Caramuru
Diogo Álvares Correia (Viana do Minho, 10 de Janeiro de 1475[1] — Tatuapara, 5 de outubro de 1557), também conhecido como Caramuru (do tupi karamuru, moreia, nome de um peixe[2]), foi um náufrago português que passou a vida entre os indígenas da costa do Brasil e que facilitou o contato entre os primeiros viajantes europeus e os povos nativos do Brasil. Recebeu a alcunha de Caramuru pelos Tupinambá.[3] É considerado o fundador do município baiano de Cachoeira.[4]
Caramuru | |
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Chegada de Diogo Álvares Correia à Bahia
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Nome completo | Diogo Álvares Correia |
Nascimento | 10 de janeiro de 1475 Viana do Minho (atual Viana do Castelo), Reino de Portugal |
Morte | 5 de outubro de 1557 (82 anos) Tatuapara, Capitania da Baía de Todos os Santos, Brasil Colônia |
Nacionalidade | portuguesa |
Cônjuge | Catarina Álvares Paraguaçu (c. ?) |
Filho(a)(s) | Anna Álvares Correia Genebra Álvares Correia Apolônia Álvares Correia Grácia Álvares Correia Gaspar Álvares Marcos Álvares Manoel Álvares João Álvares Diogo Álvares Brites Álvares Felipa Álvares Madalena Álvares Helena Álvares Isabel Álvares Catarina Álvares |
Ocupação | explorador |
Religião | católica |
Biografia
editarDa principal nobreza de Viana, vindo ter à Bahia por acaso da fortuna, Diogo alcançou a costa na altura do Arraial do Rio Vermelho como náufrago de uma embarcação francesa, entre 1509 e 1510[5] ou, segundo outras fontes, após 1530.[6] Acerca do episódio, afirma-se:[7][8]
“ | Viajando para São Vicente por volta de 1510, o Fidalgo da Casa Real Diogo Álvares naufragou nas proximidades do Rio Vermelho, em Salvador, na baía de Todos os Santos. Seus companheiros foram mortos pelos Tupinambá, mas ele conseguiu sobreviver e passou a viver entre os índios, de quem recebeu a alcunha de Caramuru, que significa moreia. | ” |
O apelido seria uma referência ao fato de Diogo Álvares ter sido encontrado pelos indígenas em meio às pedras da praia e às algas, como se fosse uma moreia.[4] Segundo outra versão, muito difundida, embora contestada por vários historiadores,[8] ele teria conseguido impor-se definitivamente perante os indígenas por ter disparado para o ar uma arma de fogo, desconhecida dos indígenas, os quais, muito assustados, teriam passado a chamá-lo, desde então, "Caramuru", nome para o qual foram atribuídos muitos significados, a depender da fonte consultada: 'filho do fogo', 'filho do trovão', 'homem do fogo', 'dragão do mar', 'dragão que o mar vomita', peixe semelhante à moreia, grande moreia ou 'aquele que sabe falar a língua dos índios'. O episódio da arma de fogo - pela primeira vez referido, por escrito, pelo padre jesuíta Simão de Vasconcelos -, aparece em quase todas as narrativas sobre o Caramuru até meados do século XIX. Varnhagen foi o primeiro a duvidar desse relato e a ironizá-lo. Historiadores posteriores, porém, continuaram a repetir a mesma história.[6] As origens nobres de Diogo Álvares começariam a ser afirmadas no século XVII, com Frei Vicente do Salvador[9] e o padre Simão de Vasconcelos,[10] prosseguindo com Sebastião da Rocha Pita, no século XVIII.[11]
O náufrago foi bem acolhido pelos Tupinambás, a ponto de o chefe deles, Taparica, ter-lhe dado uma de suas filhas, Paraguaçu, como esposa. Ao longo de quatro décadas Correia manteve contatos com os navios europeus que aportavam ao litoral da Bahia em busca de madeira da "Caesalpinia echinata" (pau-brasil) e outros géneros tropicais. As relações com exploradores franceses[6]:3 levaram-no, entre 1526 e 1528, a visitar aquele país, onde a companheira foi batizada em Saint-Malo, Catherine du Brésil, possivelmente em homenagem a Catherine des Granches, esposa de Jacques Cartier, que foi a sua madrinha. Posteriormente, Paraguaçu passaria a ser referirda como Catarina Álvares Paraguaçu.[12][13] Na mesma ocasião, foi batizada outra índigena Tupinambá, Perrine, o que fundamenta outra lenda segundo a qual várias índigenas, por ciúmes, teriam se jogado ao mar para acompanhar Caramuru quando este partia para a França com Paraguaçu.
Sob o governo do donatário da capitania da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, recebeu importante sesmaria, tendo procurado exercer uma função mediadora entre os colonos e os indígenas, não conseguindo, todavia, evitar o reencontro de Itaparica, onde, após naufrágio do bergantim que possuía vindo de Porto Seguro, Pereira Coutinho perdeu a vida devorado pelos tupinambás no local hoje conhecido como Cacha Pregos. Diogo Álvares, por suas ligações e proeminência entre os indígenas, escapou ileso, retornando a Salvador.
Conhecedor dos costumes nativos, Diogo Álvares contribuiu para facilitar o contato entre estes e os primeiros missionários e administradores europeus. Em 1548, tendo D. João III de Portugal formulado o projeto de instituição do governo-geral no Brasil, recomendou ao Caramuru que criasse condições para que a expedição de Tomé de Sousa fosse bem recebida, fato que revela a importância que o antigo náufrago alcançara também na Corte portuguesa.
Foi sepultado no Mosteiro de Jesus, hoje Catedral-Basílica Primacial de São Salvador, em Salvador, que era Colégio da Companhia de Jesus, à qual deixou metade dos seus bens.[14]
O seu naufrágio e vida junto aos indígenas foram envoltos em contornos de lenda na obra do padre jesuíta Simão de Vasconcelos, em 1680, na qual se inspirou, um século mais tarde, frei José de Santa Rita Durão para compor o poema épico em dez cantos Caramuru (1781).[15]
Linhagem
editarDiogo teve ao todo quatro filhas com Paraguaçu:[1][16][17]
- Anna Álvares Correia, casada com Custódio Rodrigues Correia (Santarém -), com descendência;
- Genebra Álvares Correia (Bahia, c. 1520 -), casada com Vicente Dias de Beja (Beja, c. 1505 - Bahia, 1570), Moço Fidalgo da Casa do Infante D. Luís de Portugal, Duque de Beja, Fidalgo alentejano, "protegido do Infante D. Luiz" (irmão do rei D. João III de Portugal e figura importante na Corte, Cavaleiro da Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo, que chegou ao Brasil vindo em companhia do donatário da capitania da Bahia Francisco Pereira Coutinho em fins de 1536, com descendência;[18][19][20][21][22][23]
- Apolônia Álvares Correia, casada com o Capitão João de Figueiredo Mascarenhas, o Boatucá, Buatacá ou Mboy-Tatá (o Cobra de Fogo) (Faro, 1537 - Bahia), Fidalgo Cavaleiro da Casa Real em 1567, com descendência;
- Grácia Álvares Correia, casada com Antão Gil (Évora - 31 de Outubro de 1603), com descendência.
E além destes, teve inúmeros filhos com outras esposas indígenas, como era comum entre os Tupinambás:[1][24][25]
- Gaspar Álvares, casado com Maria Rabelo, Rabello, Rebelo ou Rebello, irmã de Lopo Rabelo, Rabello, Rebelo ou Rebello, Escrivão da Alçada;
- Marcos Álvares;
- Manoel Álvares (da mesma mãe de João);
- João Álvares (da mesma mãe de Manoel);
- Diogo Álvares;
- Brites Álvares, casada com Antônio Vaz, com descendência;
- Felipa Álvares Dias, casada com Paolo dito Paretino di Giacomo Adorno, logo Paulo Dias Adorno (- Rio de Janeiro, Capitania do Rio de Janeiro, 1573), com descendência;
- Madalena Álvares, considerada a primeira mulher alfabetizada do Brasil, casada com Afonso Rodrigues, com descendência;
- Helena Álvares, casada com João Luiz, com descendência;
- Izabel Álvares, casada com Francisco Rodrigues, com descendência;
- Catarina Álvares, casada com Gaspar Dias, com descendência.
Na mídia
editarEm 2001, a sua história foi transformada em um filme brasileiro Caramuru - A invenção do Brasil. No filme, Paraguaçu tinha como irmã a lendária Moema, originariamente citada (sem essa relação de parentesco) no poema "Caramuru" de Frei Santa Rita Durão (1781).
Ver também
editar- Caramuru, livro do Frei José de Santa Rita Durão
- Caramuru - A invenção do Brasil, filme brasileiro de Guel Arraes
- Fogos Caramuru - fabricante brasileira de fogos de artifício baseada no estado de São Paulo
- João Ramalho
Referências
- ↑ a b c DE AVILA, Christovão, Brasões de Armas: Armoral Histórico da Casa da Torre de Garcia D'Ávila, 1. ed. Hexis Editora, 2014.
- ↑ NAVARRO, E. A. Método moderno de tupi antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos. Terceira edição. São Paulo: Global, 2005. p. 213
- ↑ S.A, Priberam Informática. «caramuru». Dicionário Priberam. Consultado em 24 de novembro de 2022
- ↑ a b Ribeiro, Carlos Leite. «Efemérides - Caramuru (Diogo Álvares Correia) - Morreu a 6 de Outubro de 1557». Caestamosnos.org
- ↑ O historiador Pedro Calmon acredita que Caramuru já havia sido visto pelo guardacostas Cristóvão Jacques por volta de 1516. Ver Sobre o Brasil. Superinteressante, 31 de outubro de 2016.
- ↑ a b c Amado, Janaína. Diogo Alvares, o Caramuru, e a fundação mítica do Brasil. FGV, 1998, p. 7.
- ↑ CALDEIRA, Jorge. Viagem pela História do Brasil. "Capítulo I. Primeiros encontros (... - 1549)". Biografias: Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Companhia das Letras.
- ↑ a b Caramuru, o mito: conquista e conciliação. Por David Treece. Tradução de Marcos César de Paula Soares. Teresa - revista de Literatura Brasileira [12|13]; São Paulo, p. 307-344, 2013.
- ↑ SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brasil (1500-1627). São Paulo: Melhoramentos, 1965
- ↑ VASCONCELLOS, Simão de. Chronica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil.
- ↑ ROCHA PITTA, Sebastião da. História da America Portugueza desde o anno de mil e quinhentos do seu descobrimento até o de mil e setecentos e vinte e quatro. Lisboa: Francisco Arthur da Silva, 1880
- ↑ OBRY, Olga. Catherine du Brésil, filleule de Saint Malo. Paris: Nouvelles Editions Latines, 1953.
- ↑ LIMA, Susana. Grandes Exploradores Portugueses. Leya, 2012.
- ↑ JABOATÃO, A. DE S. M. Catálogo genealógico das principais famílias: que procederam de Albuquerques, e Cavalcantes em Pernambuco, e Caramurus na Bahia, tiradas de memorias, manuscritos antigos e fidedignos, autorizados por alguns escritores, e em especial o Theatro Genealógico de D. Livisco de Nazáo Zarco e Colona, aliás Manoel de Carvalho de Atahide, e acrescentado o mais moderno, e confirmado tudo, assim moderno, como antigo com assentos dos livros de baptizados, cazamentos, e enterros, que se guardam na Camara Ecceziastica da Bahia. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, tomo LII, parte 1, 1889.
- ↑ «Caramuru - Frei José Santa Rita Durão». www.culturatura.com.br. Consultado em 24 de novembro de 2022
- ↑ MACEDO, J. O sangue do Caramuru no Cariri cearense: novos subsídios para o estudo dos Bezerra de Menezes. Itaytera, Crato (CE), n. 30, p. 111-120, 1986.
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- ↑ JABOATÃO, Fr. Antonio de S. Maria. Catálogo Genealógico das principais famílias que procederam de Albuquerques e Cavalcantis em Pernambuco e Caramurús na Bahia. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol.LII e Notas de Pedro Calmon ao Catálogo.
- ↑ CALMON, Pedro. Introdução e Notas ao Catálogo Genealógico das principais Famílias, de Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão. Salvador, Bahia. Empresa Gráfica da Bahia, 1985. 2v, 809 p.
- ↑ SOBRINHO, Bulcão. Famílias Bahianas, vol. I
- ↑ MOYA, Salvador de. Anuário Genealógico Brasileiro - Titulares do Império. Publicações do Instituto Genealógico Brasileiro. São Paulo, 1941 - ANO III. pp 482-502.
- ↑ CASTRO, Orlando Guerreiro de. Casa da Torre de Garcia de Avila, Varonia - Chefia - Representação. Rio de Janeiro, junho de 1961. 4 p.
- ↑ Certidões de Cartórios. Diversas.
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