Governança ambiental na Amazônia

A governança ambiental na Amazônia, a qual visa preservar o seu ecossistema único, compreende uma multiplicidade de atores e instituições, incluindo governos, organizações não-governamentais, comunidades indígenas e tradicionais, e a iniciativa privada, inseridos em redes sociais complexas envolvidas na formulação e implementação de políticas ambientais. Estas redes são influenciadas pela dinâmica das relações de poder, pela posição ocupada pelos atores nestas redes e pela densidade destas, e que tipos de interação se produzem entre elas.

Pôr do sol na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (Amazonas).

Agentes

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Entidades governamentais

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Cabe aos governos federal e estadual o papel crucial de definir e implementar políticas ambientais, bem como fiscalizar sua aplicação. No âmbito do governo federal, o principal instrumento legal para uso da terra e proteção das florestas, é o Código Florestal Brasileiro, o qual define regras para as áreas de Reserva legal, Áreas de Preservação Permanente (APPs) e disciplina e exploração sustentável dos recursos florestais. Há ainda outro importante marco legal, o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, implementado em 2004, e que visa, além de combater o desmatamento, estabelecer medidas de ordenamento territorial, dentre outras.[1] A importância do PPCDAm pode ser avaliada ao constatar que até 2018, o desmatamento anual foi mantido abaixo de 8 mil km²; revogado em 2019, pelo governo Bolsonaro, ao que se somou o desmonte dos órgãos de fiscalização, em 2021 o desmatamento atingiu 13 mil km², algo que não ocorria desde 2006.[2]

Além do aspecto de formulação de políticas ambientais, cabe ao governo federal fiscalizar a região amazônica, principalmente através do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o qual a partir de 2019, sofreu além de uma crônica falta de recursos, pressão política para afrouxar o monitoramento.[3]

Finalmente, o governo federal financia projetos de conservação e desenvolvimento sustentável na região, através de iniciativas como o Fundo Amazônia, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).[4]

Organizações não-governamentais

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As organizações não-governamentais são responsáveis pela advocacy, monitoramento e implementação de projetos de conservação e sustentabilidade na região amazônica. Dentre estas, o WWF Brasil, Greenpeace, Instituto Socioambiental, Vozes pela Ação Climática Justa, dentre outros, fornecem apoio técnico e financeiro às comunidades locais, para que obtenham recursos da floresta através do manejo sustentável.[1]

Comunidades indígenas e tradicionais

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Detentoras do saber ancestral, estas comunidades são cruciais para a conservação da floresta e a manutenção da biodiversidade. As suas técnicas extrativistas, renegadas pela lógica predatória do sociedade de consumo, cada vez mais têm se mostrado como a alternativa mais viável para a preservação da Amazônia.[1]

Desafios à governança ambiental

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Dentre os desafios que dificultam a implementação de práticas sustentáveis, podem ser destacados o desmatamento, a exploração não sustentável ou ilegal de recursos naturais, as mudanças climáticas e a falta de financiamento para atividades econômicas ecologicamente sustentáveis.[1]

Desmatamento

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Constitui-se num dos principais desafios à sustentabilidade, visto que além de destruir os habitats naturais, contribui para a emissão de gases de efeito estufa, agravando as mudanças climáticas. Um estudo de 2019, concluiu que o desmatamento total ou parcial das três grandes florestas tropicais do mundo (bacia do Congo, Sudeste Asiático e Amazônia) causaria a elevação da temperatura do planeta em 0,7°C, equivalente a praticamente todo o aquecimento provocado pela ação humana desde o início da Revolução Industrial.[5]

Exploração de recursos naturais

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A exploração desenfreada, legal ou ilegal, de recursos naturais como a madeira, põe em risco a integridade da Amazônia, de sua biodiversidade, e das populações tradicionais que ali vivem. A mineração, seja de ouro ou de outros minérios, contamina rios e solos,[1] bem como os peixes que servem de alimento às populações locais.[6]

Mudanças climáticas

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Além de ser um desafio global, as mudanças climáticas afetam não somente a biodiversidade local como a vida das populações indígenas e tradicionais, impactados pelas mudanças nos padrões de precipitação que têm provocado secas intensas nos últimos anos.[7]

Estratégias de enfrentamento

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O enfrentamento aos desafios à governança ambiental na Amazônia, pressupõe fortalecer a ação do estado na região, particularmente através da fiscalização do IBAMA, multando e punindo com rigor os infratores, além de desenvolver estratégias de recuperação de áreas degradadas. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) devem servir como um paradigma a ser seguido, visando a preservação dos recursos naturais da floresta para as gerações futuras, bem como das comunidades tradicionais que dela e ali vivem.[1]

Outras práticas que podem ser adotadas, incluem os créditos de carbono, deduções pelo uso de energias renováveis e incentivos à pesquisa e desenvolvimento sustentável, além do uso de produtos reciclados.[1]

Ver também

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Referências

  1. a b c d e f g Simas, Danielle & Lima, Jonathas & Sales, Ricardo & Norte, Naira & Filho, Antônio & Filho, Erivaldo & Cavalcanti, Carla & Marinho, Eduardo & Júnior, Celso & Souza, Alcian & Justiniano, Jeibson & Junior, Albefredo & Lima, Neuton & Fernandes, Tais & Duarte, Evelyne. (setembro de 2024). «Governança ambiental: estrutura e desafios para a sustentabilidade na Amazônia». São José dos Pinhais. Contribuciones a las Ciencias Sociales. 17 (9). doi:10.55905/revconv.17n.9-162. Consultado em 11 de novembro de 2024 
  2. Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. «Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal». Consultado em 11 de novembro de 2024 
  3. Schreiber, Mariana (21 de abril de 2021). «Por que política ambiental de Bolsonaro afasta ajuda financeira internacional?». BBC News Brasil. Consultado em 11 de novembro de 2024 
  4. «Fundo Amazônia - Apoio ao Meio Ambiente». BNDES. Consultado em 11 de novembro de 2024 
  5. «Os desafios da Amazônia». Pesquisa FAPESP. Novembro de 2019. Consultado em 11 de novembro de 2024 
  6. Freitas, Alana (18 de abril de 2024). Universidade Federal de Lavras, ed. «Estudo inédito mostra que ingestão diária de mercúrio excede os limites seguros em seis estados da Amazônia». Portal da Ciência. Consultado em 11 de novembro de 2024 
  7. Poynting, Mark; Prazeres, Leandro (24 de janeiro de 2024). «Mudanças climáticas foram 'principal' fator para seca recorde na Amazônia, diz estudo: o que isso significa para o futuro da floresta?». BBC News Brasil. Consultado em 11 de novembro de 2024 

Ligações externas

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