Estação Ferroviária de Olhão
A Estação Ferroviária de Olhão é uma interface da Linha do Algarve, que serve a localidade de Olhão, no Distrito de Faro, em Portugal.
Olhão | |||||||||||
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a estação de Olhão, em 2010 | |||||||||||
Identificação: | 73106 OLH (Olhão)[1] | ||||||||||
Denominação: | Estação de Olhão | ||||||||||
Administração: | Infraestruturas de Portugal (sul)[2] | ||||||||||
Classificação: | E (estação)[1] | ||||||||||
Tipologia: | C [2] | ||||||||||
Linha(s): | Linha do Algarve (PK 349+951) | ||||||||||
Altitude: | 10 m (a.n.m) | ||||||||||
Coordenadas: | 37°1′49.01″N × 7°50′23.42″W (=+37.03028;−7.83984) | ||||||||||
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Município: | Olhão | ||||||||||
Serviços: | |||||||||||
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Conexões: | |||||||||||
Equipamentos: | |||||||||||
Endereço: | |||||||||||
Inauguração: | 15 de maio de 1904 (há 120 anos) | ||||||||||
Website: |
Caracterização
editarLocalização e acessos
editarEsta interface situa-se junto à Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, na localidade de Olhão.[3]
Infraestrutura
editarEsta interface apresenta duas vias de circulação, identificadas como I, II, e III, com comprimentos entre 134 e 185 m e acessíveis por plataforma de 110 m de comprimento e 685 mm de altura, não incluindo qualquer via secundária.[2] O edifício de passageiros situa-se do lado norte da via (lado direito do sentido ascendente, a Vila Real de Santo António).[4][5]
Serviços
editarEm dados de 2023, esta interface é servida por comboios de passageiros da C.P. de tipo regional tipicamente com treze circulações diárias de Faro a Vila Real de Santo António e doze no sentido oposto.[6]
História
editarAntecedentes
editarA primeira tentativa para construir um caminho de ferro no Algarve foi feita na década de 1870, tendo um alvará de 2 de Dezembro de 1878 autorizado a Companhia Portuguesa de Caminhos de Ferro do Sul a construir uma linha de Lagos a Vila Real de Santo António, passando perto de Olhão, onde teria uma estação.[7] No entanto, esta concessão foi anulada por uma portaria de 19 de Dezembro de 1893.[7]
Planeamento e construção
editarNos finais do século XIX, foram retomados os esforços para dotar o Algarve de uma rede ferroviária, através da continuação do Caminho de Ferro do Sul, de forma a facilitar os transportes tanto dentro da região como com outras zonas do país, especialmente Lisboa.[8] Em 1898, o engenheiro Pedro Inácio Lopes escolheu um local para a futura gare de Olhão, num ponto a Noroeste daquela vila, com um ramal para o cais de pesca.[9] Em Março desse ano, o Conselho Superior de Obras Públicas aprovou o projecto para o troço de Olhão a Faro, embora tenha ordenado que fosse estudada uma alteração ao traçado, de forma a aproximar a estação do cais da vila.[10] Em Abril de 1899, a autarquia de Olhão já tinha enviado uma representação ao Ministro das Obras Públicas, para pedir uma alteração ao traçado da via férrea, de forma a aproximá-la tanto quanto possível da costa, por motivos estéticos e para facilitar o transporte do pescado por caminho de ferro, no entanto, esta modificação aumentaria os custos porque faria a linha passar por várias propriedades importantes e por uma avenida em construção.[11]
Uma portaria de 21 de Novembro de 1902 aprovou o plano definitivo para a construção do segundo lanço da ligação ferroviária entre Faro e Vila Real de Santo António, estando incluída uma estação de segunda classe na localidade de Olhão, uma via férrea entre a estação e o cais da localidade, para o transporte de pescado, e uma plataforma rotativa na estação para acesso de vagonetas.[12][13]
Porém, pouco tempo após a aprovação do projecto, a Câmara Municipal de Olhão reclamou da localização da gare ferroviária, tendo sugerido um novo local a Norte da vila, a cerca de 500 m de distância do sítio original, e que se encontrava entre as Estradas Municipais 9 e 53.[9] A autarquia apontou várias razões de ordem estética, e argumentou que o novo local oferecia melhores acessos.[9] Em Dezembro desse ano, a autarquia enviou duas representações aos escritórios da Companhia dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, para defender a nova localização.[14] Esta questão dividiu a população da vila, com alguns habitantes do lado da autarquia, e outros a defender a localização original.[15]
A Direcção do Sul e Sueste chegou à conclusão que os custos de construção seriam idênticos em ambos os locais, e que nenhum oferecia maiores benefícios, em termos técnicos, sobre o outro; no entanto, o Conselho de Administração esteve contra a alteração do local da estação.[9] Esta questão foi discutida na sessão de 1902-1903 das Câmaras Legislativas, que teve lugar nos inícios de 1903.[16] Para resolver este problema, o governo ordenou a criação de uma comissão, por uma portaria de 7 de Fevereiro de 1903, no sentido de estudar as reclamações da autarquia e da população, e propor o local mais conveniente para os interesses locais e regionais.[15] A comissão reuniu-se no dia 11, tendo resolvido, por maioria, aceitar a solução da Câmara Municipal,[9] pelo que, em 12 de Fevereiro, o estado ordenou que a estação fosse construída no novo local.[15]
No dia 14 de Setembro do mesmo ano, teve lugar a arrematação para a empreitada da construção dos muros de vedação.[17]
Inauguração
editarA estação foi inaugurada a 15 de Maio de 1904, na presença de grande multidão.[18] Nesta época, a área onde se situava a estação ficava nos limites da vila, mas longe dos núcleos comerciais e industriais.[18] Em Agosto de 1904, previa-se para breve a abertura do troço seguinte, até à Fuzeta.[19] Com efeito, foi inaugurado em 1 de Setembro desse ano.[18]
Transição para a C.P.
editarEm 1927, os Caminhos de Ferro do Estado foram integrados na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, que iniciou um programa de remodelação da via e das gares nas antigas redes do Minho e Douro e do Sul e Sueste.[20] Em 1933, a Comissão Administrativa do Fundo Especial de Caminhos de Ferro aprovou obras de melhoramento das comunicações telefónicas, entre as estações de Olhão e Vila Real de Santo António.[21] No ano seguinte, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses executou grandes obras de reparação nesta estação.[22]
Movimento de mercadorias e passageiros
editarA partir do princípio da Primeira Grande Guerra, verifica-se uma redução no volume de mercadorias recebidas; em geral, reduzem-se as expedições de peixe nesta região, mas aumentam-se as de polvo.[23] Na segunda metade do século XX, verificou-se um aumento no movimento de mercadorias desta estação, em detrimento de Vila Real de Santo António.[24]
As principais mercadorias expedidas foram peixe congelado ou salgado em caixas de madeira, para todo o país,[25] especialmente Lisboa e a região Norte.[26] O peixe era levado desde os armazéns da vila até à estação em carros de mula, sendo depois transportado em comboios de mercadorias especiais.[26]
Em regime de pequenos volumes em grande velocidade, as principais expedições foram hortaliças e frutas (principalmente para Vila Nova de Gaia) (especialmente citrinos, na Primavera e no Outono, polvo (no Outono), azeite em embalagens e farinha e óleo de peixe (para Setúbal e Lisboa).[27] As principais mercadorias recebidas foram adubos, carvão e metais vários, vindos de Vila Real de Santo António, palha, materiais de construção (especialmente cimento), papel (vindo de Cacia) (principalmente no Outono), trigo de semente, batatas, óleos vegetais, arroz e cartão.[27]
Em termos de passageiros, esta foi uma das principais estações no Algarve, em movimento de veraneantes.[27] Nas deslocações regulares, verificou-se um elevado tráfego de passageiros entre esta estação e Faro, Fuzeta-Moncarapacho, Tavira e Monte Gordo.[27]
Século XXI
editarEntre Fevereiro e Maio de 2009, esta estação sofreu várias obras de remodelação e manutenção, por parte da Rede Ferroviária Nacional.[28]
Em Setembro de 2008, dois jovens foram capturados pela polícia nesta estação, suspeitos de um assalto na Estação Ferroviária de Boliqueime.[29]
Em 2007, a estação incluía três vias de circulação, tendo cada uma 275 m de extensão, e três plataformas, com 114, 100 e 65 m de comprimento.[30] Em Janeiro de 2011, já se tinham verificado modificações nas vias, passando as duas primeiras linhas a ter 253 m de comprimento, e a terceira, 190 m; as plataformas também foram alteradas, passando a apresentar 114 a 65 m de comprimento, e 30 e 20 cm de altura[31] — valores mais tarde[quando?] alterados para os atuais.[2]
Em 2010, a estação ferroviária de Olhão continuava a ser uma das principais em termos de movimento de passageiros, no Sotavento Algarvio.[32]
No dia 7 de Novembro de 2011, a Rede Ferroviária Nacional emitiu o Anúncio de procedimento n.º 5428/2011, que se refere a um contrato para várias obras no interior das estações de Olhão e da Fuseta; as intervenções incluem a substituição de travessas de madeira por betão, troca de carris defeituosos, reparação das passadeiras de madeira, e comutar os equipamentos de mudança de via.[33]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b (I.E.T. 50/56) 56.º Aditamento à Instrução de Exploração Técnica N.º 50 : Rede Ferroviária Nacional. IMTT, 2011.10.20
- ↑ a b c Diretório da Rede 2024. I.P.: 2022.12.09
- ↑ «Olhão - Linha do Algarve». Infraestruturas de Portugal. Consultado em 14 de Fevereiro de 2012
- ↑ (anónimo): Mapa 20 : Diagrama das Linhas Férreas Portuguesas com as estações (Edição de 1985), CP: Departamento de Transportes: Serviço de Estudos: Sala de Desenho / Fergráfica — Artes Gráficas L.da: Lisboa, 1985
- ↑ Diagrama das Linhas Férreas Portuguesas com as estações (Edição de 1988), C.P.: Direcção de Transportes: Serviço de Regulamentação e Segurança, 1988
- ↑ Horário dos Comboios : Vila Real de S. António ⇄ Lagos («horário em vigor desde 2022.12.11»). Esta informação refere-se aos dias úteis.
- ↑ a b «Há 40 anos» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 49 (1198). 16 de Novembro de 1937. p. 541-542. Consultado em 21 de Setembro de 2016
- ↑ TORRES, Carlos Manitto (1 de Fevereiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 70 (1683). p. 76-78. Consultado em 18 de Abril de 2019
- ↑ a b c d e «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (364). 16 de Fevereiro de 1903. p. 58-59. Consultado em 1 de Setembro de 2012
- ↑ «Há Quarenta Anos» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 50 (1206). 16 de Março de 1938. p. 154. Consultado em 21 de Setembro de 2016
- ↑ «Há 50 anos» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 62 (1472). 16 de Abril de 1949. p. 283. Consultado em 21 de Setembro de 2016
- ↑ «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (358). 16 de Novembro de 1902. p. 346-347. Consultado em 14 de Fevereiro de 2012
- ↑ «Olhão à Fuzeta» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (359). 1 de Dezembro de 1902. p. 366. Consultado em 14 de Fevereiro de 2012
- ↑ «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (361). 1 de Janeiro de 1903. p. 10-11. Consultado em 14 de Fevereiro de 2012
- ↑ a b c «Parte Official» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (364). 16 de Fevereiro de 1903. p. 51-52. Consultado em 1 de Setembro de 2012
- ↑ SIMÕES, J. de Oliveira (16 de Maio de 1903). «As vias ferreas no parlamento» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (370). p. 160-161. Consultado em 1 de Setembro de 2012
- ↑ «Arrematações» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (379). 1 de Outubro de 1903. p. 338-339. Consultado em 3 de Agosto de 2012
- ↑ a b c MARQUES, p. 391
- ↑ «Efemérides» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 51 (1228). 16 de Fevereiro de 1939. p. 135-138. Consultado em 21 de Setembro de 2016
- ↑ «Rêde do Sul e Sueste» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 47 (1127). 1 de Dezembro de 1934. p. 593-594. Consultado em 21 de Setembro de 2016
- ↑ «Direcção Geral de Caminhos de Ferro» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 46 (1102). 16 de Novembro de 1933. p. 601-602. Consultado em 1 de Setembro de 2012
- ↑ «O que se fez nos Caminhos de Ferro Portugueses, durante o ano de 1934» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 47 (1130). 16 de Janeiro de 1935. p. 50-51. Consultado em 21 de Setembro de 2016
- ↑ CAVACO, p. 438
- ↑ CAVACO, p. 357
- ↑ CAVACO, p. 251
- ↑ a b VALAGÃO et al 2018:176
- ↑ a b c d CAVACO, p. 436-438
- ↑ «Directório da Rede 2009». Rede Ferroviária Nacional. 3 de Abril de 2008. p. 103
- ↑ LINO, Mário (2 de Setembro de 2008). «Apanhados jovens que assaltaram turista alemão». Expresso. Consultado em 14 de Fevereiro de 2012
- ↑ «Directório da Rede 2007 - 1.ª Adenda». Rede Ferroviária Nacional. 26 de Junho de 2007. p. 75-87
- ↑ «Linhas de Circulação e Plataformas de Embarque». Directório da Rede 2012. Rede Ferroviária Nacional. 6 de Janeiro de 2011. p. 71-85
- ↑ ANTUNES, Filipe (19 de Janeiro de 2010). «Futuro da linha ferroviária do Algarve está nas mãos de Lisboa». Barlavento. Consultado em 14 de Fevereiro de 2012 [ligação inativa]
- ↑ PORTUGAL. Anúncio de procedimento n.º 5428/2011, de 7 de Novembro de 2011. Rede Ferroviária Nacional - REFER, E. P.. Publicado no Diário da República n.º 213, Série II, de 7 de Novembro de 2011
Bibliografia
editar- CAVACO, Carminda (1976). O Algarve Oriental: As Vilas, O Campo e o Mar. II. Faro: Gabinete de Planeamento da Região do Algarve. 492 páginas
- MARQUES, Maria; et al. (1999). O Algarve da Antiguidade aos Nossos Dias: Elementos para a sua História. Lisboa: Edições Colibri. 750 páginas. ISBN 972-772-064-1
- VALAGÃO, Maria; BRAZ, Nídia; CÉLIO, Vasco (2018). Vidas e Vozes do Mar e do Peixe 1.ª ed. Lisboa: Tinta-da-China. ISBN 978-989-671-461-1
Ligações externas
editar- «Página com fotografias da Estação de Olhão, no sítio electrónico Railfaneurope» (em inglês)
- «Página sobre a Estação de Olhão, no sítio electrónico da empresa Comboios de Portugal»
- «Página sobre a Estação de Olhão, no sítio electrónico Wikimapia»
- «Página sobre a estação de Olhão, no sítio electrónico Mapio»
- Estação Ferroviária de Olhão na base de dados SIPA da Direção-Geral do Património Cultural