Maria José Araújo
Maria José de Oliveira Araújo (Teofilândia, 1949), também conhecida como Mazé, é uma médica com atuação clínica na pediatria e na ginecologia, gestora pública, psicanalista e ativista feminista conhecida por ser uma das pioneiras do aborto legal no Brasil.[1]
Maria José Araújo | |
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Nome completo | Maria José de Oliveira Araújo |
Nascimento | 1949 (76 anos) Teofilândia |
Conhecido por | implementação do aborto legal no Brasil |
Alma mater | Faculdade Bahiana de Medicina Universidade Sorbonne |
Carreira médica | |
Ocupação | Pediatra Ginecóloga |
Biografia
editarInício de vida e estudos
editarMaria nasceu em Teofilândia em 1949, filha de um casal de classe média. Ela tem oito irmãos, três homens e cinco mulheres. Aos 8 anos, mudou-se para Salvador para estudar. Ela decidiu ser médica durante o ginásio, formando-se em 1975 pela Faculdade Bahiana de Medicina.[1]
Europa
editarMaria iniciou a residência em pediatria no Rio de Janeiro, mas ganhou uma bolsa de estudo para estudar saúde materno-infantil na Universidade Sorbonne, em Paris. Lá, envolveu-se com feministas pró-aborto e em 1977 criou o Círculo das Mulheres Brasileiras, grupo formado principalmente por mulheres que fugiram do AI-5, durante a Ditadura Militar. O grupo foi extinto em 1979, com a assinatura da Lei da Anistia. Enquanto estava na Europa, também morou na Suíça, onde trabalhou em um ambulatório feminista de atenção primária à saúde da mulher.[1]
Volta ao Brasil
editarMaria voltou ao Brasil nos anos 80, fundando em 1981 o Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde em São Paulo, que implementou pela primeira vez no país uma abordagem de cuidado centrada nos direitos humanos das mulheres e atenta às questões reprodutivas, obstétricas e ginecológicas.[2] Maria e outras feministas participaram da criação do primeiro serviço público de aborto legal do país, que era previsto no Código Penal desde 1940.[1] Maria visitou 11 ou 12 hospitais para fazer a proposta, com o Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, que mais tarde se tornaria uma referência no serviço, afirmando que ela planejava realizar aborto ilegal.[3] Em 6 de julho de 1989, durante a prefeita Luiza Erundina assinou a Portaria nº 692/89, que obrigou os hospitais públicos de São Paulo a realizarem o serviço.[4] Maria exerceu o cargo de Coordenadora da Área Técnica de Saúde da Mulher no Hospital Municipal Arthur Ribeiro Saboya, Zona Sul, que oferecia o serviço para mulheres vítimas de violência sexual. Ela era responsável por treinar os profissionais da área, desde o porteiro até o médico Por causa de seu trabalho, Maria foi ameaçada e teve a casa invadida e revirada. Maria também atuou em diversas esferas da gestão pública, incluindo no nível federal, até 2006.[1] Em 1991, ajudou a fundar a Rede Feminista de Saúde, pertence à Rede Médica Pelo Direito de Decidir.[2] Ela trabalhou para fortalecer o aborto legal no Brasil, conversando com entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Conselho Regional de Medicina (CRM) e o Poder Judiciário.[3] Também coordenou a Área Técnica de Saúde da Mulher no primeiro Governo Lula.[2] Poucas de suas políticas públicas foram implementadas, como a não exigência do boletim de ocorrência e laudo do Instituto Médico Legal (IML) para realizar o aborto.[1][2]
Aposentadoria
editarNos anos 2010, Maria mora na Bahia, onde ajuda a articulação para o fortalecimento do aborto legal no país. Em 2021 passou a integrar o Fórum Estadual Sobre o Aborto.[1]
Em 17 de maio de 2024, o pastor e deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) protocolou o Projeto de Lei 1904/2024, conhecido como PL do Aborto, que visa alterar o Código Penal para equiparar o aborto ao homicídio quando realizado após a 22ª semana de gestação. Ele escreveu de forma resumida a história de Maria, afirmando que seu colega e da área de ginecologia e obstetrícia, Jorge Andalaft Neto, escreveu em 1998 e 2005 normas contra o aborto na semana alegada. Maria posicionou-se contra o PL, afirmando que a comparação não era válida, já que em 2024 existiam métodos seguros para o aborto em estado avançado, como a assistolia fetal.[2]
Referências
- ↑ a b c d e f g Marília Moreira (28 de setembro de 2021). «Compromisso com vida da mulhere: Mazé e o primeiro serviço de aborto legal». Universa. Consultado em 14 de novembro de 2024. Cópia arquivada em 14 de novembro de 2024 – via Revista AzMina
- ↑ a b c d e Manuela Ferraro (25 de junho de 2024). «Médica que implementou 1º programa de aborto legal do Brasil diz que PL Antiaborto é 'aberração'». Folha de S.Paulo. Consultado em 16 de novembro de 2024. Cópia arquivada em 16 de novembro de 2024
- ↑ a b Manuela Ferraro (25 de junho de 2024). «Médica que implementou 1º programa de aborto legal do Brasil diz que PL Antiaborto é 'aberração'». Jornal de Brasília. Consultado em 16 de novembro de 2024. Cópia arquivada em 16 de novembro de 2024 – via Folhapress
- ↑ Colás, Osmar Ribeiro (2021). «Resgate histórico do primeiro programa público de interrupção da gestação por estupro no Brasil» (PDF). Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Feminina. 49 (3): 183-6. Consultado em 16 de novembro de 2024