Gaín Pañan e a Origem da Pupunheira
Gaín Pañan e a Origem da Pupunheira é um curta-metragem de animação tradicional em 35 mm com temática indígena brasileira,[3] que narra a lenda da origem da pupunheira — árvore nativa da Floresta Amazônica, segundo a mitologia dos Desana. Os personagens e cenários foram baseados em desenhos do artista indígena Feliciano Lana, reunidos em sua aldeia no noroeste do Amazonas em uma pesquisa realizada pela antropóloga Berta Ribeiro.[6][5]
Gaín Pañan e a Origem da Pupunheira | |
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Cartaz do filme | |
Brasil 1995 • cor • 9 min | |
Gênero | animação folclore |
Direção | Luiz Fernando Perazzo[1] Leonardo Boechat (Assistente de direção) |
Produção | UFRJ EMBRATEL (Patrocínio) FUJB (Apoio) |
Coprodução | CTAv/FUNARTE |
Produção executiva | Luiz Fernando Perazzo |
Roteiro | Lúcia Ferreira Reis (Roteiro original) Luiz Fernando Perazzo (Roteiro adaptado para animação) |
Baseado em | Gãĩpayã e a Origem da Pupunha, mito Desana[2] |
Narração | Fernando Mansur (em português brasileiro) Álvaro Tukano (na língua desana)[3] |
Música | Tina Pereira (Direção musical) |
Diretor de fotografia | Marcelo Marsillac |
Direção de arte | Luiz Fernando Perazzo |
Sonoplastia | Roberto Leite |
Edição | Amauri Alves |
Companhia(s) produtora(s) | Laboratório de Animação (CPM/ECO/UFRJ) |
Lançamento | 16 de outubro de 1995 (Escola de Comunicação da UFRJ)[4] 1 de novembro de 1995 (Cinemateca do MAM Rio)[5] |
Idioma | português desana |
O projeto do filme foi iniciado em maio de 1994,[6] e elaborado para fazer parte de uma série de desenhos animados baseados nas lendas que foram publicadas em um livro escrito por índígenas da etnia desana,[7] sendo realizado posteriormente pelo Laboratório de Animação da UFRJ — contando inicialmente com uma equipe de oito pessoas e cerca de 30 colaboradores na etapa final de produção.[6] O evento do seu lançamento foi realizado em outubro de 1995 no auditório da Escola de Comunicação da UFRJ,[4][8] juntamente com a exposição relativa ao projeto de produção do filme.[3][4][9] Assim sendo, o curta é considerado a primeira produção em animação de caráter essencialmente etnográfico realizada no Brasil por uma universidade pública, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).[10][5]
Antecedentes
editarDurante um trabalho de campo, realizado em 1978 para estudar o trançado indígena na região do Alto Rio Negro, a antropóloga Berta Gleizer Ribeiro foi apresentada a Luiz Gomes Lana, membro do povo Desana, e soube do seu interesse em produzir uma publicação com os mitos narrados por seu pai, Firmiano Arantes Lana,[7] para que esse conhecimento não fosse esquecido. Assim, Berta Ribeiro trabalhou nessa comunidade com Luiz Lana e seu pai, contribuindo para a elaboração de um livro de narrativas.[7][11]
Dois anos depois, em 1980, seria lançado oficialmente o primeiro livro de autoria indígena no Brasil[11] — e que seria referência para outros autores indígenas[12] —, Antes o Mundo Não Existia, de Umusĩ Pãrõkumu (Firmiano Arantes Lana) e Tõrãmʉ̃ Kẽhíri (Luiz Gomes Lana).[nota 1][nota 2]
Já em 1994, Berta Ribeiro participou da formulação conceitual de um projeto de curtas de animação que seriam integrantes de uma trilogia chamada Mito e Morte no Amazonas, baseada em mitos da etnia Desana. A série seria composta pelos filmes: Gaín Pañan e a Origem da Pupunheira, Bali Bó e O Começo Antes do Começo. Dos três, apenas o primeiro foi concretizado.[7]
A animação foi baseada em Gãĩpayã e a Origem da Pupunha, descrita segundo a mitologia desana no livro Antes o Mundo Não Existia,[2] que consiste na saga de um indígena que traz do mundo invisível dos peixes a pupunheira, árvore da Floresta Amazônica[5][6] e uma lenda do Alto Rio Negro. O filme foi roteirizado a partir da pesquisa antropológica de Berta Ribeiro[5] e teve sua concepção estética, dos personagens aos cenários, inspirada em 47 desenhos do artista indígena Feliciano Lana[5][3][6][14] — primo de Luiz Lana[15] —, e que faleceu em 2020 aos 83 anos, vítima da Covid-19.[16]
Sinopse
editarO curta Gaín Pañan e a Origem da Pupunheira, que relata em forma de animação,
(...) [um] mito do povo Desana do alto rio Negro, trata da saga de Gaín Pañan, o ancestral antropomorfizado dos periquitos, e da origem da pupunheira (Bactris Gasipaes) trazida por Gaín do mundo invisível dos peixes, o qual tinha como [oponente], chefe Pinlún — a grande cobra do rio. Gaín enfrentou uma série de desafios até plantar a pupunha no mundo visível dos homens. Pinlún, seu sogro, era o maior deles. Munú nomé (mulher piranha), behpe (aranha pajé) e o peixe iaká percebendo o seu sofrimento resolveram ir em seu socorro...
Produção
editarA Escola de Comunicação (ECO) e o Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFRJ, concederam apoio à produção do curta de animação.[3] O projeto foi financiado pela EMBRATEL, através de convênio firmado com a Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB),[17] que também apoiou a viabilização dos eventos correlatos — o lançamento do filme, exposição e a preparação do making off. O trabalho de filmagem e finalização ficou a cargo do coprodutor, o Centro Técnico Audiovisual (CTAv/FUNARTE).[3]
Coordenado na época pelo professor Luiz Fernando Perazzo,[nota 3] o antigo Laboratório de Animação da Central de Produção Multimídia (CPM) da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ) produziu o filme[5] — com a participação efetiva de professores, alunos de graduação e de animadores contratados[3] em todas as fases do planejamento e desenvolvimento do projeto da animação, que consistiu também o storyboard, montagem das cenas, criação das cores das tintas para pintura e a sonorização.[6]
Foram feitas duas versões da película: uma, narrada em português pelo radialista Fernando Mansur (apresentada com legendas em inglês e em francês) e outra, narrada na língua desana pelo líder indígena Álvaro Tukano (com legendas em português e em inglês).[5][3][6]
O curta de animação foi elaborado na técnica de acetato, com duração de 9 minutos e 36 segundos. A equipe de animadores e artefinalistas produziu e artefinalizou — do traço, xerox, limpeza, pintura e conferência dos originais — o montante de 3800 desenhos e 64 cenários, distribuídos entre 108 planos. A produção total do projeto, da concepção à finalização, durou cerca de um ano e três meses de trabalho.[5][3]
Trilha sonora
editarA pesquisa da sonoridade musical desana e a direção musical do curta ficaram a cargo da musicista Tina Pereira, falecida em 2008,[19] que ministrou workshops com a equipe de animação para a construção artesanal dos instrumentos musicais — feitos de materiais reutilizados/recicláveis e utilizados exclusivamente no projeto[5] — como também realizou ensaios técnicos para a criação conjunta da composição musical e dos ruídos do filme.[3]
A trilha sonora e a sonoplastia foram executadas e gravadas, posteriormente, em um estúdio profissional por componentes da equipe de animadores.[3]
Mostras e festivais
editarO filme foi apresentado nos seguintes eventos:
- Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (1995).[20]
- Anima Mundi (1996).[21][17]
- Mostra Cineastas de Escola (1996), no Cine Arte UFF.[22]
- Visões da Amazônia: Mostra de Cinema e Vídeo (1999), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB RJ).[10]
Audiovisual
editarO curta de animação encontra-se sob salvaguarda de acervo — no formato de fita VHS — nas seguintes instituições:[nota 4]
- Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo), na Universidade de Brasília, Distrito Federal.[23][24]
- Casa de Oswaldo Cruz (COC): Acervo bibliográfico, na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Rio de Janeiro.[10][25]
- BFI National Archive, do British Film Institute (BFI), Reino Unido.[26]
Créditos e equipe
editarSegundo as informações contidas no folheto do Laboratório de Animação CPM/ECO/UFRJ relativo ao filme, os créditos e a equipe técnica foram os seguintes:[3]
- Direção, Produção Executiva e Roteiro Adaptado para Animação: Luiz Fernando Perazzo.
- Argumento e Roteiro Original: Lúcia Ferreira Reis.
- Montagem: Amauri Alves.
- Cenários: Edson dos Santos.
- Direção de Fotografia: Marcelo Marsillac.
- Assistente de Direção: Leonardo Boechat.
- Direção Musical: Tina Pereira.
- Narração:
- Português: Fernando Mansur.
- Desana: Álvaro Tukano.
- Animadores e Artefinalistas: Aline Coelho, Eduardo Bordoni, Ivana Grebs, Leonardo Boechat, Manuel Magalhães, Otávio Leborato Guerra, Patrícia Amorim, Paula Corrêa, Renan de Moraes e Renata Quevedo.
- Artefinalistas: André Lacaz, Aline Girão, Andrea Durso, Andréia Brunstein, Cláudia Bezerra, Cristiane Azevedo, Edson dos Santos, Eva Sacramento, Fabiane Mandarino, Francisco das Chagas Barbosa da Costa, Jerry dos Santos Silva, José Roberto Machado, Luiz Fernando Perazzo, Marcela Boechat, Marcelo Veiga Penna, Maria Lúcia Pêgo, Marina Pantoja Boechat, Mary Braga, Moana Mavall, Regina Tavares Pereira, Sérgio Campante e Tatiana Teixeira.
- Música e Sonoplastia: Aline Coelho, Aline Girão, Andrea Durso, Andréia Brunstein, Leonardo Boechat, Luiz Fernando Perazzo, Manoel Magalhães, Marcela Boechat, Marcelo Veiga Penna, Marina Pantoja Boechat, Patrícia Amorim, Paula Corrêa, Regina Tavares Pereira, Renata Quevedo, Sérgio Campante e Tina Pereira.
- Roteiro e Direção do Making off: Ronaldo German.
- Truca: Ana Rita Nemer, Joaquim Eufrasino, Marcelo Marsillac e Sérgio Arena.
- Mixagem: Roberto Leite.
- Trancrição Magnética: Júlio Amaro e Gilson Rodrigues.
- Sala de Máquinas: Jorge Nascimento.
Ver também
editarNotas
- ↑ A primeira edição do livro (1980) com prefácio e notas de Berta Ribeiro, encontra-se esgotada; a segunda edição (1995) foi revista e ampliada pela antropóloga francesa Dominique Buchillet; e na terceira edição (2019) além de alterações no texto anterior, foram adicionadas novas ilustrações criadas pelo autor Luiz Gomes Lana.[13]
- ↑ No presente artigo, foi utilizada como referência a edição de 1995.[2]
- ↑ O professor Luiz Fernando Perazzo, já falecido, foi homenageado com o nome de um auditório localizado no prédio da Central de Produção Multimídia (CPM) da Escola de Comunicação da UFRJ.[18]
- ↑ A Escola de Comunicação da UFRJ chegou a disponibilizar versões digitalizadas e integrais do filme para download, mas o Wayback Machine não as dispõe em arquivo.[6]
Referências
- ↑ a b «Gaín Pañan e a origem da pupunheira § Base de Dados». Cinemateca Brasileira. N.d. Consultado em 7 de março de 2023
- ↑ a b c LANA, Firmiano Arantes; LANA, Luiz Gomes (1995). Antes o mundo não existia: mitologia dos antigos Desana-Kẽhíripõrã (PDF). Col: Narradores Indígenas do Rio Negro. 1 2.ª ed. São João Batista do rio Tiquié/São Gabriel da Cachoeira: União das Nações Indígenas do Rio Tiquié (UNIRT)/Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN). pp. 169–177. Consultado em 20 de outubro de 2021
- ↑ a b c d e f g h i j k l Gaín Pañan e a origem da pupunheira: Informativo sobre o filme de animação (folheto). Rio de Janeiro: Laboratório de Animação CPM/ECO/UFRJ. N.d.
- ↑ a b c Gaín Pañan e a origem da pupunheira: Exposição e lançamento do filme de animação (convite). Rio de Janeiro: Laboratório de Animação CPM/ECO/UFRJ. 1995
- ↑ a b c d e f g h i j «Animação Indígena» (DocReader). Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: Memória BD. 1 de novembro de 1995. Consultado em 25 de maio de 2024
- ↑ a b c d e f g h «Gaín Pañan e a origem da pupunheira: uma grande experiência da ECO com o desenho animado § Memória: animação». Rio de Janeiro: ECO/UFRJ. N.d. Consultado em 5 de fevereiro de 2022. Cópia arquivada em 9 de fevereiro de 2012
- ↑ a b c d VOGAS, Ellen Cristine Monteiro (janeiro–junho de 2014). «Berta Gleizer Ribeiro: da militância ao afeto, o percurso de uma antropóloga» (PDF). Campos dos Goytacazes: UENF. Terceiro Milênio: Revista Crítica de Sociologia e Política. 2 (1): 125, 126. ISSN 2318-373X. Consultado em 30 de novembro de 2021
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- ↑ PECEGO, Glória (30 de outubro de 1995). «Exposição: Gaín Pañan e a Origem da Pupunheira» (DocReader). Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: Memória BD. Consultado em 24 de maio de 2024
- ↑ a b c PENIDO, Stella Oswaldo Cruz (setembro de 2000). «O Cinema na Amazônia» (PDF). Rio de Janeiro: COC/FIOCRUZ. História, Ciências Saúde-Manguinhos. 6: 1111. ISSN 1678-4758. doi:10.1590/S0104-59702000000500015. Consultado em 28 de dezembro de 2021
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- ↑ «28° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (1995)». Metrópoles. N.d. Consultado em 16 de outubro de 2021
- ↑ «4.ª Mostra Internacional de Animação (Anima Mundi)» (catálogo). Rio de Janeiro: CCBB RJ. 1996. p. 29. Consultado em 31 de janeiro de 2022
- ↑ «Mostra Cineastas de Escola (Cine Arte UFF)» (DocReader). Revista Programa - Jornal do Brasil 235 ed. Rio de Janeiro: Memória BD. 1996. Consultado em 24 de maio de 2024
- ↑ Inventários dos arquivos pessoais de Darcy e Berta Ribeiro (PDF). Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro. 2011. p. 642. ISBN 9788563574138. Consultado em 21 de outubro de 2021
- ↑ «Memorial». Brasília: Fundação Darcy Ribeiro. N.d. Consultado em 23 de fevereiro de 2022
- ↑ «Acervo Arquivístico § Notícias». Rio de Janeiro: FIOCRUZ/Casa de Oswaldo Cruz (COC). 11 de setembro de 2013. Consultado em 21 de abril de 2024
- ↑ «Gaín Pañan e a origem da pupunheira § Collections» (em inglês). United Kingdom: BFI National Archive. 25 de abril de 1997. Consultado em 2 de fevereiro de 2022
Ligações externas
editar- Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ
- Central de Produção Multimídia (CPM) da Escola de Comunicação da UFRJ
- Fundação Darcy Ribeiro
- Casa de Oswaldo Cruz (COC)
- Instituto Socioambiental (ISA)