Eleições estaduais em Minas Gerais em 1970
As eleições estaduais em Minas Gerais em 1970 ocorreram em duas fases conforme previa o Ato Institucional Número Três e assim a eleição indireta do governador Rondon Pacheco e do vice-governador Celso Machado foi em 3 de outubro e a escolha dos senadores Magalhães Pinto e Gustavo Capanema, além de 35 deputados federais e 59 estaduais aconteceu em 15 de novembro a partir de um receituário aplicado aos 22 estados e aos territórios federais do Amapá, Rondônia e Roraima. Em todo o país a ARENA obteve a maior parte dos cargos em disputa e em Minas Gerais o partido governista foi também o mais votado.[1][2][3][nota 1]
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Eleições estaduais em Minas Gerais em 1970 | ||||
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3 de outubro de 1970 (Eleição indireta) 15 de novembro de 1970 (Eleição direta) | ||||
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Candidato | Rondon Pacheco
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Partido | ARENA
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Natural de | Uberlândia, MG
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Vice | Celso Machado | |||
Votos | 61 | |||
Porcentagem | 100% | |||
Titular Eleito | ||||
Advogado nascido em Uberlândia e formado em 1943 na Universidade Federal de Minas Gerais, Rondon Pacheco enveredou pela política ao presidir o Centro Acadêmico Afonso Pena e a Federação Universitária Mineira de Esportes. Opositor do Estado Novo, atendeu ao convite de Pedro Aleixo e filiou-se à UDN sendo eleito suplente de deputado estadual em 1945. Dois anos depois foi convocado a exercer o mandato e assinou a Carta Magna estadual.[nota 2] Eleito deputado federal em 1950, 1954, 1958, 1962 e 1966, afastou-se do mandato e tornou-se secretário do Interior no governo Magalhães Pinto, a quem seguiu no apoio ao golpe de estado que derrubou o presidente João Goulart e resultou no Regime Militar de 1964.[4] A seguir migrou para a ARENA quando o Ato Institucional Número Dois impôs o bipartidarismo.[5] Chefe da Casa Civil no governo Costa e Silva,[nota 3] foi eleito presidente nacional da ARENA em 20 de novembro de 1969, já no governo do presidente Emílio Garrastazu Médici. A partir de 13 de fevereiro de 1970 coordenou o processo de escolha dos governadores de estado junto ao presidente da República e nele o próprio Rondon Pacheco foi designado para governar Minas Gerais.[6][7]
Natural de Araxá, o advogado Celso Machado graduou-se na Universidade Federal de Minas Gerais em 1916 e no ano seguinte foi nomeado delegado de polícia em Visconde do Rio Branco, onde permaneceu durante cinco anos. Jornalista, atuou na fundação de O Comércio e foi redator em O Rio Branco.[nota 4] Oficial de gabinete quando Daniel de Carvalho era secretário de Agricultura no governo Raul Soares, foi eleito deputado estadual em 1924 e reelegeu-se em 1927, mas preferiu assumir uma cadeira de vereador em Visconde do Rio Branco, para a qual também se elegera, e assumiu a presidência da Câmara Municipal. Pouco antes da Revolução de 1930 reelegeu-se deputado estadual, assumiu a direção do Minas Jornal e a seguir teve o mandato extinto. Eleito deputado federal, assinou a Constituição de 1934 e renovou o mandato, o qual foi extinto com a outorga do Estado Novo. Procurador da Fazenda Nacional no Rio de Janeiro, foi secretário de Justiça na interventoria de Benedito Valadares e em 1945 elegeu-se deputado federal via PSD, foi signatário da Constituição de 1946 e anos depois foi secretário de Segurança no governo Bias Fortes. Em 1970 retornou à vida pública ao ser escolhido vice-governador de Minas Gerais pela ARENA, falecendo seis meses antes do fim do mandato.[8][9]
Resultado da eleição para governador
editarPara esta eleição compareceram à Assembleia Legislativa de Minas Gerais 72 deputados estaduais sendo que os 11 representantes do MDB se abstiveram e assim a chapa oficial recebeu os votos da bancada da ARENA. Foram registradas as ausências de Amilcar Padovani, Eurípedes Craide, Fuhad Sahione e Jarbas Medeiros.[10]
Candidatos a governador do estado |
Candidatos a vice-governador | Número | Coligação | Votação | Percentual |
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Rondon Pacheco ARENA |
Celso Machado ARENA |
Biografia dos senadores eleitos
editarMagalhães Pinto
editarNascido em Santo Antônio do Monte, o advogado e banqueiro Magalhães Pinto formou-se na Universidade Federal de Minas Gerais, trabalhou Banco do Estado de Minas Gerais e depois foi morar no Rio de Janeiro onde prestou serviços ao Banco Real.[nota 5] Presidente da Associação Comercial de Minas Gerais e da Federação de Comércio de Minas Gerais, atuou no ramo da siderurgia e assumiu a presidência do Sindicato Nacional dos Exportadores de Ferro e Metais Básicos. Destituído das atividades que exercia ao assinar o Manifesto dos Mineiros condenando o Estado Novo,[11] fundou o Banco Nacional no ano seguinte. Incluído entre os fundadores da UDN, elegeu-se deputado federal em 1945 e assinou a Constituição de 1946. Nomeado secretário de Fazenda em 1947 pelo governador Milton Campos, reelegeu-se deputado federal em 1950, 1954 e 1958 e assumiu a presidência nacional da UDN em 1957.[12] Eleito governador de Minas Gerais em 1960, fez parte das articulações que derrubaram o governo João Goulart e instalaram o Regime Militar de 1964. Após deixar o Palácio da Liberdade foi eleito deputado federal pela ARENA em 1966 e licenciou-se do cargo quando o presidente Artur da Costa e Silva o nomeou ministro das Relações Exteriores, cargo mantido sob a autoridade da Junta Militar de 1969.[nota 3][13] Eleito senador em 1970, foi alçado à presidência do Senado Federal cinco anos depois durante o Governo Ernesto Geisel.[14][nota 6]
Gustavo Capanema
editarMineiro de Pitangui, o advogado Gustavo Capanema graduou-se em 1923 pela Universidade Federal de Minas Gerais e durante sua estadia em Belo Horizonte integrou o grupo de "intelectuais da rua da Bahia" ao lado de Abgar Renault, Carlos Drummond de Andrade, Mário Casasanta e Milton Campos, dentre outros.[15] Eleito vereador em sua cidade natal em 1927, apoiou a Revolução de 1930. Primo de Olegário Maciel, serviu ao mesmo como oficial de gabinete e secretário de Justiça e ocupou interinamente o governo mineiro em 1933 quando o titular faleceu. Preterido por Benedito Valadares na sucessão estadual, foi nomeado ministro da Educação em 23 de julho de 1934 pelo presidente Getúlio Vargas e só deixou o cargo em 30 de outubro de 1945 ao concluir a mais longa gestão de um ministro de estado no Brasil.[16][17] Eleito deputado federal pelo PSD em 1945,[18] assinou a Constituição de 1946 e renovou o mandato em 1950 e 1954. Amargou a suplência na eleição seguinte, mas foi ministro do Tribunal de Contas da União durante o Governo Juscelino Kubitschek. Efetivado parlamentar em 1961 com a renúncia de França Campos,[nota 7] renovou o mandato em 1962 e 1966 sendo eleito senador em 1970.[19]
Resultado da eleição para senador
editarConforme o Tribunal Superior Eleitoral houve 3.627.735 votos nominais (64,11%), 1.833.021 votos em branco (32,40%) e 197.542 votos nulos (3,49%), resultando no comparecimento de 5.658.298 eleitores.[1][20][21][nota 8]
Candidatos a senador da República |
Candidatos a suplente de senador | Número | Coligação | Votação | Percentual |
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Magalhães Pinto ARENA |
Ultimo de Carvalho ARENA |
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Gustavo Capanema ARENA |
Monteiro de Castro ARENA |
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Nogueira da Gama MDB |
Aquiles Diniz MDB |
Deputados federais eleitos
editarSão relacionados os candidatos eleitos com informações complementares da Câmara dos Deputados.[22][23]
Deputados estaduais eleitos
editarForam escolhidos 59 deputados estaduais para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais.[1][23]
Notas
- ↑ Nos territórios federais o pleito serviu apenas para a escolha de deputados federais, não havendo eleições no Distrito Federal e no Território Federal de Fernando de Noronha.
- ↑ Segundo arquivos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais o suplente Rondon Pacheco foi convocado em 2 de junho de 1947 como substituto de Miguel Batista.
- ↑ a b Com a doença e posterior afastamento do presidente Artur da Costa e Silva o poder foi entregue à Junta Militar de 1969 que conservou nos postos os ministros do líder enfermo.
- ↑ Não confundir com o jornal acriano de mesmo nome.
- ↑ No que diz respeito a este artigo a denominação das casas bancárias em questão receberam denominação contemporânea, mas à época o "Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais" e o "Banco da Lavoura de Minas Gerais" eram antecessores, respectivamente, do Banco do Estado de Minas Gerais e do Banco Real.
- ↑ A sede do governo mineiro foi transferida em 2010 para a Cidade Administrativa de Minas Gerais.
- ↑ França Campos abdicou do mandato para assumir a procuradoria-geral do Tribunal de Contas do Distrito Federal.
- ↑ Segundo a Constituição de 1946 (Art. 60 § 4º) cada senador seria eleito com o seu suplente e sob a mesma chapa de acordo com o Código Eleitoral de 1965.
- ↑ Morto num acidente automobilístico próximo a Montes Claros em 11 de abril de 1973, foi substituído por José Maria Alkimim, que faleceu em 22 de abril de 1974 e deu lugar a Gilberto Almeida.
- ↑ Renunciou ao mandato em prol de Humberto Souto após ser eleito prefeito de Montes Claros em 1972.
- ↑ Não confundir com o também político Pinheiro Chagas.
- ↑ Teve o mandato cassado por decisão do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais e a partir de 2 de março de 1973 foi substituído por Nilson Gontijo.
Referências
- ↑ a b c d BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1970». Consultado em 14 de julho de 2024
- ↑ BRASIL. Presidência da República. «Ato Institucional Número Três». Consultado em 26 de novembro de 2017
- ↑ BRASIL. Senado Federal. «Lei n.º 5.581 de 26/05/1970». Consultado em 14 de julho de 2024
- ↑ BRASIL. Câmara dos Deputados. «Biografia do deputado Rondon Pacheco». Consultado em 27 de novembro de 2017
- ↑ BRASIL. Presidência da República. «Ato Institucional Número Dois». Consultado em 27 de novembro de 2017
- ↑ Rondon, ao assumir a direção nacional da ARENA: soou a hora da responsabilidade (online). Folha de S.Paulo, São Paulo (SP), 21/11/1969. Primeiro caderno, p. 04. Página visitada em 27 de novembro de 2017.
- ↑ Rondon afirma que é pelo progresso (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 09/07/1970. Política e Governo, p. 03. Página visitada em 27 de novembro de 2017.
- ↑ BRASIL. Câmara dos Deputados. «Biografia do deputado Celso Machado». Consultado em 27 de novembro de 2017
- ↑ C. Machado é sepultado na Guanabara (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 14/09/1974. Primeiro caderno, p. 20. Página visitada em 27 de novembro de 2017.
- ↑ «Legislativos elegem; MDB faz restrições (online). O Estado de S. Paulo, São Paulo (SP), 04/10/1970. Geral, p. 04. Página acessada em 22 de maio de 2018». Consultado em 22 de maio de 2018
- ↑ «CPDOC – A Era Vargas: dos anos (19)20 a 1945. Manifesto dos Mineiros». Consultado em 22 de novembro de 2017
- ↑ BRASIL. Câmara dos Deputados. «Biografia do deputado Magalhães Pinto». Consultado em 27 de novembro de 2017
- ↑ «CPDOC – A trajetória política de João Goulart: biografia de Magalhães Pinto». Consultado em 27 de novembro de 2017
- ↑ BRASIL. Senado Federal. «Biografia do senador Magalhães Pinto». Consultado em 27 de novembro de 2017
- ↑ «A Era Vargas: dos anos (19)20 a 1945. Biografia de Gustavo Capanema». Consultado em 27 de novembro de 2017
- ↑ Capanema será sepultado às 16h (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 11/03/1985. Nacional, p. 06. Página visitada em 27 de novembro de 2017.
- ↑ Um político que nasceu com o século (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 11/03/1985. Nacional, p. 06. Página visitada em 27 de novembro de 2017.
- ↑ BRASIL. Câmara dos Deputados. «Biografia do deputado Gustavo Capanema». Consultado em 27 de novembro de 2017
- ↑ BRASIL. Senado Federal. «Biografia do senador Gustavo Capanema». Consultado em 27 de novembro de 2017
- ↑ BRASIL. Presidência da República. «Constituição de 1946». Consultado em 25 de novembro de 2017
- ↑ BRASIL. Presidência da República. «Lei n.º 4.737 de 15/07/1965». Consultado em 25 de novembro de 2017
- ↑ «Página oficial da Câmara dos Deputados». Consultado em 25 de novembro de 2017. Arquivado do original em 2 de outubro de 2013
- ↑ a b BRASIL. Presidência da República. «Lei n.º 9.504 de 30/09/1997». Consultado em 25 de novembro de 2017