operacional e embrionária do que seria o Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA), já no ano de 1959.[12] Foi criada a icônica Base de Quincuzo da FNLA, em solo quinxassa-congolês, em 1959.[12]

No ano de 1959, porém, ocorre justamente a primeira grande dissidência no seio do partido, com Jean-Pierre Mbala, Borralho Lulendo e Miguel Moniz reclamando pela suavização ideológica e uma transição política negociada com Portugal, em vez da linha combativa e luta armada defendida por Roberto.[13] Mbala e Lulendo chegam a afastar Barros Necaca do comando do partido em outubro de 1960, com o primeiro a assumir a administração da agremiação política.[13] Barros Necaca atribui a Roberto o comando partidário interino, porém sua morte precoce[15] faz com que um congresso seja convocado com urgência para janeiro de 1961 para eleição de um novo líder e para solucionar a divisão cada vez maior do grupo.[13] No congresso, Roberto acaba por ser eleito líder máximo da UPA, e o grupo de Jean-Pierre Mbala, que havia sido reconhecido em janeiro de 1961 como representantes da UPA na Conferência de Chefes de Estado Africanos, no Congo-Brazavile, se desfilia para formar o Movimento de Defesa dos Interesses de Angola (MDIA).[13]

Guerra anticolonial

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A UPA iniciou a sua luta armada na região do norte de Angola em 15 de março de 1961,[11] nomeadamente no então distrito do Uíge, estendendo-se mais tarde para o sul, até à actual província do Bengo. Ela teve como retaguarda de luta o Zaire, actual República Democrática do Congo, a seu tempo liderada por Mobutu Sese Seko que — no quadro da sua política regional — manteve boas relações com o líder da FNLA, Holden Roberto. Este apoio possibilitou a constituição em Quinxassa, imediatamente depois da formação da FNLA, do Governo de Resistência de Angola no Exílio (GRAE), cujos vice-presidentes eram de proveniência ambunda, e cujo secretário-geral era o ovimbundo Jonas Savimbi, e posteriormente fundador da UNITA.[10] O braço armado do GRAE era o Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA), cujos comandantes provinham de várias partes de Angola, inclusive de Cabinda. Nem o MPLA nem a Frente para a Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) quiseram participar do GRAE, o que viria a ser decisivo para a complexa e contraditória configuração da luta anticolonial em Angola.[17]

Em 27 de março de 1962 a UPA absorve em suas estruturas o Partido Democrático de Angola (PDA),[12] liderado por André Ndomikalay Masaki,[12] como tentativa de formar uma frente única de luta anticolonial baseada em princípios étnicos-raciais.[10] O PDA chamava-se antes "Aliança Nacional Zombo" (Aliazo) e tinha raízes no tocoísmo, uma comunidade religiosa sincrética fundada por Simão Toco. A constituição da FNLA, como absorção do PDA pela UPA, na data referida, deu-se quando a breve experiência de uma frente comum com o MPLA, em Quinxassa, fracassou em 1961.[10] Meses depois, houve em Brazavile uma segunda tentativa de constituir uma frente comum, a "Frente Democrática de Libertação de Angola (FDLA)", que tampouco alcançou o seu objectivo, e acabou sendo absorvida pelo MPLA.[10] Na fundação do FNLA, David Livromentos assumiu a presidência da organização, mas faleceu no mesmo ano sendo substituído por André Ndomikalay Masaki que lidera a organização até 1972, quando centraliza-se tudo novamente com Holden Roberto — a destacar que Roberto como presidente do GRAE era o líder de facto da FNLA.[18]

A aparente apatia no processo de luta armada e política no partido levou a formação de frações internas, chegando a haver confrontos militares, como foi o caso da sublevação e tentativa de golpe de Alexandre Pedro Claver Taty,[19] que tentou tomar o comando da FNLA e depois (ao ter falhado no plano) rompeu com a liderança para ingressar nas forças portuguesas, na Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) e na Junta Militar Angolana no Exílio (JMAE).[19]

Apesar dos apoios por parte de Mobutu, mas também durante algum tempo da parte da China e da Roménia, a luta armada desenvolvida pela FNLA/ELNA contra a potência colonial portuguesa teve fortes limitações. Ao dar este apoio, chineses e romenos (estes somente num primeiro momento apoiaram a FNLA) fizeram deliberadamente frente à então União Soviética que tinha optado por um apoio exclusivo ao MPLA. Diferentemente dos outros dois grupos, o FNLA/ELNA não conseguiu resistir aos contra-ataques militares portugueses, além de ser continuamente limitada por Mobutu, que trabalhava somente por seus próprios interesses.[10] Não teve a capacidade de manter o controle sobre qualquer parcela do território angolano — para além do autoproclamado "Estado Livre de Angola", no noroeste do país, durante alguns meses em 1961 — embora tivesse marcado certa de presença, sob a forma de actividades de guerrilha, no norte e noroeste angolano.[20] Uma tentativa de abrir uma segunda frente no leste de Angola, a partir de 1966, não foi para além da constituição de um pequeno núcleo de guerrilha em Alto Chicapa, cujas actividades foram muito limitadas dada a presença da UNITA e do MPLA na mesma área.[21]

De 1972 a 1975

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Recrutas da FNLA em treinamento em uma base no Zaire, em 1973

Em meados de 1972 Holden Roberto tenta uma aproximação com Agostinho Neto, incluíndo a proposta de retorno do MPLA ao GRAE com o objetivo da criação de uma frente única que lutasse contra Portugal.[22] Roberto deveria permanecer na presidência, enquanto que Neto seria o vice-presidente.[22] Com a publicação de denúncias de uma purga interna na FNLA com fuzilamento dos comandantes do ELNA na Base de Quincuzo, no Congo-Quinxassa, Roberto afasta o presidente André Masaki, sem passar pelo congresso como estipulava os estatutos da FNLA; Roberto tornou-se novamente presidente da FNLA.[23] A repressão faz com que vários oficiais da FNLA filiem-se ao MPLA em Brazavile, com a aproximação dos movimentos declinando definitivamente.[22]

Terminada a luta de libertação, na sequência da revolução dos cravos de 25 de Abril de 1974 em Portugal, os três movimentos (MPLA, FNLA e UNITA) são chamados a assinar o Acordo do Alvor de partilha do poder,[4] estabelecendo o Conselho Presidencial do Governo de Transição. A paz dura poucos meses e inicia-se entre os movimentos uma luta armada pelo poder.[24] A FNLA passa a ser reforçada por quadros e pela experiência de Daniel Chipenda (rompido com o MPLA) que filia-se em setembro de 1974.[25] Ganha terreno no leste, apoiada agora também pela África do Sul a partir dos contactos de Chipenda.[25]

Dados os seus efectivos bem treinados e equipados,[4] o FLNA/ELNA parecia ter uma vantagem evidente na nova etapa das contendas iniciadas em fevereiro de 1975 na província de Luanda pela fracção de Chipenda,[25] no intuito de garantir o controle do Estado angolano.[25] Marchando em Angola pelo nordeste, o efetivo principal do ELNA/FNLA avançou com alguma facilidade, tomando Ambriz e se posicionando próximo a Caxito, ao norte de Luanda, onde foi barrada por forças do MPLA apoiadas por um forte contingente de tropas cubanas na batalha de Quifangondo.[25]

Abandonando o seu plano de chegar até Luanda, o FLNA despachou várias das suas unidades para o centro e o sul de Angola, tomando Menongue e estabelecendo tropas em Benguela e Luena, concluíndo uma aliança com a UNITA no Huambo.[25] No dia 11 de Novembro de 1975, enquanto o MPLA declarava em Luanda a independência do país, UNITA e FNLA proclamam no Huambo e em Ambriz a criação da República Popular Democrática de Angola, um "contra-governo" que teve o apoio dos Estados Unidos e do então regime sul-africano do apartheid, que isolou a FNLA e a UNITA no continente africano.[25] Face à superioridade militar das forças cubanas e do MPLA, apoiadas pela União Soviética, a aliança FNLA-UNITA desfez-se no entanto rapidamente, ocorrendo combates entre os dois antigos aliados em Benguela e no Huambo.[20] As tropas governamentais das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), com apoio cubano e soviético, lançaram uma contra-ofensiva maciça.[20] No início de 1976, a FNLA praticamente deixou de existir como força político-militar significativa.[20] Ambriz caiu em 11 de janeiro de 1976.[20] Em 15 de fevereiro Mabanza Congo, a última cidade significativa sob comando do FNLA, foi tomada pelas forças ango-cubanas. Ao mesmo tempo, Holden Roberto perdeu o apoio do presidente zairense Mobutu e da CIA estadunidense devido à sua recusa em cortar relações com a China.[26]

Período pós-colonial

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Durante a primeira fase pós-colonial, a FNLA quase desapareceu do campo militar e político.[4] Uma vez que o MPLA tinha instalado um regime monopartidário que, a partir de 1977, professava o marxismo-leninismo, outros movimentos ou partidos — portanto também a FNLA — não podiam, durante este período, ter uma existência legal em Angola.[4]

As formações armadas da FNLA/ELNA dispersaram-se e cessaram a resistência em 1976.[4] Um grupo de mercenários europeus e estadunidenses liderados por um paraquedista britânico, o grego-cipriota Costas Georgiou (ou "Coronel Callan"), foi capturado no mesmo ano e julgado em Luanda. A associação dos mercenários de Georgiou com a FNLA e Roberto passou a ser vista como traição nacional e um crime de guerra.[27]

Entre 1976-1978, a FNLA tentou reestruturar suas unidades de combate e terreno, entrando periodicamente em território angolano. Através dos esforços de Lucas Ngonda e Ngola Kabangu, houve sucesso parcial em recriar uma estrutura de guerrilha no Uíge. No entanto, as ações foram ineficazes em garantir o controle de zonas territoriais no longo prazo. As ameaças de Paulo Tuba de lançar ações de sabotagem e terror contra o MPLA e seus aliados estrangeiros (até os bombardeios de embaixadas) foram vistas como um "grito de desespero" e minaram bastante o prestígio da FNLA e de Roberto.[28] Quem verdadeiramente conseguiu travar uma guerra de guerrilha contra o Estado angolano pós-colonial foi Savimbi à frente da UNITA.[4] Parte dos combatentes da FNLA fugiu do avanço das tropas do MPLA para a Namíbia (na altura ocupada pela África do Sul), onde se juntaram à UNITA ou participaram em incursões na legião estrangeira sul-africana, o 32º Batalhão de Elite da África do Sul.[29]

Em 1979, o Zaire iniciou o processo de normalização gradual das relações com Angola. Isso significou a redução dos esforços de luta armada por parte da FNLA, com o Zaire inclusive a expulsar do país a maior parte da liderança do partido.[11] A partir de então a participação da FNLA na Guerra Civil Angolana foi ficando cada vez mais fraca e acabou por praticamente deixar de existir. O movimento entrou numa fase de degenerescência, cujo indicador porventura mais forte foi o facto de Holden Roberto passar a residir no Gabão e depois em Paris durante muitos anos. As derrotas político-militares estimularam a oposição a Holden Roberto. Em 12 de agosto de 1980, Pedro Hendrick Vaal Neto e Paulo Tuba instituíram o Conselho Militar da Resistência em Angola (COMIRA). Um mês depois, em 15 de setembro, anunciaram o afastamento de Roberto da liderança e a adesão da FNLA ao COMIRA. No entanto, o projeto concebido para intensificar a luta armada clandestina em Angola não foi desenvolvido. Em 1983 as atividades do COMIRA cessaram.[30] O estatuto de líder da FNLA foi retomado por Roberto.

Em 1983/1984, nos preparativos do Primeiro Acordo de Lusaca, inclusive com anistia política, houve a passagem para o lado do MPLA de alguns dos seus dirigentes, como Johnny Eduardo Pinnock e Pedro Hendrick Vaal Neto, que chegaram a fazer parte, a partir da década de 1990, do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional. Ressalta-se que em 1983 foi anunciada oficialmente a cessação das hostilidades do ELNA (que há muito tempo não eram conduzidas). Alguns comandantes influentes do ELNA — destacadamente Afonso Tonta de Castro —, ao lado de 1800 militares, passaram para o lado do governo e entraram ao serviço das FAPLA.[31]

Desde a tentativa de arrefecimento da Guerra Civil Angolana em 1984, o Zaire diminuiu ainda mais o suporte à FNLA, fazendo com que Roberto enviasse uma carta em 4 de dezembro de 1987, endereçada ao presidente angolano José Eduardo dos Santos e ao líder da UNITA Jonas Malheiro Savimbi oferecendo margem para um primeiro plano de paz que incluísse a FNLA.[11] Seguiu-se a "Declaração de Gebadolite", de 22 de junho de 1989, de normalização das relações entre Angola e o Zaire/Congo-Quinxassa,[32] quando a posição da FNLA enfraqueceu-se sobremaneira, renunciando de vez a luta armada.[10] Mesmo com tal empreitada diplomática por parte de Roberto, que abriu as possibilidades para os Acordos de Bicesse, o partido foi totalmente excluído das negociações.[11]

Quando, em 1989, o governo do MPLA sinalizou que faria a passagem de Angola para um sistema de democracia multipartidária, indicando as primeiras eleições para 1992, a FNLA constituiu-se em partido político em janeiro de 1990, com os últimos quadros de seu braço armado, o ELNA, integrando-se às Forças Armadas Angolanas em 1991. Porém, os resultados do escrutínio foram-lhe extremamente desfavoráveis: nas eleições legislativas obteve 2.40%, e nas eleições presidenciais Holden Roberto obteve 2.11%. Estes resultados refletiam a radical perda de credibilidade da FNLA — mesmo entre os congos onde, por sinal, se constituíram vários outros partidos (como a refundação do PDA, com António Alberto Neto) que concorreram às eleições sem sucesso, diminuindo ainda mais o eleitorado da FNLA.[33]

O conjunto destes desenvolvimentos levou à divisão do partido em duas alas em 1999, sendo uma delas liderada pelo sociólogo Lucas Ngonda, professor da Universidade Agostinho Neto.[34] A crise interna levou a realização de um congresso partidário em finais de 1999, quando Ngonda foi eleito presidente da agremiação.[35] O congresso nunca foi reconhecido pela ala de Roberto.[35] A situação foi parcialmente resolvida em abril de 2004, quando Ngonda e Roberto celebraram um acordo de reconciliação numa cerimônia no Palácio dos Congressos.[36] O acordo fixou um novo congresso partidário para outubro de 2004, que reconduziu interinamente Roberto à presidência, tendo como vice-presidente Ngola Kabangu.[35] Os prazos da interinidade, de somente 10 meses, não foram respeitados por Roberto, ao que a cisão do partido reacendeu-se em 2005.[35]

A aproximação das segundas eleições legislativas em Angola, em 2008, levou a que as duas alas negociassem o reencontro que no entanto não se realizou, tendo Holden Roberto falecido em 2007.[37]

FNLA pós-Roberto

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O vice-presidente do partido, Ngola Kabangu, assumiu a presidência em 2007 e tentou costurar uma pacificação para as eleições de 2008. Nas referidas eleições, a FNLA obteve ainda menos votos do que em 1992, ficando-se pelos 1.11% e deixando de ser um actor político relevante.[38] Kabangu realizou um congresso em 2009 que o confirmou presidente do partido, mas a contestação da ala de Ngonda seguiu.[39]

Kabangu foi presidente do FNLA até o III Congresso Ordinário do partido, realizado de 20 a 22 de dezembro de 2011. Foi derrotado por Lucas Ngonda, mas contestou os resultados judicialmente, com a agremiação entrando em um novo período de lutas internas.[40][41][42] Kabangu seguiu presidente do partido até o Tribunal Constitucional julgar, em 2012, nulo o congresso de 2009 e um congresso extraordinário de sua ala em 2011,[43] e reestabelecer os direitos de Ngonda à 2004, passando este a ser presidente do partido e deputado.[44]

Nas eleições de 2012, a percentagem do votos foi sensivelmente a mesma, mas o partido perdeu mais um deputado, ficando reduzido a apenas 2 representantes na Assembleia Nacional de Angola.[38] Nas eleições de 2017 reduziu-se a um parlamentar.[38]

Durante toda a década de 2010 as alas de Ngonda e de Kabangu disputaram o controle do partido,[45] com a última realizando vários congressos nunca reconhecidos pelo Tribunal Constitucional.[38] Em 2019 a ala de Kabangu tentou eleger Ndonda Nzinga, mas não houve reconhecimento.[34] Em agosto de 2021 Lucas Ngonda disputou a reeleição para a presidência da FNLA com o secretário-geral do partido, Pedro Dala, e foi derrotado. Menos de um mês depois um novo congresso foi realizado destituíndo Dala, refletindo as divisões entre Kabangu e Ngonda.[46] As disputas entre os dois somente terminaram após a eleição de Nimi A Simbi como presidente do partido em setembro de 2021.[47]

Para as eleições gerais de Angola de 2022, o partido indicou Nimi A Simbi como cabeça de lista,[47] tendo Benjamim Manuel da Silva como vice-cabeça de lista.[48] O partido ficou em quarto nas eleições, com 66.337 de votos nas urnas, registrando 1,06%, uma melhora em seus resultados eleitorais, conquistando 2 cadeiras parlamentares, face ao único assento das eleições de 2017.[49]

Organização

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Mantém uma ala jovem, a Juventude da Frente Nacional de Libertação de Angola (JFNLA),[39] e uma ala feminina, a Associação da Mulher Angolana (AMA).[50]

Resultados eleitorais

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Eleições presidenciais

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Data Candidato 1ª Volta 2ª Volta
CI. Votos % CI. Votos %
1992 Holden Roberto 4.º 83 135
2,11 / 100,00
Não se realizou

Eleições legislativas

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Data Líder CI. Votos % +/- Deputados +/- Status
1992 Holden Roberto 3.º 94 742
2,40 / 100,00
5 / 220
Oposição
2008 Ngola Kabangu 5.º 71 416
1,11 / 100,00
 1,29
3 / 220
 2 Oposição
2012 Lucas Ngonda 5.º 65 163
1,13 / 100,00
 0,02
2 / 220
 1 Oposição
2017 Lucas Ngonda 5.º 61 394
0,91 / 100,00
 0,22
1 / 220
 1 Oposição
2022 Nimi A Simbi 4.º 65 223
1,05 / 100,00
 0,14
2 / 220
 1 Oposição

Líderes do partido

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Presidentes

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Período UPNA
Período UPA
Período FNLA
Período FNLA-COMIRA
  • Pedro Hendrick Vaal Neto (1980-1983)
Período FNLA

Ver também

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Referências

  1. a b Projet de Societé Arquivado em 5 de agosto de 2010, no Wayback Machine., official FNLA website (French and Portuguese)
  2. Dezenas de militantes da FNLA exigem renúncia do líder em manifestação em Luanda. DN. 20 de agosto de 2018.
  3. «A revelação é do General Gato: "Savimbi morreu em 1991"». Angonotícias 
  4. a b c d e f g h Anselmo de Oliveira Rodrigues; Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon (Janeiro de 2019). «Do acordo Tripartido (1988) ao acordo de Paz em 2002: o processo de paz conduzido em Angola». Porto Alegre. Revista Brasileira de Estudos Africanos. 4 (7): 51-83 
  5. Silva, Márcia Maro da. (2007). A independência de Angola (PDF). Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão 
  6. JUSTINO, Jofre. A actual UNITA traiu o espírito de Muangai. Maputo, 2006
  7. «História do FNLA». Site da FNLA. Consultado em 19 de janeiro de 2011. Arquivado do original em 13 de dezembro de 2009 
  8. John Marcum, The Angolan Revolution, vol. I.
  9. H., DUARTE; J., Carlos. «Angola - Imperialismo - Mobutu - FNLA - Neocolonialismo». Associação Tchiweka de Documentação. Consultado em 8 de novembro de 2024 
  10. a b c d e f g h João Paulo Henrique Pinto (dezembro de 2016). «A questão identitária na crise do MPLA de (1962-1964)». Irati: Universidade Estadual de Ponta Grossa. Revista TEL. 7 (2): 140-169. ISSN 2177-6644 
  11. a b c d e Ngola Kabangu (28 de maio de 2001). «Holden Roberto». Comissão de Justiça, Paz e Reconciliação em Angola-CJPRA. Cópia arquivada em 21 de janeiro de 2005 
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  13. a b c d e f João Paulo Henrique Pinto (2016). A identidade nacional angolana – definição, construção e usos políticos (PDF). Niterói: Universidade Federal Fluminense. p. 104-105 e 110-111 
  14. Daniel Deliberali (2016). Estado e poder em Angola: a trajetória do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a construção do Estado Angolano (1956-1992) (PDF). Santana do Livramento: Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA. p. 35 e 36 
  15. a b c d e Selma Pantoja (2018). Leituras Cruzadas sobre Angola e Brasil: Identidade, Memória, Direitos e Valores. 1. Jundiaí-SP: Paco e Littera 
  16. a b Carlos Domingos António Milagre (2016). A UPA e o processo de luta anti-colonial nas obras de John Marcum (PDF). Redenção-CE: Instituto de Humanidades (IH), Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. 47 páginas 
  17. A fonte principal para esta parte é o vol. I de livro de referência de John Marcum: ver "Bibliografia". Veja também Lúcio Lara (org.), Um amplo movimento: Itinerário do MPLA através de documentos de Lúcio Lara, especialmente o vol. II (1961-1962), Luanda: Ed. Lúcio Lara, 2006
  18. André Ndomikalay Masaki, “o órfão de coração ferido”, antigo presidente da FNLA. Wizi-Kongo. 6 de agosto de 2017.
  19. a b João Baptista Gime Luís (2021). Elites independentistas e nacionalismo no século XX: Angola (1956-1975) (PDF). Lisboa: Universidade de Lisboa 
  20. a b c d e «Retrospectiva Internacional» (PDF). Moçambique. Revista Tempo (275): 35-48. 1975 
  21. Nos Trilhos da Independência: 90 dias pelo Leste de Angola. Buala. 30 de setembro de 2013.
  22. a b c Alberto André Carvalho Francisco (2013). A política externa de Angola durante a Guerra Fria (1975-1992) (PDF). Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais). Brasília: Universidade de Brasília. 129 páginas 
  23. David Livromentos, primeiro presidente da FNLA em 1962. Wizi-Kongo. 18 de agosto de 2017.
  24. Franz-Wilhelm Heimer, O processo de descolonização em Angola, 1974-75, Lisboa: A Regra do Jogo, 1979
  25. a b c d e f g Angola. Casa Comum.
  26. «General Tonta recorda memórias de Kifangondo (Entrevista)». Consultado em 21 de abril de 2018. Cópia arquivada em 21 de abril de 2018 
  27. Hoover, Mike J. (1977). «The Laws of War and the Angolan Trial of Mercenaries: Death to the Dogs of War». Case Western Reserve Journal of International Law. 9 (2) 
  28. FNLA THREATENS TERRORISM
  29. Batalhão Búfalo: um passado enviesado. BBCparaAfrica.com. 19 de maio de 2005.
  30. Jacqueline Kalley, Elna Schoeman. Southern African Political History: A Chronology of Key Political Events from Independence to Mid-1997 / Greenwood, 1999.
  31. «O ELNA e a Batalha de KIFANGONDO». Consultado em 20 de abril de 2018. Cópia arquivada em 5 de julho de 2019 
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  33. Sellström, Tor (1999). Sweden and National Liberation in Southern Africa. [S.l.: s.n.] 120 páginas 
  34. a b Crise na FNLA resulta em dois congressos. Novo Jornal. 26 de junho de 2018.
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Bibliografia

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  • Adriano Araujo "Angola no período das independências", Luanda 1999