Terra Indígena Alto Tarauacá
Alto Tarauacá é uma terra indígena (TI) na Amazônia Legal com área de 142.600 hectares, localizada no vale do Alto Juruá, no sudoeste do estado brasileiro do Acre,[1] próximo a fronteira com Peru.[2] É habitada por vários grupos indígenas isolados,[1][3] de etnias desconhecidas que são possivelmente jaminawá-pano ou aruák,[1][4][5] identificados com a denominação genérica Isolados do Alto Tarauacá,[6][7] com uma população estimada de 600 pessoas (1998).[1]
Terra Indígena Alto Tarauacá | |
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Localização | Região Norte do Brasil |
País | Brasil |
Estado | Acre |
Povos | Povos isolados |
Em 2007, os povos tradicionais, incluindo os indígenas, foram reconhecidas pelo governo brasileiro, através da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT),[8][9][10][11][12] por terem o modo de vida ligado aos recursos naturais e ao meio ambiente de forma harmônica e o uso comunitário da terra.[8][13] Reafirmando aos indígenas o direito a sua terra tradicional e a proteção governamental.[14] Assim a Fundação Nacional dos Povos Indígenas atua nesta TI através da Coordenação Regional "Juruá" e do Distrito Sanitário Especial Indígena "Alto Rio Juruá".[2]
O estado do Acre é marcado por uma grande parte de sua área representada por áreas naturais protegidas como Terras Indígenas (TI) e Unidades de Conservação (UC).[15] São 35 TI reconhecidas pelo governo federal, mas 24 plenamente regularizadas; com demarcações físicas homologadas pelo presidente e cadastradas na Secretaria de Patrimônio da União (SPU) e registradas nos cartórios das comarcas.[15]
Distribuição municipal
editarEsta TI está distribuída em dois municípios do estado brasileiro do Acre:[2]
Município | Área municipal (ha) | TI no município (ha) |
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Feijó | 2 797.542 | 56 614,36 (39,70%) |
Jordão | 535.728 | 86 481,59 (60,64%) |
História
editarA regularização fundiária indígena ocorre quando a TI é habitada permanentemente, é local de reprodução físico-cultural e, local de atividades produtivas.[16] Então a Funai faz o relatório de identificação através do grupo técnico; então o Ministro da Justiça declara os limites da região e a demarcação; a Funai faz a demarcação que e homologada pelo presidência brasileiro; por fim é cadastrada na Secretaria de Patrimônio da União e nos cartórios municipais.[16][17]
A TI Alto Tarauacá é tradicionalmente ocupada por vários grupos isolados[1][3] (sem contato sistemáticos com a população regional no entorno)[1] ao longo da fronteira Brasil-Peru existem áreas de ocupação importantes para a sobrevivência e reprodução cultural de grupos isolados, nos rios Tarauacá, Envira, d’Ouro, Imbuia, Xinane, Jordão, Muru e, Humaitá, à margem direita do rio Juruá.[1]
A presença histórica/tradicional nestas terras, está amplamente comprovada nos relatórios técnicos e processos de referência do Departamento de índios Isolados da FUNAI (DEII/DAS) e, em textos do francês Constant Tastevin e do historiador acreano José Brandão Castello Branco Sobrinho, nos relatórios de inspetores do antigo Serviço de Proteção aos índios (SPI), nos depoimentos de antigos seringalistas/seringueiros e de idosos kaxinawá e ashaninka.[1] De acordo com o médico João Braulino de Carvalho, da Comissão de Limites Brasil/Peru na década de 1920, o alto Envira era então habitado por marinawa (rio Furnanha), jaminawa (rio Jaminauá), xaranawa (igarapé Riozinho) e, tutxinawa (igarapé Progresso).[1]
Não há uma denominação oficial para os povos indígenas que habitam esta TI, apesar das múltiplas tentativas de lhes atribuir um nome, como 'Papavo'; 'Yumbanawa', 'Chenenawa', 'Contanawa', 'Mainawa', 'Machanawa' e 'Amauaca'; 'Jaminawa' (índios Kaxinawá do rio Jordão); 'Paranawa' (seringueiro do alto rio Tarauacá); 'brabos'; e 'Masko'.[1] Estes povos usam estas terras em atividades de caça, pesca, coleta e, também saqueiam aldeias vizinhas como Kaxinawá, Kulina e Kampa (Ashaninka) e casas de seringueiros dentro dos limites territoriais.[1]
O primeiro povo isolado da TI tem aldeamento nas cabeceiras do igarapé Imbuia (afluente do alto rio Envira), o marco 34 da fronteira internacional; o segundo povo está situado entre as cabeceiras dos rios Muru e Humaitá, vizinho a terra indígena Kaxinawá do Rio Humaitá; o terceiro está nas cabeceiras do igarapé Papavô (afluente esquerdo do alto rio Jordão) e no território peruano, onde se desloca com para a nascentes dos rios Jordão e Tarauacá; um quarto grupo ocupa a região entre o rio Envira e as cabeceiras do igarapé Riozinho (afluente direito), nas terras indígenas Kampa e dos Isolados do Rio Envira e Isolados do Xinane;[1] os kaxinawá estão no alto rio Tarauacá com os kontanawa, no alto rio Muru com os kulína e, também no igarapé Iboiaçu; no rio Humaitá estão os: arara, ararapina, kontanawa, kaxinawá, jaminawa e, tuxinawa; no alto rio Envira estão os: kaxinawá, jaminawa, kulína, katukína, aninawa, ararawá e, kapanawa; e no rio Furnanha (ou Furnaya) estão os marinawa e tuxinawa.[1]
Em 27 de Outubro de 2004, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a homologação da demarcação administrativa do Alto Tarauacá.[18]
Em maio de 2010, a Comissão de Direitos Humanos da ONU e a Funai fizeram reunião na cidade brasileira de Brasília, sobre a elaboração de políticas de proteção indígena.[19] Pois no Brasil a Funai informa ter 69 locais na Amazônia onde existam índios isolados ou de contato recente, que são acompanhadas por doze Frentes de Proteção Etnoambiental da organização.[19] Estes são cercadas por várias pressões, como madeireiros, garimpos, desmatamento e, epidemias, entáo o contato com essas populações deve ser evitado (ou intermediado por equipes preparadas).[19]
Assim na reunião com a ONU e Funai, lingüistas, antropólogos, sociedade civil, médicos e, sertanistas, falaram sobre a experiência brasileira de cuidado com os povos isolados ou de recente contato e os desafios que enfrentam no Brasil.[19] O país foi o primeiro a demarcar Terras Indígenas para o exclusivo por um povo em isolamento voluntário (sem contato com a sociedade "moderna"), como as TI Terra Indígena Massaco, Alto Tarauacá e Hi-Merimã, protegidos do avanço econômico do entorno pelas Frentes de Proteção Etnoambiental Guaporé e Rio Envira.[19] A Comissão de Direitos Humanos da ONU percebeu que os indígenas isolados exigem um tratamento especial. Assim surgiu a proposta das diretrizes que devem nortear a ação indigenista dos países signatários.[19]
Ameaças
editarNa década de 1870, com a navegação a vapor e o ciclo da borracha no rio Juruá, aparece seringais nas áreas do rio Tarauacá até o Muru.[1] Em 1889 o seringueiros chegam no trecho acreano do rio Envira, três anos depois alcançam à foz do rio Jaminauá.[1] Em 1900 chegam a foz do rio Jordão, três anos depois alcançam o alto rio d’Ouro após batalhar com os kontanawa e satanawa.[1] Nove anos depois os seringalistas do alto Tarauacá ainda buscavam ajuda de Felizardo Cerqueira para a defendesa contra os papavo.[1] Acompanhado por kaxinawá do igarapé Iboiaçu o mateiro estabeleceu sede à margem do igarapé Formoso (afluente esquerdo do alto Tarauacá), e em Revisão o último seringal do rio Jordão (atual "Novo Segredo"), que garantiu a segurança dos seringalistas contra os indígenas.[1]
No período seguinte, os índios da região foram vítimas de expedições armadas dos seringalistas, levando os indígenas pelas cabeceiras dos remotos afluentes e tributários dos grandes rios, onde uma parte foi contactada forçosamente por servos desses seringalistas na década de 1950.[1] Nos últimos vinte anos, a pilhagem/furto feito pelos grupos isolados tem levado a violentos confrontos com seringueiros no alto rio Tarauacá e também com os kaxinawá do rio Jordão e com os kampa do rio Envira.[1]
Em 2015, uma das lideranças Ka’apor desta TI sofreu um atentado quando visitava uma das oito áreas de proteção criadas para impedir os exploradores ilegais (na aldeia Ypahurenda).[20] Este indígena estava dirigindo uma motocicleta, então foi perseguido e dispararam com arma sobre ele.[20]
Atualmente a TI ainda é alvo de extrativistas, madeireiros,[7][21] posseiros[21][22] e, seus povos são ameaçados por caçadores.[22]
Na região transfronteiriça Brasil-Peru (Acre, Ucayali e, Madre de Dios) existem muitas as ameaças, como as aberturas de estradas/ramais, a exploração madeireira, a caça/pesca ilegal, o tráfico, a pressão da exploração madeireira legalizada nos “Bosques de Produção Permanente” e, a pressão da exploração de petróleo/gás concedidos pelo governo peruano as empresas.[21] E devido essas pressões, principalmente a partir de 2006, os povos isolados que vivem nesta área transfronteiriça foram forçados a ir para as áreas protegidas no Acre, principalmente próximo aos rios como: o Envira, onde estão as TI Alto Tarauacá, Kampa e Isolados do Rio Envira e, Riozinho do Alto Envira; os Jordão e Humaitá, onde estão as TI Kaxinawá do Rio Jordão e, Kaxinawá do Rio Humaitá.[21] No início do século XXI, os avistamentos e saques feitos pelos isolados têm aumentado nestas TI e nas moradias dos não indígenas do entorno, além de ocorrer conflitos entre os grupos isolados.[21] Causando reordenamentos territoriais e o no próprio contato dos isolados, registrado em junho de 2014 pela Frente de Proteção Etnoambiental do Envira (FPEE).[21]
Organizações
editarDuas organizações indigenistas atuam nesta área: Associação das Mulheres Huni Kuin do Jordao - Ainbu Daya e; Organização dos Povos Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia (OPIN).[2]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t Processo FUNAI/BSB/1607/98. Referência: Terra Indígena JAMINAUÁ/ENVIRA. Projeto Integrado de Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL) (PDF). [S.l.]: Ministério da Justiça do Brasil e Fundação Nacional dos Povos Indígenas. 2000. Resumo divulgativo
- ↑ a b c d «Terra Indígena Alto Tarauacá | Terras Indígenas no Brasil». terrasindigenas.org.br. Consultado em 26 de novembro de 2024
- ↑ a b Ferraz, Lucas (30 de maio de 2008). «Funai divulga fotos de índios isolados que vivem no AC». Folha de S. Paulo. Consultado em 21 de outubro de 2024
- ↑ Pereira Neto, Antônio; Aquino, Terri Vale de (18 de abril de 2000). «RESUMO DO RELATÓRIO DE IDENTIFICAÇÃO E DELIMITAÇÃO DA TERRA INDÍGENA ALTO TARAUACÁ» (PDF). Diário Oficial da União. Coletânia de Documentos da Terra Indígena Alto Tarauacá: 20-3. Consultado em 21 de outubro de 2024
- ↑ Vaz, Antenor (2011). Isolados no Brasil: política de estado: da tutela para a política de direitos - uma questão resolvida? (PDF). Col: Informe IWGIA 10. Copenhagen: Instituto de Promoção Estudos Sociais, Editora (International Work Group for Indigenous Affairs, IWGIA). ISBN 978-87-91563-94-2. OCLC 1090089165. Resumo divulgativo
- ↑ «Isolados do Alto Tarauacá». Instituto Socioambiental
- ↑ a b «Relatório - Violência contra os povos indígenas no Brasil - Dados de 2015» (PDF). MPF. ISSN 1984-7645. Consultado em 21 de outubro de 2024
- ↑ a b «Comunidades dos Povos Tradicionais se manifestam após pedido de ruralistas pela suspensão dos processos de demarcação de territórios tradicionais». Instituto Memorial Chico Mendes. Consultado em 5 de novembro de 2024
- ↑ «DECRETO Nº 6.040: Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.». Câmara dos Deputados do Brasil. Consultado em 5 de novembro de 2024. Resumo divulgativo
- ↑ «Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007». Observatório de Educação. Consultado em 5 de novembro de 2024
- ↑ «Comissão de Agroecologia reafirma direitos dos povos e comunidades tradicionais e defende Decreto 6040». Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO). 24 de agosto de 2018. Consultado em 5 de novembro de 2024
- ↑ «Descubra quais são os 28 povos e comunidades tradicionais do Brasil». Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (Cedefes). Consultado em 12 de agosto de 2022
- ↑ «Os Faxinalenses são grupos sociais que compõe territórios específicos da região Centro e Centro-Sul do Estado do Paraná». Instituto Arvoredo Brasil. Consultado em 23 de janeiro de 2016. Arquivado do original em 29 de janeiro de 2016
- ↑ «Funai repudia declarações equivocadas e reafirma compromisso com a proteção dos direitos indígenas e a segurança de seus servidores». Ministério dos Povos Indígenas do Brasil. 2 de novembro de 2024. Consultado em 6 de novembro de 2024
- ↑ a b «Terras Indígenas do Acre» (PDF). Comissão Pró-Indígenas do Acre (CPI-Acre). Consultado em 24 de outubro de 2024. Resumo divulgativo
- ↑ a b «Como funciona a Demarcação? | Terras Indígenas no Brasil». TerrasIndígenas.org. Consultado em 22 de outubro de 2024
- ↑ «Terras Indígenas do Acre» (PDF). Comissão Pró-Indígenas do Acre (CPI-Acre). Consultado em 24 de outubro de 2024. Resumo divulgativo
- ↑ «DECRETO DE 27 DE OUTUBRO DE 2004.». Dnn 10335 - Planalto. 27 de outubro de 2004. Consultado em 21 de outubro de 2024
- ↑ a b c d e f «Encontro sobre índios isolados discute política internacional de proteção | Acervo | ISA». acervo.socioambiental.org. Consultado em 29 de novembro de 2024
- ↑ a b RELATÓRIO Violência contra os povos indígenas no Brasil, DADOS DE 2015 (PDF). [S.l.]: CIMI. 2015. ISSN 1984-7645
- ↑ a b c d e f Ricardo, Fany; Fávero Gongora, Majoí, eds. (2019). Cercos e resistências: povos indígenas isolados na Amazônia brasileira (PDF). C3L00002 1a edição ed. São Paulo: Instituto Socioambiental. ISBN 978-85-8226-073-9. OCLC 1124955605. Resumo divulgativo
- ↑ a b «Funai acha índio assassinado e castrado no Acre». Folha de S. Paulo. 31 de agosto de 2000. Consultado em 21 de outubro de 2024